A escassez ou quase inexistência de espaços culturais e recreativos ao nível do município do Sumbe, província do Cuanza-Sul, é apontado como uma das maiores condicionantes do desenvolvimento artístico desta cidade, segundo avançam os artistas locais
Numa ronda feita pela nossa equipa de reportagem em torno do desenvolvimento artístico desta região, pôde-se constatar de perto a realidade que muitos fazedores de ar- te enfrentam, para manter a cultura viva naquela cidade. A par da falta de espaços, os artistas apontam também a falta de consumidores de artes como um factor que contribui para o fraco desenvolvimento artístico daquela região e, consequentemente, para a emigração de muitos artistas a outras províncias, em especial para a capital do país, Luanda, onde mui- tos vêm os seus trabalhos crescer.
Gilson Meneses, jovem de 23 anos, designer artístico há mais de três anos, diz ter imensas dificuldades para promover a sua arte por falta de um espaço propício para tal. Deste modo, sublinha que só consegue vender em épocas de festividades do município. “Já trabalho como designer desde 2020, na época da pandemia, e, actualmente, tenho mais dois colegas que trabalham comigo.
Fazemos desta arte o nosso ‘ganha- pão’, mas aqui no Sumbe é difícil sobreviver disto, porque não há locais para vender e as pessoas não têm cultura de consumir obras de arte”, expressou. Segundo o mesmo, a sua arte só ganha expressão por altura das festividades e acrescenta que os clientes que mais compram os seus produtos e serviços são os visitantes que acorrem a esta cidade em véspera festivas. Quem também queixa-se das mesmas dificuldades é o jovem Amadolfo, desenhador realista e criativo, que, além da falta de espaço e público consumidor, diz também ter imensas dificuldades para aquisição do material.
O jovem, que recorre a canetas de tintas, t-shirts e lápis especiais de cores para compor a sua arte, adianta que os preços dos materiais no mercado municipal do Sumbe, que é a principal praça da cidade, são muito altos e que, apesar disso, às vezes regista-se muita falha do fornecimento, dada a escassez no mercado local. “Os preços dos lápis e tintas que uso são muito caros aqui no mercado municipal e às vezes quase nunca tem. É difícil comprar estes materiais e quando se compra tenho que economizar porque no mercado raramente tem”, disse o jovem, acrescentado que “esta situação tem feito atrasar as encomendas e os clientes acabam por comprar em gráficas dos chineses”.
Falta de investimento no sector cultural
Para o músico Jota Buanda, as dificuldades no mundo artístico naquela cidade estão também associadas à falta de investimento cultural e de políticos de incentivo. Na opinião do mesmo, o governo local e, quiçá central, deve criar condições para que o empresariado olhe para a cultura como uma fonte de negócios que carece de investimentos e o dinamize. “A falta da valorização cultural não está só presente aqui no Sumbe, é um problema nacional. Penso que o governo, seja aqui da província como ao nível central, tem que trabalhar no sentido de melhorar as políticas de incentivo ao investimento do sector da cultura.
Criam-se vários projectos, mas a sua execução deixa a desejar”, disse o artista conhecido localmente como “Pai do óh Lilí”. Nelson Miúdo, promotor e realizador de eventos, aponta também a falta de investimentos no sector cultural como uma barreira no desenvolvimento artístico da província. Segundo o jovem, tem sido difícil realizar eventos de dimensão municipal por falta de patrocínios e de marketing cultural. O jovem acrescenta ainda que a comunicação social local pouco faz para tornar visíveis os esforços dos artistas do município.
“Precisamos melhorar a promoção da cultura no nosso município. Eu foco-me mais no lado do marketing, porque os nossos artistas precisam de mais visibilidade por parte da media digital e da comunicação social. Pedi- mos que a imprensa concentrada em Luanda, também venha para o Cuanza-Sul tornar visível o talento dos vários artistas que aqui se encontra e que precisam de oportunidade”, apelou.
Governo provincial garante melhorias
Da parte do governo local, o director provincial da Cultura, Francisco Ventura, afirmou que o governo provincial está a evidenciar esforços no sentido de reverter a situação da promoção cultural da província, mas adianta que não é responsabilidade do governo criar empresários culturais. O governante, que reconheceu as necessidades e insuficiências do sector que administra, diz estar a par da realidade das coisas.
Entretanto, justifica que o fraco desenvolvimento da cultura local é também fruto da pouca adesão dos munícipes aos trabalhos artísticos. “De facto, reconhecemos a insuficiência do mercado cultural da província, mas é preciso que se crie, antes, um mercado de consumidores. Temos mui- tos bons artistas, mas infeliz- mente a população local não consome os produtos na pro- porção necessária. Do ponto de vista de consumo artístico, somos um mercado muito pobre”, disse o responsável. Francisco Ventura assegura que o governo provincial tem estado a trabalhar para melhorar a situação, mas que, infelizmente, a falta de consumidores leva os empresários a não apostarem no mercado artístico naquela província.
POR: Bernardo Pires