A nível de todo o território nacional existe apenas uma única instituição de ensino superior vocacionada à formação daqueles que queiram abraçar uma carreira profissional artística. Trata-se da Faculdade de Artes (FART), situada na Centralidade do Kilamba, município de Belas, em Luanda
Fundada em 2021, a Faculdade de Artes oferece quatro cursos de especialização artística no nível de licenciatura nas áreas de Música, Artes Visuais, Teatro e Design de Moda. Apesar de ser a única instituição de ensino superior vocacionada à formação artística, carece de alguma atenção redobrada das autoridades que a tutelam para que não se comprometa a qualidade da sua infra-estrutura e equipamentos.
Já o laboratório de artes visuais funciona num anfiteatro adapta- do quase sem condições para acolher e conservar os materiais usa- dos na produção artística. No mesmo espaço funciona também o laboratório de teatro, com um palco improvisado onde os estudantes exercitam a arte da encenação e dramatização. O curso de moda, por sua vez, é que menos carência apresenta em relação aos demais.
As aulas práticas são executadas numa sala minimamente equipada que funciona como um atelier onde os alunos criam, recriam e constroem peças e diversos estilos de vestuários. Face às carências, o decano da Faculdade de Artes (FART) da Universidade de Luanda, Lulemba Mambu, garantiu que o executivo tem em carteira um projecto de construção das futuras instalações da Universidade de Luanda, uma infraestrutura que será erguida de raiz onde irá funcionar a mesma.
‘Mais de metade dos estudantes fica sem apoio dos encarregados’
Desde a sua inauguração, a Faculdade já formou cerca de 100 estudantes nos variados cursos, sendo a maioria ligado às áreas de música e artes visuais. Para o decano, o número ainda não é satisfatório se comparado às necessidades que o mercado nacional cultural apresenta e a carência de quadros formados qualificados para dinamizar o ensino e a pesquisa sobre as artes em Angola. Adverte sobre a necessidade de se apostar fortemente na pesquisa científica e aprofundada sobre as artes nacionais, para que se possa preservar “aquilo que é a nossa identidade cultural e poder registar por escritos os nossos fazeres artísticos”.
“Nós temos que passar a recolher, a documentar os nossos fazeres artísticos. Precisamos estudar, por exemplo, o nosso kuduro, o nosso Semba, as nossas próprias artes. Tirar o empirismo e passarmos a discutir na academia aquilo que nós próprios criamos para ter sustentabilidade perante às outras artes provenientes do ocidente”, assinalou. Para o ano lectivo 2023/24, a Faculdade de Arte prevê acolher 434 estudantes, sendo que neste ano foram admitidos um total de 120 no- vos discentes nos vários cursos. Quanto ao corpo docente, a instituição conta com 50 professores distribuídos nas diversas áreas de especialização daquela faculdade, entre docentes de cadeiras teóricas e sociais e outros de cadeiras práticas executadas, na sua maioria, em laboratórios.
A direcção garante ter tudo pronto, tanto em termos de disposição anímica quanto de condições materiais, para o início das aulas a nível do ensino superior no corrente mês. Por outro lado, a forma como é pouco valorizada a formação em artes pela sociedade angolana preocupa o decano, que considerou ser triste e lamentável a realidade que se vive a nível de todo o território nacional em relação ao ensino das artes. O acadêmico disse não compreender o porquê de muitos encarrega- dos de educação adoptarem a postura de desencorajar os filhos ou a deixarem de apoiar os seus estudos quando estes decidem fazer uma formação superior no ramo das artes.
Segundo explica, dos mais de mil candidatos que acorrem anualmente àquela instituição de ensino especializado no intuito de conseguirem uma vaga, mais de metade não tem contado com o apoio ou aprovação dos encarregados para se formar em arte, uma situação que, no seu entender, torna o ensino banalizado e a arte cada vez mais precária. “Infelizmente, muitos ainda têm a ideia de que ser artista não é prioridade na sociedade.
Quando um jovem diz ao pai ou à mãe que ‘quero ser artista’ estes em vez de apoiar, o desmotivam fazendo transparecer que o artista não é importante no seio social, e este comportamento só afunda cada vez mais o ensino, em especial à arte”, considerou. O académico entende que é preciso que se faça um trabalho de consciencialização da sociedade para que as pessoas passem a encarar a arte como uma área de especialização profissional digna e de extrema importância para o desenvolvimento da mesma sociedade, como a medicina, a engenharia, o direito e tantas outras.