Os músicos da província de Manica, no centro de Moçambique, que foram convidados para fazer parte do IV Festival Turístico e Cultural em Chimoio, abandonaram o evento que começou Sexta-feira e terminou ontem.
Eles alegaram falta de consideração e reconhecimento por parte do sector da Cultura e Turismo local. Os artistas mostraram-se visivelmente revoltados pelo facto de o sector estar a tratá-los mal, dando primazia aos artistas oriundos de Maputo e do país vizinho Zimbabwe, conforme relataram.
“Em todas as datas comemorativas, nós somos convidados para abrilhantar as festividades, não convidam músicos forasteiros porque esses eventos são grátis. Mas quando há dinheiro, somos esquecidos, menosprezados e colocados fora do circuito, facto que nos deixa agastados”, disse Alexandre Domingos, responsável da banda Pedra Angular. O cenário também não agradou ao músico Djipson Mussenze, que faz parte da comissão organizadora do evento. “Somos figuras da província, mas com o que está a acontecer posso dizer que este é um “show” qualquer, não um festival como estão a dizer”.
Ainda segundo Mussenze, “as coisas aqui estão mal no que diz respeito à organização, consideração e tratamento dos artistas”. O músico revelou que, durante a preparação, “houve muitas promessas de coisas boas para os locais”. No entanto, “chegado o dia, a coisa ficou totalmente remodelada. Os artistas locais não foram pagos, o que não deveria ter acontecido. Não há bom relacionamento entre os músicos locais e o Governo”.
Acordo não foi cumprido
Outro membro da comissão organizadora do evento, em representação dos músicos Simate Mapope, também lamentou a atitude do sector da Cultura e Turismo de Manica pela alegada falta de consideração. Segundo Mapope, havia um acordo entre os músicos e as autoridades provinciais para que, durante o evento, eles pudessem apresentar os seus trabalhos e também expor os seus discos. “Para falar a verdade, eu estou indignado.
Os dirigentes do turismo estão a dar atenção apenas aos músicos forasteiros e com todas as regalias pagas, mas aos locais nem sequer um tostão”, explicou. O secretário provincial de Manica da Associação dos Músicos Moçambicanos, Kidmor Vukbonde, que também boicotou o evento, disse estar de costas voltadas para o sector de Cultura e Turismo da província.
“A nossa província nunca foi convidada para fazer parte dos festivais que se realizam em outras províncias e países vizinhos, mas em Manica sempre que há uma actividade que envolve dinheiro aposta-se em artistas de Maputo, Zimbabwe e outros locais, o que deixa a desejar a todos musicos”, afirmou Kidmor Vukbonde.