“Serpentes de Angola, uma Visão Toxinológica e Clínica dos Envenenamentos”, é o título do livro de natureza académico-científico que apresenta géneros de serpentes venenosas mais comuns em Angola e de maior importância médica
Miguel José, Em Malanje
Esta obra científica procura transmitir uma maior visão clínica e terapêutica aplicável ao país, para o seu tratamento com base em casos clínicos relatados nas literaturas e que podem ser extrapolados para a realidade de Angola. No acto de lançamento, que aconteceu na Faculdade de Medicina da Universidade Lueji A’ Nkonde, perante a comunidade académica e a sociedade malanjina, Paula Regina de Oliveira fez saber que a concepção do livro se deve às pesquisas realizadas nas províncias de Malanje, Cuanza-Sul, Benguela e Huíla.
A predisposição de escrever sobreveio por verificar que a primeira obra que referia a distribuição de serpentes em Angola, data do ano de 1895, escrita por Barbosa de Bocage “Herpétologie d’Angola et du Congo” e por sentir um vazio no conhecimento na atitude clínica a ter quando os acidentes ofídicos ocorreram durante e após a sua formação.
A autora revelou que a percepção por meio da estatística apurada no Centro de Investigação e Informação de Medicamentos e Toxicologia (CIMETOX), em relação a letalidade que apresentava as morde do duras de serpentes, despertou, em si, o interesse para contribuir para a minimização do sofrimento das populações rurais. Segundo a médica, a população rural é a que, diariamente, vive e convive com aquela que é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como sendo a mais negligenciada, dentre as doenças tropicais.
“Esta obra constitui um modesto contributo para o nosso país, tendo sido um desafio para mim por ter sido escrito, em concomitância, com a minha tese de doutoramento e durante todas as fases que nortearam a referida pesquisa, quer no campo, quer laboratorial e experimental”, refere. O livro aborda a toxinologia (compreende o estudo de venenos), fala um pouco daquilo que são as estatísticas mundiais, em África e em Angola.
Aborda também questões inerentes à distribuição das serpentes de maior importância médica em Angola, o tipo de bioquímica de cada veneno e a farmacologia dos mesmos. A investigadora menciona que em muitas regiões do mundo a morbi-mortalidade por mordeduras de serpentes é relevante.
O envenenamento de ofídicos constitui uma séria condição médica que afecta, primariamente, as comunidades rurais em África, América Latina, Ásia e Nova-Guiné, refere Paula Regina de Oliveira.
No entanto, sublinha que das 3 mil espécies de serpentes conhecidas, apenas uma pequena percentagem é venenosa, portanto, potencialmente perigosa para o homem.
“Em Angola é difícil estabelecer dados estatísticos que possam aferir dados fiáveis, porque a mordedura de serpente, não é uma doença de verificação obrigatória e além do mais, as ocorrências de casos nas comunidades limitamse ao tratamento caseiro, fora do conhecimento das instâncias sanitárias”, explica.
No maior estudo feito até agora, em 2008, por Kasturinata Etol, Paula de Oliveira, acrescenta que Angola infelizmente por ter dependido das estatísticas de países vizinhos, acabou por estar na região 18, onde há uma estimativa anual, que vai de 256 a 3 mil e 83 casos de morte, por 100 mil habitantes.
Porém, trata-se de uma estimativa bastante alta e para aferir sobre a validade da estatística, impõe que se torne uma doença de notificação obrigatória e só então começar a apresentar estatística nacional.