Cláudio Fernando da Costa Rodrigues, conhecido artisticamente como DJ Malvado, começou a dar os primeiros passos na carreira de Dj em 1992, aos 17 anos, ainda no seu bairro, Comandante Valódia, distrito do Rangel, em Luanda, influenciado pelo pai e por pessoas próximas que sempre estiveram ligados à música de uma forma ou de outra.
Conhecido na época com o nome de “DJ Cláudio Costelinha”, começou a tocar por influência dos ambientes festivos que eram recorrentes no seu meio familiar, sendo o seu pai, na altura, um regular e notável realizador de eventos que fazia da sua própria residência o espaço dos “grandes bodas” da família.
Na época, segundo conta, vários grupos musicais dirigiam-se à casa da sua família para ensaiarem, enquanto se preparavam para actuar nos grandes espectáculos musicais que aconteciam na capital do país, naquela altura.
“Tínhamos um quintal espaçoso, quase todos os finais de semana o meu pai realizava eventos, sejam festas da família ou de amigos, o nosso quintal era o espaço ideal para acolher qualquer tipo de festas daquela época”, começou por narrar o artista de 49 anos de idade.
À medida que o tempo foi passando, conta que sentia a necessidade de aprimorar as suas técnicas e ampliar o seu “stock” de discos. Passou então a colecionar discos (de vinil) ou cassetes, dos mais variados estilos e géneros musicais, para poder colocalos a tocar e animar os convidados sempre que houvesse eventos em casa.
Além de tocar nos eventos familiares, era chamado a tocar em festas da vizinhança, amigos, pessoas próximas e até em ambientes de convívio público, passando assim a conquistar o seu espaço no mundo dos dj’s, em finais da década de 1980 e princípio de 90, numa altura em que aquela actividade era marginalizada.
O nome de Malvado surge em 1999, com o lançamento do seu primeiro álbum intitulado “Dj Que Está na Moda” com o qual conquistou o primeiro prémio da carreira.
Influenciado pelos Kiezos
Embora seja um DJ e não músico, Malvado revela que sofreu uma forte influência dos ritmos do conjunto musical “Os Kiezus” que era um dos vários grupos de artistas que regularmente actuavam nas festas de sua casa.
Ver e ouvir a cantar aquele histórico agrupamento musical formado, na altura, por Domingos António Miguel da Silva “Kota Kituxe”, Aristófanes da Rosa Coelho (Adolfo Coelho), Tininho e Anselmo de Sousa Arcanjo “Marito”, deu a Malvado a motivação e inspiração para se “lançar”, ousadamente, nas técnicas de mistura e masterização dos sons, com foco na propagação dos ritmos nacionais.
“A minha casa recebia muitas festas, muitos eventos, mas em meio a todos esses eventos, os Kiezos estavam quase sempre presentes nestes eventos e aquilo me marcava.
Eu cresci a ouvi-los a tocar e a cantar, podiam até ter um ou outro artista a actuar, mas os Kiezos era como se fossem da família, estavam sempre lá e isso, de certa forma, influenciava na forma como eu tocava, nos meus gostos musicais”, recordou.
Além dos Kiezos, artistas como Don Caetano, Bangão, Paulo Flores, Bonga, Lulas da Paixão, Calabeto e outros que eram os mais notáveis artistas daquela época, tiveram uma forte influência sobre à construção da carreira de DJ Malvado que se afirma como um activo promotor da expansão da cultura angolana além-fronteiras.
“Apesar de ser um DJ versátil, procuro sempre não perder a minha identidade cultural e onde quer que eu vá, eu tento sempre misturar as nossas músicas com outros estilos internacionais”, ressaltou.
Primeiras actuações
Várias são as memórias que o Dj e produtor Malvado tem da sua carreira, dos vários eventos festivos em que tocou, desde as festas de quintais, maratonas, bailes de rua, festas da vizinhança, discotecas e clubs. Entre as inúmeras memórias da sua carreira, o artista destaca, em especial, a sua primeira actuação na cidade do Lubango, capital da província da Huíla.
Conta que na altura foi indicado para tocar na festa de aniversário de um familiar, num ambiente repleto de centenas de pessoas, incluindo os seus pais, irmãos, primos e entidades governamentais daquela província, uma vez que o tio aniversariante era um alto funcionário dos caminhosde-ferro de Moçâmedes, que passa pela capital huilana.
“Naquela altura era muito miúdo, mas ainda assim fui levado ao Lubango para tocar numa festa cheia de gente importante. Com coragem consegui tocar e dei um ‘show’ de arrasar que a partir daí fiquei tão famosos que as pessoas começaram a me solicitar a toda hora. Foi algo marcante, nunca me esqueço dessa festa”, expressou com nostalgia.
A sua primeira discoteca como DJ residente, foi a Mathieu, em Luanda, em 1992, e por lá ficou até 1994. Entre 1995 e 1999 são descritos pelo artista como os anos de migração e expansão do seu mercado de actuação, pois a sua boa prestação na entrada para a Boate Copacabana, bem como nas grandes festas de sucesso, abriram-lhe as portas para se afirmar nos grandes palcos e festivais.
Surgem então convites para as grandes festas de final de ano e carnaval da época. Assim, surgem também os primeiros convites das festas no Miami Beach (Ilha de Luanda), e a primeira grande festa do Mussulo.
Internacionalização da carreira
Actualmente, com mais de 15 prémios conquistados e uma trajectória invejável, Malvado teve a sua primeira internacionalização artística em 1992, em Lisboa, Portugal. Estando de férias na capital portuguesa, conta que foi convidado por amigos a ir a uma festa e quando lá chegou pediu para subir à cabine de som e brindar o público com a sua arte.
Na altura recebe também o convite de um amigo para se mudar para a África do Sul, onde ficou um bons anos a residir, estando sempre entre Luanda e África do Sul, passando por várias discotecas de destaque.
Ao longo dos 32 anos de carreira, Cláudio Rodrigues ou simplesmente Dj Malvado já teve passagem por variados festivais internacionais, actuando em cidades como Toronto (Canadá), Miami e Nova Iorque (EUA), Cape Town (África do Sul), Windhoek (Namíbia), Lisboa e Porto (Portugal), Paris (França), Londres (Reino Unido), Tóquio (Japão), e tantas outras.
Considerado por muitos como embaixador da música angolana devido à regularidade com que leva os ritmos nacionais para os festivais internacionais, Malvado afirma que tem procurado expandir os ritmos de Angola a todos os cantos em que passa, fazendo com cidadãos de outras nações dancem e contemplem a riqueza da diversidade musical que o seu país oferece.
“Nós temos uma cultura musical muito forte e contagiante, então em qualquer festival em que sou convidado a tocar levo sempre comigo a nossa kizomba, o semba, um pouco do nosso kuduro para mostrar o quão somos fortes culturalmente”, frisou.
Consolidação do legado
Com mais de 30 anos de carreira e uma trajectória impecável, Malvado afirma que está focado em deixar um legado positivo e inspirador à actual e às futuras gerações de Dj’s em Angola e não só.
“Quero deixar alguma coisa valiosa para os futuros dj’s, algo que lhes permita chegar mais distante do que eu já cheguei e sobretudo de levar a nossa cultura, a nossa música para outras realidades distintas da nossa”, disse.
Realçou que, ao longo dos mais de 30 anos de estrada, foi percebendo que a maior “riqueza” não é a fama ou o dinheiro que a sua arte lhe proporciona, mas a primazia de poder ajudar outros sonhadores e promissores a se tornarem profissionais de referência, realizando trabalhos de qualidade e excelência.
Exigente consigo mesmo e ambicioso nos seus propósitos, Dj Malvado acredita que a nova geração tem tudo à disposição para ir mais distante do que ele e outros Dj’s angolanos de referência já puderam chegar. Entretanto, adverte que é preciso ter disciplina, foco e sobretudo saber inovar, mas sem perder a essência.
“Hoje temos as tecnologias a nosso favor, o Dj tem mais ferramentas para fazer melhor o seu trabalho e é isso que procuro passar para as novas gerações de Dj’s, para os meus colegas ou para os jovens que têm trabalhado comigo”, frisou.
Acrescentou ainda que “a nova geração precisa aprender a inovar, sair da ‘mesmisse’, mas isso não significa que deve abandonar a sua essência, as suas raízes porque para se poder afirmar no mercado internacional é preciso ser autêntico e original”.
DJs que o inspiraram
Sendo um Dj, de certeza que haveria de existir um ou mais disc jockeys que o terão inspirado, influenciando na sua maneira de tocar e espalhar a sua arte musical. E nesta senda, entram para a lista de primeiras influências de Malvado nomes como Dj Mangalha Júnior e Amador Azevedo, Joy Macedo e Giro Lourenço.
Outro disc jockey que também o inspirou e, particularmente, revolucionou a sua maneira de tocar foi o Dj João Reis. Malvado explica que foi através de João Reis que aprendeu e aperfeiçoou a técnica de mixar (misturar) diferentes estilos musicais sem perder o ritmo ou o compasso, algo que depois passou a fazer com regularidade e se tornou uma das suas grandes ferramentas, na fase embrionária da sua carreira.
A nível internacional, o mesmo avança que ficou fortemente influenciado por Dj’s que mais tocavam músicas electrónicas naquela época, citando particularmente nomes como o norte-americano Erick Morillo e o afro-britânico Carl Cox.
Trajectória
Cláudio Fernando da Costa Rodrigues, conhecido artisticamente como DJ Malvado, nasceu em Outubro de 1975, no Município do Sambizanga, em Luanda. Começou a carreira de Dj em 1992, aos 17 anos, ainda no seu bairro, Comandante Valódia, e rapidamente se destacou, tornando-se uma figura incontornável no panorama musical nacional e de destaque internacional.
Com mais de 30 anos de carreira e uma trajectória impecável, Malvado arrebatou 17 prémios, entre nacionais e internacionais, e inúmeras vezes foi distinguido com méritos em reconhecimento do seu trabalho e o contributo da expansão da música angolana além-fronteira.
O Dj, produtor musical e de eventos assinalou, recentemente, 32 anos de carreira, tendo realizado um evento exclusivo, em Talatona, com a participação de familiares, amigos, colegas e pessoas próximas que terão impactado directa ou indirectamente a sua carreira artística. Promoção da Kizomba e de outros ritmos dos PALOP. Eles juntam os vários estilos africanos num único ambiente festivo onde a diversidade cultural é celebrada ao mais alto nível”, explicou.
Discografia
“Aquilo é um festival que serve de plata- forma vital para a promoção da Kizomba e de outros ritmos dos PALOP”
Ao longo dos 32 anos de carreira, Malvado colocou no mercado vários discos, singles e E.P’s, entre os quais constam o álbum “Dj que está na moda” (1999), single “Cem Respeito”, dueto com Chico Viegas (2000), “10 Anos de Noite” (2002) “Toque alto” (2006”), “From Africa to The World” (2010), “Xuta o Beat” (2011), “After 22” (2016), “Summe Sigh Say”, remix (2020) e a E.P “Ngola Nzomba & Ngola Groove”, lançada em 2022.
Malvado avança que brindou o público com uma mistura dos ritmos angolanos, tocando desde Semba, Cabetula, Kilapanda, Kuduro e um pouco de afro house. “Aquilo é um festival que serve de plataforma vital para a promoção da Kizomba e de outros ritmos dos PALOP. Eles juntam os vários estilos africanos num único ambiente festivo onde a diversidade cultural é celebrada ao mais alto nível”, explicou.
Prémios e Distinções
Durante os anos de carreira, o artista conquistou 17 prémios, de distinção nacional e internacional, destacando-se algumas distinções como “Dj Revelação”, da Rádio Luanda (1996), “Melhor Dj PALOP” residente na África do Sul (1998), quatro prémios de “Melhor Dj de Angola” (de 1999 a 2002), “Melhor Dj PALOP”, pela RTP e RDP ÁFRICA, PT (2004), “Melhor Dj, pela Moda Luanda” (2010), Melhor colaboração (Moda Luanda), em 2012, “Melhor Afro House”, pela Rádio Luanda (2013), “Melhor Álbum de Dj”, “Kizomba do Ano”, com música ‘Prazer Quebrado’ (2014), Prêmio virtual, destaque na pandemia nos LIVE’S STREAMING pela Platinaline (2020), distinção de “Prémio Carreira”, pela Moda Luanda (2022), e outros.
Projectos
Com uma carreira de destaque, que lhe permitiu arrebatar 17 prémios (entre nacionais e internacionais), Malvado adianta que está engajado num projecto musical que visa promover a música angolana nos grandes festivais internacionais, especialmente a Kizomba, que é dos estilos musicais nacionais mais apreciados internacionalmente.
Adianta que esteve recentemente em Miami, nos Estados Unidos da América, a tocar num festival musical dos PALOP’s, um evento que visa promover os ritmos musicais dos países africanos de expressão portuguesa, realizado por empresários cabo-verdianos e guineenses, em parceria com promotores de eventos angolanos, residentes naquela cidade americana.
No festival, além da Kizomba, Malvado avança que brindou o público com uma mistura dos ritmos angolanos, tocando desde Semba, Kabetula, Kilapanga, Kuduro e um pouco de afro house. “Aquilo é um festival que serve de plataforma vital para a promoção da Kizomba e de outros ritmos dos PALOP. Eles juntam os vários estilos africanos num único ambiente festivo onde a diversidade cultural é celebrada ao mais alto nível”, explicou.
Promover a Kizomba
Engajado em promover a Kizomba, o artista considera que o referido estilo musical tem sido um “cartão postal” de atracção turística e cultural, fazendo com centenas de cidadãos de outras nações despertem interesse e a vontade de visitar Angola e explorar a sua diversidade cultural e outras actrações.
Defende que é fundamental que se continue a investir na divulgação da kizomba e do semba, mas que esta divulgação não seja apenas em termos musicais e da dança, mas que também seja devida documentada, permitindo que outras pessoas possam estudá-la, saber da sua origem e da sua matriz cultural.
Ressalta que a música e a dança se tornaram elementos de união e intercâmbio entre povos de realidades socioculturais diferentes, rompendo barreira e permitindo a conexão entre as pessoas, independentemente das suas nacionalidades ou realidade cultural. “Como reflexão, sublinho a relevância da Kizomba enquanto embaixadora da cultura africana a nível global.
O seu crescimento internacional é uma prova de como a música e a dança conseguem transcender fronteiras, unindo pessoas de diferentes origens e criando pontes de entendimento e celebração”, salientou.