O artista plástico moçambicano, Gonçalo Mabunda, que apresentou uma exposição no ELA- Espaço Luanda Arte “Weapons To Art”, na Baixa de Luanda, tem como ambiente imediato a trágica guerra civil, que assolou o seu país, desde meados dos anos 70 até recentemente. Nesta entrevista a OPAÍS, Gonçalo fala da criatividade, do intercâmbio no domínio das artes plásticas e da hospitalidade do público anfitrião
Realizou recentemente uma exposição ELA- Espaço Luanda Arte. Qual é a impressão que tem de Angola e o que tem ouvido falar deste país e da sua gente?
Angola é um país que também esteve em guerra civil durante muitos anos, tal como Moçambique. É a segunda vez, mas é a primeira exposição individual que faço em Angola, este que foi denominada como “Weapons To Art”. O título da exposição, em português “Armas Para Arte”, que aproveitamos para recriar os artefactos de guerra para o bem. O bom é que aproveita- mos para recriar estes artefactos de guerra para o bem.
Em que consistiu a sua exposição e que novidades trouxe?
Trazemos três tronos e cinco máscaras, e a reflexão de que reciclamos material bélico e trocamos aquilo que era para o mal para o bem. Os tronos representam o poder normal que é feito com naturalidade mas que, por vezes, nós, enquanto africanos, conseguimos esse poder com força e brutalidade. Existe também a particularidade de que eles prometem e nunca cumprem. E isto dói-me, por isso uso as máscaras como uma metáfora da mentira.
Nas suas obras nota-se o uso frequente do metal. É o material que tem por eleição?
Para além da vertente mais militar, também uso o metal normal que recolho dos meninos, chamados de ´tchovas´ – que apanham nos contentores, e passam de porta em porta em busca de material metálico. Então, compro das mãos deles, ganham um rendimento, e eu dou cor e vida ao material lixo. Muitas vezes já solicito o formato do material que quero e até cores que quero usar para um determinado trabalho.