Uma história simples de animais normais em circunstâncias anormais, contada com uma magia de que só Hayao Miyazaki era até aqui capaz: Flow – À Deriva merece tudo.
Parece sempre um exagero dizer, na base de uma ou duas longasmetragens, que se descobriu “o novo” qualquer coisa — John Cassavetes, François Truffaut, Nanni Moretti, é o que quiserem.
No entanto, desconfiamos que poucos irão protestar se chamarmos ao letão Gints Zilbalodis o mais próximo que já conseguimos encontrar do mestre Hayao Miyazaki: a mesma atenção maníaca ao pormenor, a mesma capacidade lírica de fazer os cenários dizerem tanto ou mais do que as personagens, a mesma intensa humanidade que tenta encontrar o caminho pelo meio de uma natureza deslumbrante e perigosa.
Flow – À Deriva está muito perto de ser uma obra-prima, chutando para canto (e com requintes de malvadez) até mesmo o que de melhor a Pixar ou a Aardman fizeram — e isto vindo de um cineasta báltico que nem sequer seguiu um percurso tradicional, e que assina realização, argumento, fotografia, direcção artística, montagem e música nesta sua segunda longa.