Hoje pode-se assistir a espectáculos de humor com alguma qualidade e diversidade de temáticas e estilo em tudo quanto é canto do país, sobretudo na capital, Luanda, onde estão concentrados os principais fazedores da referida arte
A arte do humor em Angola vem ganhando cada vez mais espaço e notoriedade, conquistando um número infinito de apreciadores, adeptos e “público fiel” aos espectáculos que têm lugar em vários lugares do país.
Segundo especialistas ligados à arte, um pouco por toda parte de Angola, em especial nas províncias de Luanda, Benguela, Huíla e Namibe, se pode assistir a um espectáculo de humor com alguma qualidade e diversidade de estilos e temáticas que deixam o público entretido e cada vez mais apaixonado pela arte.
Para alguns fazedores desta arte, a ascensão do humor deve-se a muitos factores, entre os quais o considerável crescimento do número de humoristas, a melhoria da qualidade do trabalho que tem sido apresentado ao público, a diversidade dos temas e estilos e, sobretudo, a expansão da arte por meio das redes sociais.
Segundo o humorista Nanter, o humor nacional está a atravessar um grande momento, buscando se impor no mercado cultural e dando espaço para que os seus fazedores possam mostrar os seus trabalhos e se exprimir com maior liberdade e criatividade.
“Hoje podemos considerar que nós os humoristas estamos a viver um grande momento da nossa arte.
E tudo graças à grande abertura que a Internet deu-nos, por meio das redes sociais, que permitiu que muitos artistas pudessem mostrar os seus trabalhos e serem aceites sem qualquer restrição”, afirmou.
Já se pode tirar algum rendimento do humor
A mesma opinião partilha o também humorista Diogo Manuel, que avança que, apesar de ainda não ser ao nível desejado, já se consegue obter algum rendimento do humor “digno” para que o humorista não viva mendigando.
Apesar disso, defende a necessidade de um maior investimento na área de modo a conferir maior dignidade aos seus fazedores e potenciar a arte que considera ser uma das áreas mais apreciadas pelo público angolano, a par da música e do futebol.
“Estamos num nível muito bom, se comparado aos anos anteriores, mas ainda assim falta um pouco mais”, destacou, apontando, igualmente, que “temos um mercado do humor com maior visibilidade, mas falta investimento financeiro na arte.
O humor precisa de empresários que invistam no sector para maior expansão e internacionalização da arte, porque só assim teremos um mercado mais forte e consistente”.
Mais aposta na formação Por seu lado, o humorista Orlando Capata entende que, embora se esteja a viver um momento alto da arte, é preciso que os humoristas invistam na formação e aquisição de técnicas e conhecimentos para melhor desenvolver a arte e promovê-la com qualidade internacionalmente aceitável.
O mesmo disse que há uma maior facilidade e abertura para os humoristas e que estes têm a Internet como ferramenta-chave para se autopromoverem.
Frisou ainda que o público também é mais abrangente e que há cada vez mais pessoas com alto nível de literacia a assistirem espectáculos de humor, “daí a necessidade de os artistas aumentarem o seu nível de conhecimentos e melhorarem os seus conteúdos”.
“A arte não é estática, por isso é preciso saber inovar e estar munido de técnicas e conhecimentos para proporcionar um trabalho de qualidade ao público apreciador, porque hoje em dia o humor é visto por gente de todos os níveis e estratos sociais”, explicou, acrescentando que ”se o artista não estiver bem preparado pode fazer com que a arte seja banalizada”.
Abertura de mais espaços culturais
Por outro lado, uma outra preocupação manifestada pelos humoristas é a escassez de espaços culturais públicos, onde podem ser realizadas, regularmente, actividades artísticas, incluindo o humor.
Em Luanda, por exemplo, ao que pôde apurar este jornal, existe apenas um único espaço cultural voltado, exclusivamente, a eventos de humor.
Trata-se do Commedy Club Goz’aki, um espaço privado administrado pelo humorista e produtor cultural, Tiago Costa.
O espaço, situado na Ilha de Luanda, tem servido de palco principal para muitos humoristas, sobretudo os emergentes, que têm procurado ganhar espaço e visibilidade num mercado tão competitivo e dasafiador, como fez saber o próprio gestor do espaço.
“O Goz’Aki é um espaço que resulta de um projecto que tem por objectivo promover o humor nacional.
O nosso propósito é poder dar espaço e visibilidade aos jovens que têm talento para o humor mas que não têm tido oportunidade de poder mostrar a sua arte”, disse Tiago Costa, artisticamente tratado por “TC”.
Humor de intervenção social Conhecido por fazer um humor muito mais interventivo e às vezes “polémico”, Tiago Costa assume-se como um artista que tem o humor como ferramenta para despertar a consciência crítica da sociedade, sobretudo dos jovens, e promover a liberdade de expressão e de criação.
“Sou muitas vezes conotado como um ‘revú’, mas quem acompanha os meus trabalhos sabe na verdade que faço apenas um humor de intervenção social.
Procuro ‘gozar’ com os nossos problemas do dia-a-dia e de um jeito cômico tento despertar as mentes dos jovens e da população em geral sobre a necessidade de estarmos atentos aos fenómenos que ocorrem na nossa sociedade”, disse.
Por: Bernardo Pires