O livro com o sugestivo título “Subitamente no Cacimbo” é um romance representando a recriação literária de uma realidade brutal, doentia, pavorosa, que foi e ainda é vivida por todos nós e recusada por muitos
POR: Augusto Nunes
A obra publicada pela Caxinde – Editores e Livreiros foi apresentada ontem no Espaço Verde Caxinde–Sukara em Luanda, pelo também escritor e jornalista, Nok Nogueira. Tem 116 páginas e fala da mudança de paradigma, destacando uma nova geração de políticos que foi substituindo a dos “Pais da Independência” por alegada má condução, injustiças, causando divisões profundas na sociedade angolana, que a tornou mais pobre, miserável e “sem terra”, levando grande parte dos artistas ao silêncio. Neste seu novo romance, Jacques dos Santos, faz uma incursão, realçando no tempo e diz, Angola transformara-se, voltando a lembrar Agostinho Neto, aquando de uma discurso em Cartum (Sudão), referindo-se ao nosso Continente, “num corpo inerte onde cada abutre vinha debicar o seu pedaço”.
Jacques dos Santos, cuja militância política, cívica e intelectual nunca esteve em causa, faz parte dos poucos que, nas múltiplas vertentes da Cultura, escolheu o caminho que a sua consciência determinava. E na Literatura em particular, assim como nas colunas de opinião que assina há décadas, nunca deixou de alertar, de chamar a atenção, de denunciar o que lhe parecia (e parece…) estar errado. O escritor não faz mais do que cumprir um legado, mantendo-se fi el aos que, há anos e anos deram o sinal de partida. Por ser fiel a si próprio. Aos seus. À sua caminhada. Ao seu passado. E ao futuro. Jurou ajudar a construir para as gerações vindouras.
Construção narrativa
Nok Nogueira, o escritor a quem coube a apresentação da obra, sublinhou que “ao folhearmos o livro e antes de procedermos a uma análise exaustiva nos meandros da construção narrativa de “Subitamente no Cacimbo”, sentimo-nos tentados a contextualizar as inquietantes conclusões do autor Filipe S. Fernandes sobre a concentração de recursos em África”, citação que Jacques Arlindo dos Santos elege como nota introdutória para este livro, de modo provocador. Explicou que a obra, alimentada, por um lado, pelos longos intervalos de leitura introspectiva do empresário e cidadão britânico, o livro sugere ao leitor um posicionamento auto-crítico relativamente à forma como o poder político conduziu os destinos do país e como um pequeno discurso consegue desferir um golpe a uma classe que se julga detentora do direito de, em nosso nome, responder de modo arrogante e exclusivamente pela riqueza do país.No plano narrativo, “Subitamente no Cacimbo” é, no seu entender, um livro com várias intermitências que, ao olhar simplista do leitor, pode parecer uma descontinuidade ditada pela lei do menor esforço do seu autor, mas não. Ainda em seu entender, estas intermitências devem-se sobretudo à necessidade de introdução de personagens que mudam a cadência narrativa mas que em nada lhe retira a intensidade narrativa.
O autor
Jacques Arlindo dos Santos, nasceu na aldeia de Dala – Uso, em Calulo, no Libolo, província do Cuanza- Sul, no dia 6 de Outubro de 1943. Profissional de seguros reformado, foi Presidente da Associação Cultural e Recreactiva Chá de Caxinde, do qual é membro fundador, de 1989 a 2016. Exerceu a função de director do mensário cultural “O Chá”. É escritor, cronista e também livreiro, e ainda membro da União dos Escritores Angolanos, da ADRA e da Associação Tchiweca de Documentação. Em 2004, foi distinguido com o título de Grande Oficial da Ordem do Rio Branco, comenda outorgada pela Embaixada do Brasil em Angola.
Obras publicadas
Casseca-Cenas da Vida em Luanda (1993), Chove na Grande Kitanda (1996), ABC do Bê Ó (1999), Berta Ynari ou o Pretérito Imperfeito da Vida (Grande Prémio Sonangol de Literatura de 2000), Kasakas & Cardeais (2002), 101 Crónica Deste e de Outro Tempo (2017) e NGHÉ- RI-HI? (Maka da Grande Família) (2017).