“A Caminhada” e “Murmúrios de mar” são as duas obras literárias que o escritor cabo-verdiano, Samuel Gonçalves, apresentou na sede da União dos Escritores Angolanos, em Luanda, que narram situações vividas pelo autor na época colonial em Angola, para a avaliação dos cidadãos
Os livros, lançados há mais de dez anos na sua terra natal, retratam o processo de imigração, precisamente por causa de seu contexto Ilhéu, que tem servido de inspiração neste trabalho e predisposição para conhecer outros países.
Ao falar sobre imigração, a forçada e a voluntária, explicou que a primeira está baseada na estiagem de seu país, ao passo que a segunda ajuda a população a trazer alguma coisa de volta ao seu país.
“Nós somos um povo de imigrantes, gostamos de viajar, trabalhar na terra alheia, e depois voltar ao nosso país para ter uma vida cada vez melhor e suportar um pouco da nossa estiagem’’, avançou.
O autor, que também viveu em Angola no tempo colonial, tendo trabalhado como médico ortopedista no Hospital do Prenda, conta que as mudanças no país são enormes, comparando àquele tempo.
“Todo imigrante, quer forçado quer voluntário, tem sempre em perspectiva alguma coisa, precisamente ter alguma condição de fazer a sua casa, ter a sua família, os seus filhos e se sentir realizado”, referiu.
Cooperação literária
Na ocasião, o presidente da União dos Escritores Angolanos (UEA), Lopito Feijó, assegurou que Angola e Cabo-Verde são dois países irmãos, cujos autores são sempre bem-vindos à casa das letras.
Assim como todos os outros confrades de outras paragens que os visitam, disse, fazem questão de recebê-los e compartilhar os momentos de troca de experiências e convívio salutar na sede social.
“Com este gesto, queremos sempre honrar os membros desta casa. Nós fizemos questão de honrar com uma sessão de lançamento das suas obras e darmos a conhecer a literatura de outras latitudes aos nossos grandes leitores angolanos e aos nossos potenciais leitores reais”, asseverou.
O dirigente observa haver pouco intercâmbio a nível dos países africanos de Língua Portuguesa, por formas a permitir um pouco mais da circulação das obras literárias da associação que lidera e de outro tipo de modalidades artísticas e culturais.
Lopito Feijó assegurou que as obras lançadas são bem-vindas a Angola, na certeza de que os leitores possam deleitar-se com as páginas que lhes darão a conhecer um pouco mais sobre a realidade das Ilhas de Cabo-Verde.
Durante o acto, o secretário-geral da Academia Angolana de Letras, António Quino, que tratou da apresentação do livro, disse que a obra é acompanhada de várias histórias, com uma narrativa específica dos Ilhéus.
Segundo o também escritor, as lições que se podem retirar desta obra, tal como acontece com os povos Ilhéus, é a questão da solidariedade, a resiliência, fé e esperança nos sonhos. Isso de maneiras a orientar as famílias a acreditarem na possível construção de um horizonte mais positivo, com base em sérios investimentos.
“Estamos a olhar para o médico de um período muito distinto da vida, nomeadamente do período colonial, em que ser negro e médico era muito difícil, não só para o exercício da profissão, mas também para conseguir cumprir com a etapa de formação”, apurou.
Por sua vez, a escritora Amélia da Lomba, presente no acto, manifestou que Manuel Gonçalves, para além de ser um grande escritor, possui obras com conteúdos que são de interesse geral.
“É uma honra que ele tenha vindo mais uma vez apresentar a sua obra ao nosso público, na sede da UEA. Estamos perante um homem que estudou em Angola, fez o curso de medicina, também trabalhou no hospital, e tem cá muitos amigos e familiares”, destacou.