Trata-se de Agostinho Neto, José Afonso e Manuel Alegre que por ocasião de mais um Dia Mundial do Livro, a assinalar-se a 23 deste mês, vão contar com uma revisita às suas obras, com leituras das respectivas biografias e extratos dos seus escritos
A iniciativa que terá como palco a biblioteca do Camões Centro Cultural Português em Luanda, no dia Mundial do Livro, a partir das 10 horas da manhã, visa assinalar a efeméride através da revisita dessas vozes poéticas, que partilham nas suas obras valores e princípios, que estiveram na base da “Revolução dos Cravos”, ocorrida a 25 de Abril de 1974, em Portugal.
A nota divulgada pelo Camões, realça que essas vozes estiveram ao lado dos que lutaram para derrubar o antigo regime, abrindo as portas à Liberdade, à Paz, à Democracia e ao fim do colonialismo.
“Estas ‘Vozes Poéticas do Mundo’, que partilham valores universais de Liberdade e Justiça colocaram o seu talento criador ao serviço da causa maior da Liberdade”, lê-se no documento.
Os homenageados
António Agostinho Neto nasceu na aldeia de Kaxicane, região de Icolo e Bengo, actalmente adstrita a província de Luanda. Ao concluir o curso liceal nesta mesma cidade (Luanda), viria a tornarse rapidamente uma figura proeminente do movimento cultural nacionalista que na década de quarenta conheceu uma vigorosa expansão em Angola.
Mudou-se para Portugal em 1947, para estudar Medicina na Faculdade de Medicina de Coimbra, e posteriormente na de Lisboa. Envolve-se, desde muito cedo na actividade política, sendo preso em 1951, quando reunia assinaturas para a Conferência Mundial da Paz em Estocolmo.
Após a sua libertação, retoma a actividade política, tornando-se representante da Juventude das colónias portuguesas junto do Movimento da Juventude Portuguesa, o MUD juvenil. Em Fevereiro de 1955 é novamente preso pela PIDE (Polícia Política) e, em Junho de 1957, é libertado.
Em Dezembro de 1962 foi eleito presidente do MPLA durante a Conferência Nacional do Movimento. Em 1970, foi-lhe atribuído o Prémio Lótus, pela Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos. Com a “Revolução dos Cravos” em Portugal e a derrocada do regime fascista de Salazar, em 25 de Abril de 1974, Agostinho Neto regressa à Luanda no dia 4 de Fevereiro de 1975, sendo alvo da mais grandiosa manifestação popular de que há memória em Angola. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, foi eleito pelos seus pares primeiro Presidente da República, em 1975, ano em que proclamou, perante a Africa e o mundo, a Independência de Angola, a 11 de Novembro.
José Afonso
Cantor, compositor e poeta, foi um dos expoentes da canção de intervenção na luta contra o regime de Salazar. Os seus temas propagavam-se clandestinamente como uma bandeira de “resistência” e um hino à liberdade que alimentavam a esperança de mudança.
A sua voz ampliou-se com efeito catalisador junto da juventude, particularmente estudantil, e segmentos intelectuais e operariado. Para além de toda a sua vasta obra, o seu nome ficou indelevelmente ligado ao 25 de Abril, dado o seu tema “Grândola Vila Morena” ter servido de “senha” para o golpe militar protagonizado pelos “Capitães de Abril” que ficou conhecido como “Revolução dos Cravos”, por não terem sido usadas as armas de fogo.
Manuel Alegre
Natural de Águeda, cidade portuguesa situada na sub-região do Baixo Vouga (Região Centro) estudou Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde foi dirigente estudantil.
Em 1962 foi mobilizado para Angola como oficial miliciano, tendo sido preso pela polícia política por se recusar participar na guerra colonial. Depois de, em 1963, ter regressado a Coimbra, sob residência fixa, consegue, no ano seguinte, desertar. Viveu em Paris até 2 de Maio de 1974, e, mais tarde, em Argel, onde foi locutor da emissora “Voz da Liberdade”. Regressa à Portugal depois da Revolução de Abril de 1974.
A sua vasta obra literária iniciou-se com o livro “Praça da Canção” (1965). Era um dos nomes mais conhecidos de uma geração coimbrã (1963-1965) ligada à colecção Cancioneiro Vértice, que publicou poesia intitulada “Poemas Livres”.
A sua poesia circunstancial, por vezes criada com o intuito de ser recitada e até musicada, inspira-se, na primeira fase, na luta contra a ditadura, no exílio e na guerra colonial. Por isso, alguns poemas seus tornaram-se canções de lamento e revolta de uma geração, como foi o caso de “Trova do Vento que Passa” ou “Canção com Lágrimas e Sol”.