A dupla Duo Canhoto e o músico e intérprete Dennis Samaya proferiram, no último fi m-de-semana, a abertura da temporada de concertos 2024, no âmbito do projecto “Sexta-feira de Trova”, uma iniciativa promovida pelo centro Cultural Palácio de Ferro
O concerto, que teve início perto das 20 horas de Sexta-feira,02, serviu para “consolar” os corações do público após a eliminação da selecção nacional de futebol do Campeonato Africano das Nações (CAN) edição 2023, que decorre na Costa do Marfim.
Depois de uma partida que, infelizmente acabou com o sonho dos angolanos em “cheirar” o troféu da competição, fruto da derrota por uma bola a zero frente a selecção da Nigéria, a experiente Dupla Duo Canhoto teve a “difícil missão” de alterar o estado anímico do público e entretê-los com boa música, carregada de nostalgia e empatia.
Uma missão que no começo parecia ‘impossível’ levou os artistas a testarem suas capacidades de contágio musical, fazendo com que estes tivessem que improvisar para trazer ao público o ânimo de levantar a cabeça e continuar a acreditar na nação, tendo a música como a principal arma.
Foram precisos pouco mais de 15 minutos, o equivalente a três canções seguidas, para o público, aos poucos, se recompor e deixar-se contagiar com as melodias profundas e frenéticas que as guitarras daquela dupla não parava de emanar.
Para “acordar” o público da sonolência da tristeza os artistas recorreram à icónica canção “país novo” de Maya Cool, nas vozes destemidas de Antero Ekuikui e Guilherme Maurício “Mito” que, com as suas guitarras, “cutucaram” os corações das dezenas de pessoas que compunham aquele restrito público.
Conquistados os corações e as atenções do público, a dupla não parou e “chutou” de seguida o poema cantado “Partida para o contrato”, de autoria de António Agostinho Neto, que levou a multidão ao delírio num misto de saudades e entusiasmo. Seguiram-se depois outros temas, alguns de autoria da dupla e outros interpretando de terceiros.
Profundidade na melodia
De modos a dar mais profundidade melódica nas canções, subiu ao palco o convidado de ‘honra’ da noite, o artista Dennis Samaya que introduziu a sua actuação com uma singela homenagem ao artista André Mingas, interpretando algumas canções suas como “Birin Birin” e “Os contratados”.
O público não conteve as emoções e voltou a fi car maravilhado quando, na companhia de Duo Canhoto, Dennis Samaya reviveu o tema “Mongangambé”, uma música que o mesmo disse ser uma referência nacional que muito tem infl uenciado na sua carreira como artista.
Dennis revelou que, tanto André Mingas quanto Rui Mingas, os tem como mestres da musicalidade e que são artistas que muito o ajudaram a ganhar paixão por músicas com profundidade melódica e temática.
“Para mim foram mestres que infl uenciaram muito a minha musicalidade e, recentemente, fomos surpreendidos com o passamento físico de Rui Mingas, então é sempre uma honra homenagear estes grandes ícones da música nacional”, frisou.
Além de interpretar artistas nacionais, Dennis Samaya não fugiu do habitual e trouxe também ao palco do Palácio de Ferro um pouco da musicalidade internacional, interpretando artistas africanos e afro-americanos, cantando na sua maioria músicas de artistas anglófonos.
Mais espaço para a promoção da música nacional
No fi nal da actuação, os artistas destacaram o importante papel do Palácio de Ferro na promoção da cultura nacional, em particular a música, e defenderam a abertura de mais espaços similares, sublinhando que a cultura carece de mais voz e visibilidade ou de iniciativas que permitam às pessoas, ao menor custo possível, terem acesso a espectáculos musicais e outros eventos culturais.
Dennis Samaya considerou que o mercado nacional da música, em particular da trova, precisa de mais investimentos e estímulos para que os artistas destas respectivas áreas musicais consigam fazer chegar ao maior número possível de angolanos a qualidade musical que estes proporcionam nos “pequenos” concertos em que têm sido convidados.
“Nós precisamos de mais investimentos como estes. Há muito poucos lugares que promovem artistas como nós [trovadores] e, de alguma forma, passamos despercebidos do público em geral algo que não é bom para a arte em geral, em particular a poesia musicalizada como acontece na trova”, defendeu.
Por sua vez, Antero Ekuikui destacou também a necessidade de mais abertura para os artistas do seu estilo musical e apontou a criação de mais espaços culturais e que possam promover concertos de trova como um bom caminho para a melhoria da qualidade do musical nacional.
Organização assegura continuidade
Em representação do director do Palácio de Ferro, a coordenadora de eventos daquele espaço cultural, Odeth Cassilva, garantiu que a instituição vai continuar a apostar na promoção da cultura nacional a todos os níveis e, no caso em particular da Trova, o centro tenciona realizar continuamente concertos, sendo que neste ano estão previstas seis edições do projecto “Sexta-Feira de Trova”, uma ligeira redução se comparado a 2023 em que foram realizadas nove edições do projecto que conta com Duo Canhoto como artistas residentes.
Kassilva explicou que a redução deve-se à carga de agenda no que refere a actividades por acolher este ano e, por outro lado, uma medida que visa dar maior diversidade cultural com a realização de outros eventos fora do habitual.
“Nós estamos actualmente com 15 rubricas, no ano passado tivemos um número reduzido, então tendo em conta a valorização de outros áreas artísticas, neste ano achamos melhor adicionar outras rubricas para que os artistas de outras áreas não fiquem de fora”, justificou.
De referir que o “Sexta-Feira de Trova” é um projecto promovido e realizado pelo Palácio de Ferro e que visa promover e valorizar a Trova, um estilo musical que junta a música e a poesia, tendo como artistas residentes a dupla Duo Canhoto que vão formando dueto com artistas convidados.
Os concertos no âmbito deste projecto ocorrem mensalmente, geralmente às primeiras Sextas-feiras de cada mês.