Hoje, de evento em popa, o espaço faz as honras da Kianda com mensagens de vários criadores, nas mais distintas manifestações artísticas/culturais, desde pintura, escultura, música, literatura, teatro, dança, cinema e arquitectura.
O edifício, com uma arquitectónica surpreendente, do ponto de vista de concepção, transformou-se num dos grandes centros de arte a nível daquela circunscrição de Luanda e não só e o itinerário de muitos que, encantados com a sua imagem, cumprem uma agenda ininterrupta no que ao entretenimento diz respeito.
Mediatizado e dinamizado por uma gestão privada experiente, como se diz na gíria popular, hoje é referenciado como um espaço que está na moda, não pela diversidade de eventos que produz, mas também por se destacar na transmissão de conhecimentos.
A estrutura é, ao mesmo tempo, destacada como uma exposição permanente aos olhos de quem da arte faz uma companhia intrínseca, especialmente os turistas e os estudantes que nele frequentam, ávidos em conhecer ao detalhe elementos elucidativos sobre a sua história, a arte e a cultura angolana, que o mesmo encerra.
Ainda ao longo da nossa reportagem no local, apercebemo-nos que a direcção do Palácio tem estado a cumprir uma agenda diversificada a nível de actividades e já vai no segundo ano da sua implementação.
Com vista a obter uma informação plausível sobre o referido espaço e os projectos em torno do seu desenvolvimento, abordamos o anfitrião, João Vigário, director da referida instituição.
No capítulo de exposições, o director do espaço, João Vigário, sublinhou que o palácio é representado por pavilhão das artes visuais na parte frontal ao edifício.
A estrutura contém outras naves na parte frontal, permitindo assim uma observação eficiente do que lá é exposto dos dois lados, seguindo-se, à direita, o pavilhão Njinga Mbande, na parte lateral e na parte traseira a equipa de apoio às actividades.
Além das exposições das artes plásticas, a nave serve também de apoio a outras actividades que possam surgir ao longo da agenda, podendo ter uma múltipla função, de acordo a dinâmica com que for sendo implementada.
Actividades artísticas/culturais repartidas em rubricas
Cada espaço está concebido para ter eventos internos de artes visuais, cénicos, conferências, entre outros. Já em termos de rubricas, João Vigário salientou que o Palácio de Ferro tem garantidas 14, das quais se destacam a Festa da Trova, focada no desenvolvimento da poesia para a musicalização, um evento que, por sinal, acontece regularmente, a Rubrica Trajectória, uma impulsão em palco, que retrata o percurso artístico de músicos consagrados, tal como o Teatro no Palácio de Ferro, fazendo menção às artes cénicas e tantos outros.
Ainda no quadro de actividades, o director salientou que a instituição está focada num Plano Estratégico para definir metas anuais e uma equipe operacional comprometida, tendo como aposta principal os recursos humanos.
No domínio da música, possui uma gestão do tradicional ao moderno, destacando com festivais itinerantes da música ancestral que vai, no próximo ano, na sua quarta edição.
“Temos uma agenda que permite outros eventos propostos por outras instituições, que também têm acontecido no palácio.
Por exemplo, temos realizado vários encontros da network e de outras especialidades sociais”, disse o director. Ainda quanto ao quesito de actividades, a direcção do Palácio destaca as feiras realizadas no ano passado, na qual decidiram um movimento normal, estando actualmente a ser preparada para este mês, e a segunda edição demonstrará o Corte e Costura que, no ano passado, juntou 30 expositores com seus ateliês.
Arquitectura “encanta” o público
O edifício chama a atenção pela estrutura em ferro forjado, cuja história está envolta em mistério, uma vez que não existem registos da sua origem, o que, de certa forma, vai despertando cada vez mais a atenção, o interesse e a curiosidade de quem o visita.
O imóvel tem um soberbo avarandado envolvente, que o distingue como o melhor exemplar da arquitectura do ferro em Angola.
Acredita-se que a estrutura tenha sido construída na década de 1880/1890 em França, como pavilhão para uma exposição, e posteriormente desmontado e transportado de barco com destino provável a Madagáscar.
O espaço recebe em média diária 50 a 60 visitantes, na suamaioria turistas e estudantes de diferentes faixa etárias, ávidos em conhecer ao detalhe a história e a importância no contexto cultural.
Curiosidades sobre a infra-estrutura histórica
Esta particularidade pouco comum em relação a outras edificações da urbe luandense, associada à sua privilegiada localização geográfica, remetem-no a uma visita constante ao nível de investigação por parte de estudantes de arquitectura, de história e de antropologia.
O espaço tem como beneficiário o Ministério da Cultura, que também acaba por ser o patrocinador principal. No princípio, segundo o director do espaço, a sensação que muitos visitantes tinham desta magnífica estrutura, sobretudo os mais novos, era de relativa estranheza, mas, aos poucos, foram compreendendo a sua utilidade, aumentando assim o desejo de nele entrarem para conhecer de perto e descobrirem pormenores relacionados à sua essência, um aspecto que via pedagógica foi sendo quebrado com os esclarecimentos devidos.
O destaque de visitas ao Palácio de Ferro recai, sobretudo, aos estudantes que estão em formação intermédia, nos cursos de Engenharia e Constituição Civil, tendo uns já desafiado algumas empresas do ramo com propostas de visitarem o espaço.
Muitos deles, atraídos pela história surpreendente do edifício, reservam-se a direccionar as suas questões nos aspectos sobre a sua origem, o nome do construtor do edifício, a nacionalidade e outros aspectos a ele associados.
Quanto pudemos saber durante a nossa permanência naquele espaço, a maior parte dos estudantes depois de tomarem contacto com a estrutura, manifesta sempre o desejo de voltar mais vezes ao local, não somente pelo encanto ou ornamentação da estrutura, mas também por lhes serem dissipadas dúvidas em relação à narrativa e o objectivo para o qual o Palácio foi edificado.
Visitantes apresentam sugestões para melhoria do espaço
Os discentes, que conheceram o Palácio antes de a visita ser programada pela respectiva escola, começam agora a perceber a importância deste edifício no Roteiro Cultural da Cidade, e já conseguem dialogar com os seus guias e, certas vezes, apresentam à direcção das mesmas sugestões para as suas próximas visitas e intervenções nos domínios da história, das artes e da cultura.
O mesmo acontece também com algumas intervenções a nível melhorias na estrutura, restaurando o que é essencial para acolher uma associatividade cultural possível.
João Vigário sublinhou que, em cada visita efectuada, cada aluno procura explorar ao máximo um lado novo e, certas vezes, levam da escola as suas performances artísticas como forma de transmitir a sua mensagem com as suas criações, acabando por se simpatizar com o mesmo.
“Os estudantes já estão a apropriar-se do próprio Palácio e já não mostram aquela parte da estranheza que antes era neles observados, porque o Palácio está na moda. Já começam a ter em si a cultura de fazer parte do próprio Palácio”, disse o director, acrescentando que seria um erro, no futuro, não contar a história do próprio Palácio.
O responsável sublinhou, igualmente, que, pela persistência de alguns estudantes, admite que muitos deles poderão vir a ser proximamente potenciais guias turísticos e contadores da história presente, no futuro do referido palácio.
“Chegamos ao número de 100 pessoas, na sua maioria estudantes. Felizmente, essa ligação com as escolas é muito importante, uma vez que os alunos têm acesso à arte e à cultura, e estas trazem regularmente os alunos para visitar o Palácio de Ferro”, avançou.
Alcançar o estado de “excelência” é o objectivo
Confiante nos desafios e conquistas do dia-a-dia, o director assegurou que o Palácio goza de boa saúde, podendo atingir nos próximos tempos o estado de excelência.
Recordou que, com a força dos ancestrais que nele habitam, a direcção tem conseguido materializar um sonho de agenda para fazer acontecer no palácio, não obstante o actual contexto financeiro.
Destacou, igualmente, a necessidade de os angolanos assegurarem os espaços e demonstrarem que têm capacidade de gerir de forma independente, não obstante as dificuldades financeiras que de uma ou de outra forma se fazem sentir.
“Nós, os angolanos, não podemos continuar a receber sempre certificados de incompetência. Por outro lado, o próprio Ministério da Cultura acaba por ratificar todos os projectos que aqui se vão implementando.
Por isso é que em toda a comunicação que sai do Palácio de Ferro, lá está o parecer do Ministério da Cultura”, realçou.