A situação da degradação do edifício que alberga a União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP) tem decorrido durante anos, intensificou nos últimos meses devido as chuvas que caiem da cidade de Luanda. Em resposta, o Ministério da Cultura e Turismo criou uma comissão para analisar os problemas, para a sua possível
A questão da sua intervenção tem sido o grande desafio das várias direcções eleitas por sufrágio eleitoral, mas até ao momento nenhuma marcou passos com vista a materialização.
O ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau criou uma comissão para analisar os problemas, para a sua possível intervenção.
Elevado a Património Histórico Cultural nos primeiros anos após a proclamação da independência, é um local que devia atrair artistas e turistas de diversas latitudes, numa altura em que Luanda entrou na rota dos cruzeiros internacionais.
Situada na Rainha Njinga, um dos cartões postais da capital do país, o estado em que se encontra o edifício “afugenta” os amantes deste tipo de arte.
A imagem degradante do exterior torna-se apenas num mero acessório se comparada com a do seu interior.
Num dos compartimentos, na área de oficinas, o tecto “artisticamente” feito com madeira, telha entre outros materiais naturais, desabou parcialmente.
O que tem possibilitado, deste modo, maior penetração da água da chuva e, consequentemente, a sua degradação acelerada.
“Só para ver que parte do tecto já não existe.
Há simplesmente vestígios dos escombros, do que era anteriormente.
Mas ainda assim é possível lá estarmos, mas com receio de que a qualquer momento pode cair uma pedra, um pedaço de madeira, ou uma telha”, desabafou o secretário-geral da UNAP, Fernando de Carvalho “Tozé”.
O mesmo cenário é visível no Salão Internacional de Exposição e na Galeria 1.º de Maio, que se encontram encerrados devido à falta de manutenção.
O tecto falso está a desabar devido a erosão da água.
Ainda na Galeria 1.º de Maio, a nossa equipa de reportagem constatou que além da porta de vidro partida, os materiais que se encontram no local, que serviam de apoio durante as exposições, assim como algumas obras, estão a degradar.
As paredes, na parte exterior, assim como no interior, não mais escondem as agressões sofridas ao passar do tempo, que denunciam a necessidade de uma intervenção. Inconformado com a situação, o nosso interlocutor realça que desde 1977, ano que a sua organização foi aí instalada, o mesmo nunca beneficiou de uma profunda reabilitação.
Apesar do facto o secretário-geral garante que ainda assim não vão deixar de trabalhar porque é o edifício que têm, ou seja, o espaço que lhes foi cedido para funcionarem. Enquanto tais obras não acontecem, circular por este local provoca um misto de emoções.
Ao marcar-se passos, em certos pontos, o pavimento de madeira balança timidamente, dando a impressão de que está preste a desabar.
Segundo constatou a nossa equipa de reportagem, quatro escritórios que serviriam para acolher os fazedores de arte receberam a designação de “espaços mortos”, incluindo outros lugares, por estarem encerrados devido a degradação e a falta de iluminação eléctrica.
Porém, apesar de tudo isso há, ainda, uma sala que oferece algumas condições para as pessoas que prestam trabalho administrativos aos filiados desta organização, fruto de um trabalho paliativo realizada há oito anos.
Para satisfazer a necessidades das pessoas que ousam transpor os seus portões à procura de obras de arte, o secretariado da UNAP realiza, neste espaço, apesar das condições não serem das melhores, exposição permanente, com obras dos associados.
Apesar dos esforços, no sentido de estancar alguns efeitos desta degradação, com medidas paliativas, Fernando de Carvalho defende que o edifico precisa de uma intervenção profunda, de grande dimensão.
Um processo que passa por um estudo de engenharia e arquitesctura, para poder se encontrar condições técnicas e financeira a fim mantêla no activo.
Ministério da Cultura cria comissão para avaliar estado do edifício
Tozé avançou que, a questão da intervenção no edifício tem sido o grande desafio das várias direcções eleitas por sufrágio eleitoral, encarado como um dos principais objectivos. Contou que já tiveram alguns encontros com o anterior ministro da Cultura e Turismo, Jomo Fortunato, assim como o actual, Filipe Zau, onde apresentaram o problema.
Para melhor constatar a situação, Filipe Zau criou-se uma comissão para avaliar a intervenção necessária, onde em Fevereiro realizaram um encontro prévio, tendo sido solicitado os documentos necessários para que se pudesse avançar com uma proposta.
“Filipe Zau deu-nos ainda mais esperança, há um interesse por parte dele, que se faça a reabilitação do edifico, mas continuamos a aguardar”.
A par desta, outros intervenientes, como a Fundação Arte e Cultura, têm interesse em apoiar no rescaldo do edifício, e possuem condições técnicas e financeira para a realização dos trabalhos.
Mas, para que arranque com os trabalhos, o também artista plástico contou que necessitam da aprovação do Ministério da Cultura e Turismo, assim como do Instituto Nacional do Património Cultural.
Repensar a UNAP para maior dignidade
Preocupado, os artistas plásticos gostariam de ver a instituições em melhores condições, a promover e divulgar os seus trabalhos.
Para Adão Mussungo, o estado actual da sede da UNAP corresponde com a realidade que o país enfrenta, onde parte do património cultural, edifícios com grande simbolismo defrontam o mesmo problema.
Quanto aos espaços para exposições, que se encontram encerrados, observa que tem contribuido negativamente para melhor divulgação dos trabalhos dos artistas, por falta de condições dignas.
Mussungo defende ainda que o “Estado deve repensar esta situação, por formas a dar um lugar digno a classe das artes plásticas, ou por meio de parceria com empresas”. “É urge a necessidade de repensar o local onde os artistas se reúnem.
A sede da UNAP Deve ser reabilitada, restruturada para o bem das artes, visto que a sociedade carece de valores culturais e este espaço já foi o centro de reflexões para a sociedade”, ressaltou.
O artista reconhece o trabalho feito pela actual direcção, no sentido de agregar os associados e alavancar os seus trabalhos.
“É de agradecer, mas com o estado actual da sede da UNAP não vamos crescer. Vamos ter fé que dias melhores vêm para UNAP.
Já dizia Dr. António Agostinho Neto, visto que foi um dos locais que visitou e falou sobre o desenvolvimento do país”, sublinhou Ainda sobre o assunto, Fineza Teta considera que a UNAP hoje encontra-se no estado caído em desuso.
Pelo que tem constatado ao longo dos anos, a instituição nunca viveu dias melhores. Que sempre a encontrei mal, apesar de que uns tenha tentado dinamizar, enquanto outros puseram-na na sonolência.
Contou que diante da situação, pela primeira vez observou um grupo de artistas jovens a unirem-se em prol da instituição.
“Houve há dias, e fiquei surpreendida, uma campanha nas instalações da UNAP e aquilo chocou-me, porque era muito lixo guardado ali dentro.
E como é que as pessoas conseguiram conviver estes anos todos com tanto lixo, com tanta obra degradada, com tanta miséria de aparência no espaço”, questionou.
Apesar de reconhecer o facto de hoje haver união entre os profissionais, deplora à falta de eventos que possam agregar os artistas.
Sem saber ao certo o motivo que faz com que as direcções apresentem o mesmo posicionamento durante o mandato, observa que recorrem pelas mesmas vias, quanto a resolução dos problemas que são apresentados aos órgãos de tutela.
“Já sabemos que não vamos ter respostas.
Não podemos estar a toda hora à volta do círculo. A UNAP tem que criar parceiros que o apoie, porque não há esse amparo aos artistas em todas as áreas.
Então, acho que devemos parar de correr atrás destas instituições e arranjar soluções para que as coisas possam andar”, aconselhou.