Os autores até reconhecem o crescimento do mercado literário nacional, com o surgimento contínuo de novos escritores e com um público mais adesivo aos eventos de venda e sessão de autógrafos.
No entanto, os custos financeiros acarretados na produção de livros continua a ser considera uma das maiores preocupações dos escritores quando se trata de produção literária nacional.
Para a publicação de uma obra, conforme disseram, vai sendo uma tarefa cada vez mais difícil e dispendiosa em termos de recursos financeiros. Para a escritora Cremilda de Lima, o mercado literário nacional tem registado um crescimento positivo contínuo.
À medida que vão surgindo novos autores e novas editoras permitem a massificação da produção de livros no país. Em contrapartida, diz a escritora, o crescimento contrasta com a realidade dos custos considerados “elevados e insuportáveis” que se associam ao dinamismo do mercado literário angolano. Segundo afirma, tantos os autores quanto as editoras, vêemse “aflictos” para poder produzir uma obra e colocá-la à disposição do público leitor.
“Eu penso que o mercado nacional tem crescido positivamente nos últimos anos à medida que vão surgindo novos actores e sobretudo novas editoras, umas com mais capacidades que as outras.
Mas a grande preocupação dos escritores a esta altura tem que ver com os custos que estão cada vez mais elevados, tudo aumentou muito e publicar uma obra está cada vez mais difícil”, disse a escritora de obras infantis.
A mesma destacou a necessidade de se reduzirem os custos, criando políticas ou ferramentas que ajudem os actores do mercado literário a produzirem os seus trabalhos com menos gastos o que, frisa, aumentaria consideravelmente a produção de livros em todo o país.
Preços altos vs lucros “quase” inexistentes
Os preços elevados têm dificultado visivelmente o processo de produção e publicação dos livros, desencorajando muitos autores que acabam por “desistir” de publicar por falta de financiamento.
De acordo com o escritor Nituecheni Africano, os custos associados à produção de uma obra literária são absolutamente “altíssimos” que quase não deixam margem de lucro para que o autor ou a editora, ao menos consiga retirar os valores que investiu.
“A título de exemplo, só 100 exemplares de uma obra de 150 páginas chega a custar perto de três milhões de kwanzas se feita numa gráfica com capacidade industrializada para garantir a qualidade necessária do livro em termos físicos”, revelou o promotor da Bienal do Livro que acontece em Maio próximo, no Huambo.
Acrescentou que os referidos custos impossibilitam o autor de obter qualquer rendimento sobre sua obra levando-o o mesmo a “depender” de eventos “extras” para poder compensar os recursos investidos tanto por si quanto pela editora.
“Com estes custos diga-me só, quanto é que o escritor vai vender a obra? Não consegue vender, praticamente acaba por oferecer a obra porque nem o próprio valor investido vai conseguir retirar”, contestou.
Na visão de Nituecheni Africano, o Estado deve investir no mercado literário para possibilitar a redução de custos e permitir que o “alavancar” da indústria literária no país que é geradora de emprego para centenas de famílias.
Apelo à retirada dos impostos aos livros
Como medida para sanar os efeitos dos elevados custos da produção literária no país, os escritores apontam para a retirada dos impostos sobre a indústria do mercado literário, concretamente às gráficas e editoras.
O escritor John Bellas, dirigente da Brigada Jovem da Literatura (BJL), entende que se o governo optar pela retirada ou redução considerável dos impostos, que pesa sobre a produção de livros, tal medida poderá impactar sobre os custos, fazendo com que haja redução dos preços elevadíssimos.
“O imposto está muito subcarregado para os livros e as gráficas não tiveram outra opção se não subir os preços, dada a subida dos materiais e ainda mais agravada com os impostos, o que torna ainda mais difícil publicar um livro”, disse.
Frisou que os preços altos levam a escassez dos livros no seio da sociedade e que tal ausência pode trazer graves consequências e atrasar o desenvolvimento da própria sociedade em si.
“Não existe em parte nenhuma educação sem livros e não existem livros sem escritores, então é preciso olhar para esta questão da valorização do escritor como prioridade”, advertiu.
Institucionalização do Dia Mundial do Livro A institucionalização do 23 de Abril como o “Dia Mundial do Livro” foi decretada em 1995, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), com o bjectivo de estimular a reflexão sobre a leitura, a indústria de livros e a propriedade intelectual em todo o mundo.
Foi escolhido o dia 23 de Abril em homenagem ao icónico escritor, romancista e dramaturgo inglês William Shakespeare, falecido a 23 de Abril de 1616 em Stratfordupon-Avon, Inglaterra.