O contributo do escritor, político e enfermeiro Uanhenga Xitu foi destacado por alguns escritores, antigos colegas e apreciadores de seu trabalho durante uma cerimónia de homenagem dedicada ao autor de “Mestre Tamoda”, “Uanga” e “O Ministro”, decorrida em Luanda
Ao discursar durante o evento denominado “Autor do Mês”, que teve lugar nas instalações da Mayamba Editora e Livraria, o escritor Jofre Rocha destacou o importante papel de Uanhenga Xitu no campo político e literário, sublinhando que se trata de um filho que deixou um vazio à pátria. “Mendes de Carvalho foi um grande filho desta pátria.
É um homem que faz falta a Angola e aos angolanos. Temos que reconhecer o seu grande mérito como escritor e patriota, como alguém que se dedicou à libertação desta terra que hoje conhecemos livre e independente”, sublinhou.
Jofre Rocha afirmou ser um admirador de Uanhenga Xitu e das suas obras, a quem considera ser uma referência da literatura angolana, enaltecendo a capacidade realista e descritiva de narração dos contos e acontecimentos.
O também político partilhou com o público os momentos vividos com o homenageado, afirmando ter mantido o contacto com a obra do autor, pela primeira vez, por meio de estudos sobre a literatura angolana, em Benguela.
“Eu li a primeira obra de Mendes de Carvalho, creio que foi ‘Bola com Feitiço’, numa edição de um ex-padre que vivia em Benguela e editava vários autores de Angola e Portugal.
Fiquei cativado pelo realismo com que ele escrevia e, quando vim a conhecer outras obras engendradas na solidão das prisões, eu tive que reconhecer que ele tinha uma grande memória”, afirmou.
Por sua vez, o secretário-geral da União dos Escritores Angolanos (UEA), David Capenguela, considerou a homenagem merecida e digna, sublinhando que Uanhenga Xitu é “um mestre”, cujos ensinamentos devem ser muito bem explorados e passados para as novas gerações, para o enriquecimento intelectual e cultural da sociedade angolana.
“Devemos lembrar de Uanhenga Xitu como uma figura cujos feitos são transversais à política, à saúde e, sobretudo, à literatura.
Foi um escritor que sempre pautou pela união e deu o seu braço a torcer para que hoje a União dos Escritores se mantivesse firme e unida.
Foi um mestre e os seus ensinamentos devem ser partilhados com as novas gerações”, frisou.
Familiares preparam o centenário
Ao falar em nome da família, durante a sessão de homenagem, André Mendes de Carvalho “Miau” assegurou que será criada uma comissão de trabalho que se vai encarregar de tratar dos preparativos para as festividades do centenário de Uanhenga Xitu.
Miau aproveitou a ocasião para, em nome da família, agradecer a organização pelo gesto e manifestou a intenção em poder contar com a editora e com outras individualidades presentes naquele evento, para a realização do centenário de seu entequerido e referência em vários campos da vida social.
Presente na cerimónia, Adriano Mendes de Carvalho, filho do homenageado, relembrou os momentos passados ao lado do pai, tendo exaltado a importante figura que foi para si, não apenas como progenitor, mas enquanto mentor, protector e guia nas várias facetas da vida.
O governante disse olhar para a figura do homenageado como um grande nacionalista, alguém que tudo deu de si para ver um país melhor e com um povo que se orgulha de suas raízes culturais.
Sobre o homenageado
Uanhenga Xitu é o pseudónimo literário de Agostinho André Mendes de Carvalho, natural de Ícolo e Bengo (29 de Agosto de 1924 — Luanda, 13 de Fevereiro de 2014).
Foi enfermeiro, politólogo, político e escritor angolano.
Entre as diversas obras publicadas por Uanhenga Xitu destacam-se: Mestre Tamoda (1974), Mestre Tamoda e Outros Contos (1977), Manana (1974), Maka na Sanzala (1979), Vozes na Sanzala (Kahitu) (1976), Mungo: Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem (1980), Os Discursos de “Mestre” Tamoda (1984), Bola com Feitiço (1974), O Ministro (1989), Cultos Especiais (1997), Meu Discurso (1974) e outras.
Por: Bernardo Pires