Para o escritor John Bella, o desaparecimento, aos poucos, da escrita infantil tem tido consequências negativas para o crescimento harmonioso da sociedade angolana que, devido à falta de leitura que deve começar da base, enfrenta problemas sérios nas suas mais diversas áreas
O escritor angolano, John Bella, considerou, em entrevista ao jornal OPAIS, que o fraco investimento financeiro e material está na causa do desaparecimento da literatura infantil em Angola.
Segundo o escritor, ao contrário dos anos anteriores, actualmente, assiste-se a um decréscimo da produção literária infantil devido à ausência de incentivos das instituições públicas e privadas que operam no país.
Conforme explicou, em função deste fraco apoio, os fazedores da literatura têm-se visto obrigados a abandonar a escrita para crianças, situação que, no seu entender, representa um retrocesso nos passos já conseguidos nos anos anteriores em que registava-se o avolumar de contos, poesias e outros ensaios para o público infantil.
Para John Bella, o desaparecimento, aos poucos, da escrita infantil tem tido consequências negativas para o crescimento harmonioso da sociedade angolana que, devido à falta de leitura, que deve começar na base, enfrenta problemas sérios nas suas mais diversas áreas.
“Actualmente, a literatura infantil em Angola tem decrescido em função do fraco apoio que os fazedores desse género enfrentam.
E penso que as instituições deveriam olhar para a literatura infantil como a base de todo o alicerce que suporta uma nação”, apontou.
Valor
Para John Bella, é preciso que se dê à literatura a mesma importância que é dada a outros recursos que contribuem para o desenvolvimento de Angola como o diamante e o petróleo.
“Quando falha algo, por falta deste elemento literatura, ninguém é responsabilizado porque, para muita gente, a literatura passa despercebida.
Como não é petróleo, nem diamante, ninguém liga”, lamentou.
Todos contam
Numa altura em que se assiste, no pais, o crescer da inversão de valores, em que, em muitas situações, as crianças são vitimas, John Bella apelou para a necessidade de toda a sociedade se juntar para a promoção da escrita para criança e o consequente estímulo do hábito de leitura.
Neste quesito, chamou a atenção dos pais, professores e outros tutores para que estejam alinhados na promoção das acções que estimulem o intelecto das crianças.
“As crianças, felizmente, em sociedades civilizadas, não têm que trabalhar.
Elas têm outras tarefas próprias da sua idade, tais como fazer exercícios mentais e leitura. Logo, à partida, a responsabilidade de promoção do hábito de leitura recai para nós os adultos”, esclareceu, tendo acrescentado ainda que, “da mesma forma que quando a criança precisa de alimentos, vestuário, assistência médica e medicamentosa o adulto é o único garante, com o livro e a leitura não poderia ser diferente”.
Reforço do Plano Nacional de Leitura
Noutra abordagem, John Bella defendeu a necessidade do reforço das acções do Plano Nacional de Leitura que, no seu entender, é uma peça fundamental no processo de construção do novo homem angolano.
De referir que o referido Plano, que visa à promoção e incentivo do hábito de leitura e escrita por parte dos alunos, foi lançado em 2021, no âmbito do Plano de Desenvolvimento Nacional 2018/2022, no qual o Ministério da Educação pretende responder aos desafios de melhorar o desempenho escolar nos domínios da leitura e escrita, a partir do ensino pré-escola.
O escritor
John Bella, de nome verdadeiro Jorge Marques Bela, nasceu a 30 de Setembro de 1968, em Luanda, no município do Sambizanga.
É membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola (BJLA), organização em que exerce funções como secretário para a esfera cultural e financeira.
Sociólogo de profissão, lecciona desde 1988 no ensino Pré-Universitário em Luanda.
Já publicou vários livros de poemas, destacando-se “Água da Vida” (1995), “Panelas Cozinharam Madrugadas” (2001), “A Lenda do Gato e o Rato (2007), “As Orelhas do Coelho Hélio” (2008), “O Rei Sou Eu!” (2010) entre outros.