Desde o acto de abertura do festival, na passada Quinta-feira, 04, mais de 10 grupos de Luanda, Malanje, Cuanza Sul e Cuando Cubango subiram ao palco para emocionar o público com as suas obras, muitas delas baseadas em factos sociais.
Com a intenção de levar o público à reflexão, o grupo Filhos de Angola, de Malanje, um dos poucos que tem participação recorrente neste festival, exibiu a peça “A sogra”.
António Valdimiro explicou que a intenção foi de levar ao palco algumas situações/dissabores vividos entre sogras e genros, facto constatado na província em que reside. “Trouxemos para abordagem a relação entre os dois dentro de uma casa, porque a peça conta o caso da sogra que foi visitar a filha e acaba por viver ali, o que acabou por deixar incomodado o genro”, frisou.
Expectante com mais uma participação no evento, o actor referiu que o Festival tem contribuído para a elevação do teatro no país. De igual modo, disse, tem impulsionado o conjunto na produção de novos trabalhos com o objectivo de serem apresentados num dos maiores palcos de teatro no país. Ainda neste quesito, o conjunto 14 de Abril, do Cuanza Sul, estreou-se no evento com “A mulher do falecido”.
A peça tipicamente tradicional, disse Eugénio Kissapa, narra o caso de um casamento tradicional que é impedido por conta de algumas tradições: o tio quando morre, automaticamente o sobrinho deve ficar com a viúva.
Quando isso não acontece, um dos dois tem de morrer. Nesta que é a primeira participação do conjunto no festival, Eugénio Kissapa descreve-a como uma experiência inovadora que deve ser abrangente aos outros grupos recém-criados, como é o caso deste, que precisam mostrar o seu trabalho ao público angolano.
“Neste preciso momento, são poucos grupos a trabalhar na nossa província por falta de apoios. Estamos também com dificuldades de salas, uma vez que temos feito adaptações para as nossas exibições. É preciso que se crie melhores condições para que artistas possam trabalhar condignamente”, sustentou.
Participação internacional Através da peça “Boneca”, o actor congolês Aron Lukamba esteve em palco com a actriz de Cabinda, Betesa Angélico, a narrar o caso de uma mulher que se envolveu no mundo dos rebeldes, por estes terem matado os seus pais.
Por ter constatado que situações de rebelião acontecem em todo o mundo, o actor congolês referiu que trouxe ao festival o presente tema com a intenção de constatar a mesma realidade em Angola.
“O problema da rebelião está em todos os países, razão pelo qual pretendi apresentar a peça neste palco. Mostrar um pouco daquilo que tem acontecido no meu país e mostrar em Angola, a fim de constatar a mesma realidade”, avançou.
Ao apresentar a peça na língua dominante no seu país, francês, nas várias exibições realizadas por si no palco do Anim’Art, em algumas edições, o actor realça que tem sido relevante para si poder passar a mensagem ao público através de gesticulações.
“Arranjo sempre uma maneira de eles perceberem a mensagem, ainda que for através de gesto. O que acontece é que eles percebem a peça e mostram-se motivados depois das exibições”, contou com entusiasmo.
Para si, o FESTECA é um evento especial, que tem permitido trabalhar/perceber melhor o factor língua que tem contribuído significativamente para o crescimento da sua carreira. “O FESTECA é realizado num dos bairros mais populares em Angola e eu gosto de mostrar o meu trabalho onde está a população”.
Exposição interactiva
Ainda neste espaço, está patente a exposição interactiva do antropólogo Isaías de Lemos. Entre as instalações apresentadas destaca-se “Panela com comida” que, segundo o antropológico, simboliza a união familiar.
A panela encontra-se rodeada de corrente, por cima da tampa, trancada com cadeado. Isaías de Lemos explicou que representa os costumes antigos, nas aldeias, onde os pais, para evitar que filhos mexam na comida, guardavam-na de várias formas, sendo esta uma delas.
“Nós que crescemos nas aldeias (nos matos) sabemos que os nossos avós eram detentores de várias mulheres. Isso também simboliza a irmandade que existia entre os membros das famílias. A panela, segundo a sua ilustração, simboliza a família, mas tudo com os cuidados e respeitos conforme mandam os dogmas culturais ”, asseverou.
Administradora do Cazenga enaltece a resiliência
Dado o impacto do FESTECA, que tem movimenta os grupos ao nível do país e do mundo, a administradora do Cazenga, Nádia Neto, reconhece a grande importância do evento, devido à sua abrangência artística e cultural.
“E nós, do Cazenga, acolhemos de bom grado o FESTECA e estamos bastante felizes pelo esforço de resiliência que o Anim’Art a e associação Globo Dikulu, todos aqueles que são os patrocinadores para a realização do evento têm feito”, enalteceu a administradora.
Pela realização das várias edições, Nádia Neto ressalta que a existência de jovens que cresceram com o FESTECA ao nível do município e enaltece o facto de muito deles hoje estarem a passar o conhecimento a outros da mesma faixa-etária, no domínio da arte e cultura.
Ao serem detentores de várias experiências ao longo dos anos, disse a disse a governante, muitos deles hoje conseguem apresentar temas de cariz social, ligado ao dia-a-dia, daquilo que é o desenvolvimento do ser humano, através da arte cénica.
“Por isso é que nós entendemos que o FESTECA traz uma grande importância, uma grande informação no que tange àquilo que é a cultura angolana. Isso só mostra que os actores envolvidos neste evento, quanto àqueles na organização, fizeram uma promessa de sempre dar continuidade a este projecto”, enalteceu.
Sendo este um projecto que tem permitido à inclusão social, a administradora lembra que têm apoiado o evento de modo institucional, mas lembra de alguns apoios materiais já foi realizado.
“A sua excelência Governador de Luanda, Manuel Homem, também esteve a fazer um esforço na recuperação do tecto do espaço para a realização do evento. É desta forma que vamos caminhando, sempre que possível fazer estes apoios”, explicou.
O grupo homenageado
Resultante do teatro musical de Hip Hop “As aventuras do Angosat”, o artista Ísis Hembe, mentor da peça, assim como os vários actores participantes foram homenageados pelo profissionalismo que tiveram durante as várias exibições da peça que foi estreada em Outubro do ano passado.
Através do personagem Man Ré, interpretada pelo autor, reflecte a importância desse evento histórico para a humanidade, esperando que a viagem proporcione um contacto com a vida inteligente além da Terra, com a participação de pessoas portadoras de deficiência.
“A mensagem é de provocação a uma busca de solução, tanto ao nível individual como colectivo, para que construamos uma sociedade onde todos possam caber…”, disse o mentor do projecto.
A homenagem atribuída a si e ao colectivo descreve-a como o resultado da dedicação que tiveram ao fazer o trabalho, desde a produção até aos actores. Considera como a consagração de um trabalho árduo que deu os seus frutos.
“Esta homenagem significa uma grande responsabilidade, sendo a primeira obra a ser escrita. Logo ser recebida desta maneira cria expectativas, tanto para mim é um certo peso a ver se conseguimos honrar esta homenagem”, observou. Tem sido espectacular a exibição desta peça, cada pessoa que vê conta sempre a alguém. Temos tido a sorte de ter encontrado uma abertura no público pela nossa ousadia de fazer um musical de rap.
E também temos tido apoios institucionais como do Goethe que tem, de certa forma, servido de uma caixa de ressonância ao nosso trabalho. Então, não podemos nos queixar do nosso trabalho, está tudo a correr bem.
Na verdade, tenho já um trabalho feito. Está é a minha primeira peça que se materializou. Eu tenho algumas coisas que estão por ai prestes a serem editadas ou não. Então vamos ver quais serão as oportunidades que sairão a partir desta peça.