O músico, intérprete e compositor Gabriel Tchiema defendeu, ontem, a necessidade de haver uma maior aproximação da música e da dança folclórica ao seio da juventude angolana, para que estes conheçam e aprendam a preservar as suas raízes culturais
Ao falar para este jornal, no âmbito da celebração do Dia Internacional da Música e Dança Folclórica que se assinalou ontem, 22 de Agosto, Tchiema considerou haver pouca divulgação e valorização do estilo folclórico no mercado nacional, comparado com outros estilos mais comerciais.
“É necessário que olhemos para a música e a dança folclórica como o estilo que identifica as nossas origens, e a juventude não pode ficar de parte desta visão.
Os jovens precisam aprender a estar cada vez mais próximos deste estilo para saberem preservar as suas raízes culturais, como fazem os nigerianos”, defendeu o artista.
Tchiema entende que tem havido pouca divulgação do estilo folclórico no mercado musical angolano, por falta de vontade da parte dos principais organizadores de eventos, bem como das instituições culturais responsáveis por dinamizar o mercado.
O artista defende uma maior abertura do estilo e mais expansão, sublinhando que o “folclore não pode ser apenas tido como um elemento complementar ou lembrado apenas nos eventos musicais regionais”.
Para tal, o artista desafia as entidades organizadoras a colocarem o estilo nos lugares de destaque dos maiores eventos musicais e não só, fazendo com que a juventude crie intimidade e se identifique com o folclore.
“Eu desafio um produtor ou realizador [de eventos] que possa colocar a música tradicional como cartaz de algum evento ou de uma festa.
Acredito que apenas poucos teriam esta atitude”, frisou entristecido.
Melhoria da qualidade musical
Por outro lado, Gabriel Tchiema apelou também aos seus colegas de estilo musical a apostarem na melhoria da qualidade das músicas que vão apresentando para o público, tanto em termos de letra, sonoridade, melodia e sintonia, acrescentando que não basta que a música tenha um ritmo mexido, “o folclore também pode se fazer com alma e harmonia”.
Afirma que o mercado musical africano é rico e competitivo, por esta razão é preciso que se olhe, atentamente, para a qualidade da música que se coloca à disposição do público para que se possa atingir grandes patamares, como estão outros países, citando como exemplo a música congolesa, nigeriana, senegalesa, cabo-verdiana e guineense.
“Não podemos ficar acomodados, pensando que a música tradicional serve apenas para entreter os nossos povos locais, precisamos pensar ao nível internacional.
Temos que ter a coragem e determinação para levar a bandeira do nosso estilo além-fronteiras e poder chegar ao pé de igualdade com outros países africanos, como é o caso da Nigéria, Costa do Marfim e tantos outros”, apelou.
Fusão do folclore
Para maior e melhor expansão da música e dança folclóricas, o conceituado músico aponta a fusão com outros estilos mais comerciais como um caminho necessário, sendo também uma forma de torná-lo mais presente no seio da juventude.
Defende que esta fusão pode ser uma boa forma de tornar o estilo mais global, permitindo que os jovens possam recrear os seus temas ao ritmo das batidas das músicas tradicionais, à semelhança do que aconteceu com o “naija”, um estilo musical resultante da fusão do comercial, popular e do tradicional da Nigéria.
“A juventude tem que ter força e inteligência, que acredito não faltar, para que possa trazer estas raízes com a qualidade que os jovens de outros países trazem para o mundo, porque é isso que mais interessa, que o mundo nos conheça tal como somos sem perder as nossas origens”, acrescentou.
Sobre a Data
O Dia do Folclore é comemorado em 22 de Agosto, data escolhida em virtude do criador do termo original (folklore), William John Thoms, arqueólogo britânico, ter manifestado oficialmente o cunho, neste dia, em 1846, numa publicação.
Deste modo, Folclore é entendido como o conjunto de tradições e manifestações populares constituído por lendas, mitos, provérbios, danças e costumes que são passados de geração em geração.
Esse conjunto tem transmissão geracional e abarca danças, canções, personagens, comidas típicas, narrativas tradicionais.
Por: Bernardo Pires