O Festival Internacional de Teatro do Cazenga (FESTECA) completa 20 anos de existência, com um especialíssimo programa comemorativo em que serão exibidas as melhores peças teatrais que marcaram o percurso do certame, no Centro de Animação Cultural (ANIMART) daquela circunscrição da capital do país
Vinte e dois grupos e companhias nacionais e estrangeiras garantiram já a sua presença no certame, candidatando-se por via das diferentes plataformas oficiais da organização, no período entre 1 de Outubro a 30 de Dezembro de 2024.
As honras de casa na presente edição caberão a um grupo teatral da circunscrição, que exibirá a peça teatral intitulada “Um Canto no Café: Cantos de Liberdade de Angola 50 anos.
O dia seguinte do festival será reservado à formação de colectivos de principiantes e outros, no domínio da Arte de Representar, assim como troca de experiências entre companhias distintas, a volta de Oficinas de Teatro e Intercâmbio, a serem orientadas por um especialista da área também a indicar no devido momento.
O festival renderá também tributo a 15 entidades e personalidades que deram o seu contributo para o crescimento e desenvolvimento do teatro em Angola, e a outras 15 que contribuíram e apoiaram o Festival Internacional de Teatro do Cazenga (FESTECA) para chegar ao estágio actual.
Para este evento que decorrerá de 10 a 20 de Julho próximo, foram agendados 25 espectáculos e 28 exibições, envolvendo 4 grupos e companhias de teatro do município anfitrião, das quais se destacam, o Arco-Íris, Flores a Brincar, o Nova Cena e o TIC TAC.
Já em relação a outros municípios da província de Luanda, foram selecionados 5 colectivos e companhias, como o Horizonte Njinga Mbande, o Amazonas Teatro, o Twabixila, Um Canto no Café e o Grupo Experimental de Teatro.
No que se refere a outras províncias, a agenda de actividades destaca 6 grupos e companhias, das quais, Ombaka Teatro, de Benguela, Estrelas em Palco, do Cubango, Nkondo Ikuta, de Cabinda, Filhos D’Angola, de Malanje e Ineditus, do Cuanza Sul.
Quanto a participação de grupos e companhias estrangeiras, o festival contará nesta edição com seis, a JGM, o Teatro do Bolhão de Portugal, o Les Incasable, de França, o The Homeless, da Itália, a Amora Balaio Criativo e a Negra Palavra, do Brasil. A lista de grupos participantes ao evento inclui ainda dois outros grupos, o Sakidila e Bonec’art, que por sua vez realizarão espectáculos paralelos no referido palco.
O festival idealizado por jovens talentosos daquela circunscrição de Luanda, fascinados pelas Artes de Representar, tornou-se uma referência obrigatória no Roteiro Internacional das Artes Cénicas, pela temática, qualidade e por reunir companhias e grupos consagrados de diferentes países do planeta, incluindo Angola, na qualidade de anfitriã.
Hoje, no limiar de 20 anos de realização do certame de teatro mais regular de Angola, foram exibidos cerca de 400 espectáculos, com a participação de mais de 380 grupos e companhias de teatro nacionais e estrangeiras.
Por ele já passaram aproximadamente 4 mil artistas, entre actores, directores e técnicos de artes.
Revisitar os principais espectáculos
Glória Fortunato, Presidente da Associação GLOBO DIKULU, entidade responsável pelo evento, afirmou à nossa reportagem que, devido ao carácter especial e festivo do evento, a organização vai, na medida do possível, revisitar os principais espectáculos destacados e premiados no certame, ao longo dos seus 20 anos de existência, bem como saudar o 50.º aniversário da nossa Independência Nacional.
“Considerando que a presente edição do FESTECA tem um carácter especial e festivo, pretende, à medida do possível, revisitar os principais espectáculos destacados e premiados no certame ao longo dos 20 anos de existência do mesmo, bem como saudar os 50 anos da Independência de Angola”, realçou Glória Fortunato.
A responsável recordou que, entre os dias 20 e 27 deste mês, foi feita a apresentação pública do Programa Geral da 20ª edição do festival, indicando as actividades a realizar, os participantes ao evento e eventuais apoiantes, parceiros e patrocinadores.
A par de tudo isso, cresce em toda a extensão do município anfitrião do Cazenga a expectativa dos munícipes em relação ao certame, uma vez que esta tem demonstrado maior interesse em aprofundar os níveis de conhecimento sobre a arte cénica e continuam atentos a uma rotina do FESTECA.
“Os nossos munícipes têm mostrado maior interesse pelo teatro, tanto os adultos, assim como os jovens. É uma população que conhece arte e está sempre atenta à rotina do evento, e continua expectante quanto à comemoração dos 20 anos de FESTECA”, disse.
A crítica que muitas vezes parece passar despercebida entre o público no palco do ANIMART tem merecido a devida atenção dos munícipes daquela circunscrição, sobretudo dos mais novos, por sinal, as crianças.
Na sua “visão clínica”, em relação a algumas peças de teatro que se vão exibindo ao longo de vários anos, muitas delas têm tecido algumas críticas e, a par disso, ajudam a escolher melhores obras.
“As crianças fazem críticas, mas também ajudam-nos muito a ver as melhores peças que passam ou passaram durante o festival”, salientou Glória Fortunato.
A também docente sublinhou que, não obstante a crise financeira, o festival tem sido realizado com muito esforço, graças ao espírito de entrega e responsabilidade das suas equipas de produção.
Pela sua dimensão, acrescentou, o FESTECA já teria merecido um apoio em termos de recursos para reforçar o evento e inserir outras iniciativas.
Não obstante esses factores, a responsável enalteceu o esforço que muitos grupos e companhias teatrais têm estado a fazer para estarem presentes em todas as edições do festival, viajando de várias províncias e do estrangeiro e regressando sem qualquer recompensação.
Apoio aos grupos nacional
Glória Fortunato realçou que gostaria que, a partir desta 20.ª Edição Especial do FESTECA, pudessem dar mais apoio aos grupos que vêm de outras províncias, por fazerem gastos enormes em transporte com o pessoal e, como organizadores, não conseguem de certa forma retribuir pelo gesto.
Para a responsável, o melhor para a organização seria que, dentro do festival, os grupos, ao chegar a Luanda, também saíssem com algo de valor que recompensasse nos gastos que fazem ao sair das suas províncias para a capital.
“Gostaríamos que, a partir desta 20.ª edição, pudéssemos dar mais apoio aos grupos que vêm de outras províncias.
Fazem gastos enormes em transporte com o pessoal, e nós aqui, não conseguimos de certa forma retribuir”, lamentou Glória Fortunato, acrescentando que tal situação tem muitas vezes os deixado desconfortáveis.
A responsável referiu que, caso o certame tivesse apoios significativos pela sua dimensão, gostariam de atribuir um prémio para os incentivar a participar noutros festivais.
Outras formações artísticas direccionadas aos jovens
A responsável referiu ainda que, à margem dos espectáculos de teatro, os grupos, além de levarem experiência nos intercâmbios com colectivos do estrangeiro, participam em oficinas e noutras formações.
Já no que a formação ao nível interno se refere, adiantou que a Associação Globo Dikulu tem activas algumas áreas, como a têxtil, a dança e a música, após o regresso das aulas.
A arte têxtil, realçou, é preenchida actualmente por dezenas de jovens e adolescentes com secções diárias de Corte e Costura, onde cada uma aprende a executar trabalhos do género em toda a sua dimensão.
A versatilidade nos jovens é visível em todos os aspectos. Na dança, na música, nas artes cénicas e acções ambientais como a jardinagem e reciclagem de artigos descartáveis transformados em bras de arte, e artigos de limpeza.
Como resultado desta acção formativa através do projecto, Tribo Sustentável, os adolescentes criaram um jardim que, além de moldar a imagem frontal do hall, pela sua beleza, vem atraindo diferentes espécies de pássaros, que, com o seu canto característico e atraente, vão divertindo quem lá estiver.
Já a área da música, além de priorizar o nosso cancioneiro, prossegue com acção formativa no domínio da percussão e outros instrumentos tradicionais, dos quais a marimba, entre outros.
Persistência e optimismo
O festival, mergulhado num mar de insistências, forjando jovens com resiliência e moldando equipas com diferença e persistência, num panorama de resistência, foi criado há 20 anos por jovens talentosos, fascinados pela arte de representar, da Associação Globo Dikulu.
Do “quase nada”, avançou-se para o “de tudo um pouco”. Da discrição migrou-se para o entusiasmo e assim, do amadorismo vai-se encaminhando para o profissionalismo.
Tudo começa precisamente em 2006, com 12 grupos de teatro do município do Cazenga, que, prosseguindo em 2007, os operadores de teatro de outros municípios da província de Luanda, juntaramse ao projecto, tendo em 2008, os de outras províncias se feito também presentes no evento.
Quanto podemos saber da presidente, Glória Fortunato, em 2009, o FESTECA viveu a sua experiência no acolhimento de Companhias de Teatro estrangeiras e a partir daquela data, não mais parou.
Por dentro do ANIMART
O Centro de Animação Artística do Cazenga, o reduto do FESTECA, está dividido em vários compartimentos, dos quais, o Camarim, seguindo-se o Auditório com uma rampa para facilitar o acesso a pessoas com deficiência, o Salão Multiusos, a Galeria ANIMART que neste momento acolhe uma exposição de pintura de um artista italiano e a Arena.
Na parte lateral, está localizado o Estúdio de Gravação em construção, seguindo-se a Secção Têxtil, destinada ao corte e costura.
Seguem-se os escritórios do Centro, a Copa, o Depósito de Equipamentos e outros meios técnicos, e na parte superior do edifício, os dormitórios dos grupos e companhias visitantes do interior do país e do estrangeiro.
O Festival Internacional de Cinema de Luanda (FESTECA) visa, e tre outros aspectos, promover o teatro e as artes performativas no seio da juventude angolana e, através da elevação do seu nível de produção dramática e técnica, saudar os 50 anos da nossa Independência Nacional.
Também propõem-se a realizar o Intercâmbio Artístico e Cultural entre Operadores do Teatro nacionais e estrangeiros, bem como mostrar o que se produz no país em termos de Artes Cénicas, oferecendo igualmente tudo aquilo que vem do exterior, acrescentando valor ao teatro feito em Angola.