A solidão, a pesquisa e a inovação são três pressupostos para uma criação literária de qualidade.
POR: Jorge Fernandes
A afirmação é do escritor e jornalista José Luís Mendonça, quando falava durante uma sessão cultural em sua homenagem realizada Quarta-feira, pela Fundação Arte e Cultura, evento que marcou a 14ª edição do sarau mensal ‘Noites de Poesia’. O escritor justificou na ocasião cada um destes pressupostos, tendo salientado, ser imprescindível a ‘Solidão’, pois para o criador é necessário que tenha várias horas de leitura para a consequente produção.
“Por mais que se tenha aulas de escrita criativa, mas se não tiver o domínio da língua a sua principal ferramenta de trabalho, e tempo para introspecção e meditação, sairá da aula vazio, tal como entrou”. Sobre a ‘Pesquisa’, ela torna-se necessária, na medida em que é fundamental para o autor, “cultivar- se com os escritos de outros autores,quer nacionais, como estrangeiros, a fim de vir a encontrar um estilo próprio’.
Enquanto a ‘Inovação’ tem a ver com o estilo próprio que se encontra depois de cumpridos os dois primeiros pressupostos. Ou seja, para o escritor, “ninguém pode ser poeta sem primeiro escrever prosa e ninguém pode ser
escritor sem primeiro ler muitas outras obras”, recomendou.
À margem do encontro, em declarações a esse matutino, José Luís Mendonça manifestou-se lisonjeado e ao mesmo tempo emocionado pelo tributo da Fundação Arte e Cultura. “Sinto-me comovido, primeiro porque há muita juventude. Segundo, porque foram aqui ditas palavras que me comoveram, pa lavras sobre a minha vida e foram aqui recordados pelos livros que já publiquei.
Deram-me também oportunidade de declamar poemas do meu novo livro publicado esta semana”, desabafou. Saliente-se que este livro foi publicado Segunda-feira, 27, e intitula-se ‘Angola, me diz ainda’. Contém 54 poemas inéditos, e é o primeiro da colecção ‘Troncos da Literatura Angolana’, uma iniciativa conjunta entre o Movimento Lev’Arte, o Instituto Camões e a Editora Acácias, que envolve escritores angolanos consagrados.
Atractivos
A homenagem a José Luís Mendonça contou com a participação de vários poetas da nova geração, em que se destacaram Ângelo Reis, o “Poeta dos Pés Descalços”, Ras Nguimba Ngola, Adelina Rosa, e Vanesia de Almeida. O grupo teatral “Os Desejados da Kianda” e os músicos Pascoal Mussungo, Denis e Romeu, acompanhados pelos “músicos da casa”, o projecto Casa da Música.
O homenageado
Nascido no Gulungo Alto a 24 de Novembro de 1955, José Luís Mendonça é licenciado em Direito pela Universidade Católica de Angola. É escritor, poeta e jornalista de profissão, exercendo o cargo de director e editor-chefe do Jornal “Cultura”, quinzenário angolano de Artes & Letras, das Edições Novembro.
É autor de vários livros de poesia e de um de contos. Integra a denominada “novíssima geração”, expressão que designou o conjunto de jovens que começaram a despertar no início dos anos 1980 para a literatura.
Da sua vasta obra destacam-se os livros ‘Chuva Nobembrina’ ‘Gíria de Cacimbo’, ‘Respirar as Mãos na Pedra’, ‘Logaríntimos da Alma’, ‘Poemas de Amar’, ‘Ngoma do Negro Metal’ e tantos outros que lhe mereceram distintos prémios como Sagrada Esperança, Prémio Sonangol de Literatura e ainda o Prémio Nacional de Cultura e Artes.