O papa emérito Bento XVI foi ontem sepultado nas grutas do Vaticano, local do antigo túmulo onde está João Paulo II, seu antecessor, que por sinal visitou Angola 17 anos antes, isto é, em 1992. O papa alemão visitou em 2009, como resultado de uma intensa diplomacia religiosa levada a cabo pelo Estado angolano, segundo considera Celso Malavoloneke
De acordo com Celso Malavoloneke, a viagem do papa emérito a Angola foi profícua porquanto resultou de uma diplomacia assertiva do Estado angolano, tendo este aproveitado a ocasião para apresentar ao pontífice católico a maquete do que virá a ser a Basílica da Nossa Senhora da Muxima, a maior devoção mariana a sul do sahara.
Para professor universitário, o facto do Estado assumir a construção da Basílica da Muxima pelo então presidente da República José Eduardo dos Santos e recentemente o actual chefe de Estado, João Lourenço, ter lançado a primeira pedra para construção e requalificação da Vila da Muxima, resulta do compromisso assumido.
“Já foram encontrados os financiamentos, feitos todos trabalhos burocráticos, administrativos, entre outros. E o ano passado o Presidente João Lourenço fez o lançamento da primeira pedra da Basílica da Muxima.
Este foi o grande resultado da visita do Papa Bento XVI, em Angola”, explicou. Celso Malavoloneke, que integrou uma “task force” por via do então Semanário Angolense para a cobertura papal, referiu que, embora não tivesse fisicamente nos locais em que a santidade católica passara, apresentaram em conjunto vários dossiers com curiosidades sobre o histórico dos papas.
“Tenho um livro sobre os papas, ‘história dos papas’ desde São Pedro até João Paulo II, e tinha aí tudo, curiosidades sobre o papado e etc.
O livro foi muito bom para nós, e foi um dossier que foi bem recebido pela comunidade católica.
Lembro-me que até os bispos parabenizam-nos porque trazia diversas curiosidades”, lembra.
Recomendações
Embora não tenha presente algumas das recomendações deixadas pelo papa emérito, o também escuteiro da igreja católica apostólica romana recorda-se que ele dizia que não podia deixar de visitar um dos primeiros países cristãos da África subsariana, o que de certo modo foi um tributo aos mais 500 anos de evangelização em Angola.
“Ele considerava Angola berço do cristianismo da África subsariana, essa expressão é dele, e é verdade para quem conhece a história universal, a história da igreja católica em África, sabe que o primeiro lugar onde o cristianismo se instalou foi no Reino do Congo, e o primeiro rei africano a enviar uma embaixada ao vaticano, ao papa, foi o Rei do Congo, o famoso Manuel Nvunda ‘Negrita’, que acabara por falecer em Roma.
E o papa Bento XVI fez questão de mencionar esse aspecto, que naturalmente foi satisfatório, honrou e orgulhou a todos”, salienta.
Preservação da Paz
Uma outra recomendação segundo o também académico era dirigida no sentido de encorajar os angolanos a preservar a paz, que tinha sido conquistada em 2002.
Naquilo a destacou como profundo, transmitiu uma visão dos benefícios que um país com potencial humano e económico pudesse ganhar com a paz.
“Ele dizia que o pilar do desenvolvimento são as pessoas, são os cidadãos, sendo que punha o capital humano à frente do potencial económico.
Angola tinha tudo para ser um grande país em África e no mundo, embora já à época estávamos perante a dois problemas, que acabamos por ter, designadamente a corrupção e a desigualdade”, recordou.
Liberdades e garantias dos cidadãos Em relação a este quesito, o profissional de comunicação, com passagem pelo Executivo angolano, fez saber que aquando da visita o então bispo de Roma abordou igualmente sobre os direitos humanos e das liberdades dos cidadãos, pois era um homem que prezava pela liberdade individual, das pessoas, tendo também feito menção à liberdade de imprensa.
Trata-se de uma liberdade fundamental dos seres humanos, a de informar e de ser informado, constando na declaração dos direitos humanos, que é a base de todas as constituições dos países modernos, e que por hoje constitui a grande baliza que diz respeito aos direitos liberdades e garantias dos cidadãos.
“E o papa menciona isso na altura, a questão da liberdade de imprensa.
Sabe-se que a comunicação, e principalmente a comunicação institucional, teve um desenvolvimento muito grande, uma expansão ainda maior durante o pontificado de João Paulo II, mas do ponto de vista de consolidação técnica e metodológica aconteceu no papado de Bento XVII”, concluiu o ex-secretário de Estado da Comunicação Social.