Maria Belmira Seco, Ana Sanches, Carla Peairo e Marisa Cristino, quatro mulheres ligadas à arte têxtil, apresentam as suas obras na exposição intitulada “Okutunga”, com a qual ambicionam divulgar o trabalho que realizam e, ao mesmo tempo, tornar viva a arte patente na Galeria Ovídio de Andrade Melo, no Instituto Guimarães Rosa (IGR), em Luanda
São no total 21 obras de tecelagem, aplicação em tecidos, pintura têxtil, macramé, crochet e instalações das mais variadas técnicas desenvolvidas na arte têxtil, em que cada uma apresenta uma sugestão ao público até 30 do corrente mês.
Nas suas obras, Maria Belmira Seco apresenta uma proposta inseridas na abordagem dos símbolos e mitos das culturas locais angolana, através das técnicas do bordado, aplicação em tecidos, com materiais como tecidos e serapilheira industriais que no seu conjunto premeiam a simbiose do tradicional e o moderno.
A profissional explica que, as referidas composições mistas têm como fonte materiais recuperados, com a incorporação de alguns de fabrico industrial coloridos, que lhe possibilitaram associar símbolos nas formas bidimensionais, como resultados criativos conceptuais do rigor.
Alguns destes trabalhos tiveram como fonte de inspiração o labor de pesquisa sobre o “Imbondeiro”, do artista plástico Jorge Gumbe, partindo do real e do natural para a abstracção na descoberta de novas formas, a partir dos lugares e de contextos de investigação dos mitos.
“As minhas obras são o reflexo de um conjunto de emoções que retratam lugares e técnicas que a imaginação e as mãos traduzem em cada uma das peças”, começou por explicar.
Durante a permanência da exposição, estão previstas oficinas, de acordo com algumas técnicas expostas, aos Sábados.
A primeira ocorreu no dia 09, sobre a “introdução técnica da tecelagem”. Maria Belmira explicou que, uma das peças centrais da exposição é um tear disponível para a experiência do público e percepção da riqueza da tecelagem manual, e que, por entre os seus fios, vai criar uma narrativa colectiva de tramas e histórias imaginárias.
Disse ainda que a referida obra será leiloada no final da exposição, sendo que o seu valor será revertido, parcialmente ou na totalidade, para uma instituição seleccionada por elas.
Sobre aquilo que é tido como o foco da exposição, referiu que parte da necessidade de divulgarem mais o trabalho que realizam e, principalmente, que esta forma de expressão artística não desapareça.
“Esta exposição permitiu-me observar o grande interesse do público e, em especial, dos mais jovens em conhecer esta forma de expressão artística a partir de materiais que simples ou domésticos pretendemos mostrar que é autónoma”, aclarou.
Arte pouco explorada
Quanto à arte têxtil observa ser uma área das artes plásticas pouco explorada e estudada em Angola.
A artista realçou que no seu percurso académico e naquilo que é o seu objecto de estudo, desde sempre assumiu a arte têxtil como profissão, tem aflorado constantemente a sua preocupação tanto na tecelagem como na tapeçaria artística.
Pelo facto, sente-se motivada e impulsiona a sensibilizar para que a arte seja estabelecida como uma das disciplinas no sistema de educação no país, nos seus programas de ensino, quer na perspectiva formal como informal.
Sustentabilidade social
Ainda sobre esta arte, Carla Peairo defende, igualmente, que a arte têxtil no país merece ser mais desenvolvida e praticada pelos artistas, por oferecer inúmeras possibilidades de aprendizado e exploração de novas tecnologias expressivas.
A par destas enfatiza que também possibilita desfrutar dos seus benefícios terapêuticos.
A cidadã que veio propositadamente de Benguela para acompanhar a inauguração da exposição, apresenta sete obras dominadas pela técnica mista sobre serapilheira, inspiradas na simbologia Sona dos Tchokwe, da região leste do país, com diferentes materiais que a permitiram fazer um trabalho estético.
Segundo a mesma, a referida técnica é de carácter importante na sustentabilidade social, através da reciclagem de resíduos têxteis e outras fibras, o que torna a arte têxtil uma grande parceira das indústrias de transformação.
Satisfeita com o trabalho apresentado, exalta o facto de a mesma ter despertado o interesse dos visitantes que tiveram a oportunidade de apreciar o universo criativo e quântico desta modalidade.
“A participação e colaboração nesta exposição tem sido uma experiência muito gratificante e inovadora, pois é a primeira vez em Angola que acontece uma mostra dedicada exclusivamente à Arte Têxtil “, enalteceu.
Primeira experiência no país Para melhor compreender sobre a tão augurada iniciativa, Ana Sanches referiu que o projecto começou no 3º trimestre de 2019, mas que foi adiado por conta da pandemia da Covid-19.
Depois de alguns anos de trabalho, a convite do IGR que com a visita do Presidente do Brasil, Lula da Silva, inaugurou a Galeria Ovídio de Andrade Melo, que acolheu o projecto.
A artista considera esta exposição como uma representação de artes têxteis, no caso, a única no mundo das artes em Angola, em que as profissionais representam, cada uma, o seu estilo individual e sentimental contemporâneo de uma arte milenar.
“A expectativa é grande, mas estamos só no início, poderemos fazer o balanço no fim da exposição que abriu ao público no dia 8 e vai até ao dia 30 de Setembro.
Temos várias actividades todos os Sábados, das 10 às 13 horas, relacionadas com as técnicas da tecelagem, a primeira foi a tecelagem, as próximas serão o macramê e o crochet”, elevou.
O programa da exposição inclui ainda visitas guiadas, a par das oficinas temáticas aos Sábados e conversas com as artistas pelo que, são convidados a participar.