Mesmo antes da formação dos reinos africanos e da organização administrativa colonial, o povo angolano já utilizava a dança como uma forma de comunicação e expressão.
Grupos como o Ngola Kimbanda e os Kibucas, sob a direcção do mestre Geraldo, foram alguns dos primeiros a organizar apresentações artísticas, com destaque para as danças nas zonas mais periféricas de Luanda, como o actual distrito da Samba, município de Luanda.
Ao fazer uma viagem pelas raízes da dança tradicional angolana, que enfrenta desafios, mas mantém-se viva no cenário cultural do país, Maneco Vieira Dias, presidente do Ballet Tradicional Kilandukilu, que se destaca na arte desde a década de 70, relembra que durante a época colonial, a dança servia como um importante meio de diversão para as comunidades, mas também de expressão de sentimentos como tristeza ou alegria, dependendo do contexto.
“Era uma prática que aproximava as famílias e amigos, e muitas vezes, os momentos de dança eram pretextos para encontros disfarçados que levavam mensagens políticas nos musseques”, conta. Com a Independência Nacional em 1975, um novo capítulo começou a ser escrito para a dança no país. Entre 1978 e 1984, surgiram conjuntos como o Grupo Experimental de Dança e o Grupo Amador de Dança, vinculados ao sector cultural.
Também se destacaram o Mulenda Show e o Experimental de Dança Kilandukilu, que hoje mantém seu nome como Ballet Tradicional Kilandukilu. Na mesma época, os anos 80 foram marcados por uma explosão de novos grupos, impulsionados pela influência de filmes de dança exibidos em cinemas de Luanda.
Um período tido como de auge da dança, onde a cidade viveu um efervescente movimento cultural com o surgimento de muitos grupos, como os Pré-Fabricados (hoje Grupo Yaka), Chocolates, Afro Club Doce Compasso, Lambada do Kinaxixe, Máquinas da Lambada, entre outros.
Outros grupos surgiram ainda na década de 90, com realce à Companhia de Dança Contemporânea de Angola (CDC Angola). Apesar de uma forte proliferação de grupos e estilos, actualmente apenas alguns conseguem se manter activos ao longo das décadas.
O Ballet Tradicional Kilandukilu e os Bismas das Acácias de Benguela estão entre os poucos que permanecem com mais de 40 anos de existência, enquanto outros, como a CDC Angola e o grupo Yaka, também celebram mais de 30 anos de história.
Ao longo dos anos, outros movimentos artísticos foram surgindo, muito deles protagonizados por bailarinos tidos como percussores da dança, que levaram esta arte angolana alémfronteiras.
Mesmo diante do sucesso das danças tradicionais, como o Semba, Kizomba, Kuduro, que ganharam reconhecimento internacional, Maneco aponta que a falta de apoio tem sido um obstáculo constante.
“Embora novos grupos surjam, eles enfrentam enormes dificuldades devido à escassez de apoios financeiros e materiais. O Semba, Tchianda e Kizomba têm sido reconhecidos como patrimónios imateriais, mas ainda há um longo caminho para consolidá-los internacionalmente”, observa.
Maneco também destaca a falta de apoio institucional como um dos maiores desafios para o desenvolvimento da dança em Angola. “A ausência de apoios, tanto financeiros quanto materiais, tem desmotivado muitas iniciativas.
Grupos com um histórico de qualidade se vêem limitados, e a falta de espaços acessíveis para apresentações de dança também é um factor crítico”, lamenta. Os altos custos de aluguel de espaços para ensaios e apresentações dificultam ainda mais a vida dos bailarinos e das companhias.
Em alguns casos, conta, os grupos formam parcerias com responsáveis pelos espaços, mas ainda assim considera suficiente para atender às necessidades do sector.
Estratégias para o crescimento do sector
Para reverter esse quadro e garantir a continuidade e o crescimento da dança no país, Maneco sugere a criação de apoios directos para grupos com resultados comprovados ao longo dos anos.
De igual modo, defende a introdução de um curso de dança na Faculdade de Artes de Luanda e a criação de mais espaços públicos nas municipalidades para apresentações culturais.
Ausência de apoio desanima artistas
Preocupado também com a situação da dança no país, Sita Sadok Kifukidi, licenciado no antigo Conservatório de Arte da República Democrática do Congo (actualmente INA – Instituto Nacional de Arte), disse que a ausência de apoio por parte das autoridades tem levado ao desânimo de muitos bailarinos, inclusive dos pioneiros da arte, que deixaram a prática por falta de condições para o desenvolvimento de seus projectos.
Sita Sadok Kifukidi, um dos percussores da dança no país, relembra a história dos primeiros grupos de dança que surgiram em Angola, como o Ngola Kimbanda e os Kibucas.
Estes grupos, que marcaram o início da profissionalização da dança, foram fundamentais para o fortalecimento da cultura angolana. Kifukidi destaca a importância do grupo Ngongo, que foi formado por artistas de renome, como Lurdes Van-Dúnem (de feliz memória) e Rodão Ferreira. “Esses grupos e artistas desempenharam um papel essencial na construção da identidade da dança em Angola”, afirma Kifukidi.
O também docente referiu que o grupo Escola de Semba, ligado à Fábrica de Sapatos Makambila, na Vila Alice, foi um dos pioneiros na popularização do Semba, dirigido pelos icónicos bailarinos Faísca e Mota, que se tornaram referências no cenário da dança angolana.
Em 1977, dois anos após a independência, foi criado o Grupo Amador de Dança da Secretaria de Estado da Cultura (SECULT), com a direcção dos mestres Domingos Ngizani e Massanpo Vieira.
Entre as grandes figuras que integraram o grupo estavam a exprimeira dama Ana Paula dos Santos e a dançarina Dina Simão. Kifukidi conta que estes nomes ajudaram a popularizar a dança tradicional no país. Logo após o Simpósio Nacional da Cultura, realizado em 1978, surgiu o Grupo Experimental de Dança, que mais tarde passaria a ser conhecido como Ballet Nacional de Angola, consolidando a dança como parte fundamental da cultura nacional.
Momentos áureos da dança
A década de 1980 foi marcada por um grande dinamismo na cena da dança, com o surgimento de novos grupos e a profissionalização da arte. Kifukidi relembra a chegada do grupo Mulenda Show, formado por jovens bailarinos que haviam retornado da República Democrática do Congo (Zaire).
Conta que estes jovens trouxeram uma grande renovação para a cena da dança em Angola, incluindo coreografias inovadoras. “Esses jovens foram pioneiros ao realizar a animação de abertura do Carnaval da Vitória, na Marginal de Luanda, em 27 de Março de 1981, evento que marcou um grande momento na história da dança do país”, conta Kifukidi, que dirigiu a apresentação.
Em 1984, o grupo Kilandukilu foi fundado, inicialmente como um conjunto de balé. No ano seguinte, o grupo passou a ser um grupo experimental de dança, com Kifukidi sendo o responsável pela transformação.
Foi nesse período que o grupo incorporou elementos de dança tradicional, dando origem ao Ballet Tradicional Kilandukilu, um dos mais renomados grupos de dança angolana.
Desistência dos pioneiros Apesar do crescimento significativo no sector artístico da dança em Angola, segundo o artista, a falta de apoio por parte das autoridades tem levado muitos bailarinos, incluindo os pioneiros, a desistirem da prática. Kifukidi sublinha que, tanto os jovens quanto os veteranos, ainda têm muito a oferecer, mas carecem das condições necessárias para continuar.
“Embora os grupos ainda actuem, eles enfrentam sérios desafios devido à falta de apoio. A falta de investigação, de formação e de espaços adequados tem levado à desistência de muitos pioneiros.
A criação de plataformas onde os grupos possam apresentar suas obras seria uma grande contribuição para a cena da dança em Angola”, afirma Kifukidi. O profissional defende que os grupos precisam de mais apoio financeiro e logístico para poderem se desenvolver e continuar a divulgar a cultura angolana. Que a falta de recursos tem sido um obstáculo para que as produções de dança atinjam seu potencial máximo.
Caminho para a sua valorização
A valorização da dança em Angola depende de um apoio mais robusto por parte das autoridades e da sociedade civil. Kifukidi sugere que sejam criados programas que incentivem a pesquisa, a formação profissional e a criação de espaços específicos para a realização de espectáculos.
Para si, a criação de um centro de estudos e a implementação de um curso de dança na Faculdade de Artes de Luanda seriam fundamentais para a melhoria do sector. “A criação de um curso de dança e de centros de pesquisa sobre as danças tradicionais poderia ajudar a preservar e a enriquecer a nossa cultura”, conclui.
Desafios e limitações no período pós-independência
Dentro do mesmo espírito, Ana Clara Guerra Marques, mestre em dança, disse que a ausência de políticas consistentes de apoio à formação de bailarinos, juntamente com professores insuficientemente qualificados e a falta de estrutura adequada, comprometeram o progresso da dança.
A bailarina, coreografa, uma das pioneiras da dança contemporânea africana, que fundou a CDC Angola, conta que as primeiras manifestações de dança tinham funções utilitárias e comunicativas, frequentemente associadas a rituais religiosos ou espirituais.
Ao longo do tempo, a dança foi se tornando uma forma de entretenimento e convívio social, até alcançar o status artístico. Antes da independência de Angola, a dança tradicional era uma expressão vibrante nas comunidades, mas não estava desenvolvida no campo cénico e profissional. Apenas uma escola de dança, fundada no final dos anos 1960 em Luanda, se destacava na formação de bailarinos.
Segundo a profissional, a escola, reconhecida pela Real Academia de Dança do Reino Unido, oferecia ensino profissional, com exames anuais supervisionados por professores britânicos.
No entanto, a instabilidade política e social anterior à independência fez com que as actividades da escola fossem encerradas, deixando Angola sem companhias profissionais de dança.
“Nas zonas urbanas, a dança ocupava um papel central no Carnaval de Luanda e nos centros de rebita, frequentados pela elite africana e funcionando como espaços de resistência política.
Nas áreas rurais, as danças tradicionais continuavam a ser um pilar da preservação cultural, transmitindo valores e histórias através das gerações”, sublinhou.
Com a independência, disse, o desenvolvimento da dança angolana ainda enfrentou obstáculos significativos. Em 1976, foi criada a Escola de Dança, vinculada ao Conselho Nacional de Cultura.
Contudo, o apoio estatal para sua consolidação nunca foi suficiente. A extinção do INFAC resultou na perda do estatuto da escola, que passou a ser parte de um instituto médio de artes, sem a autonomia necessária para se consolidar como uma instituição de formação profissional.
Com isso, a ausência de políticas consistentes de apoio à formação de bailarinos, juntamente com professores insuficientemente qualificados e a falta de estrutura adequada, comprometeu o progresso da dança. Como resultado, avançou, poucos grupos conseguiram se manter activos, com a CDC Angola sendo uma das excepções, resistindo às dificuldades financeiras e estruturais.
Nos anos seguintes, surgiram grupos como o Ballet Nacional de Angola e a CDC Angola, fundada em 1991. A CDC Angola, disse, foi pioneira ao introduzir temporadas de espectáculos, explorar espaços não convencionais e promover a inclusão artística, destacando-se como a única companhia profissional de dança em Angola. Outros colectivos como Kilandukilu, Yaka e Bismas das Acácias também contribuíram para a cultura angolana, com grande longevidade e impacto cultural.
Precariedade da formação artística no país
No entanto, a mestre Ana Clara Guerra Marques aponta a precariedade da formação artística no país. A substituição da escola de dança por uma área no sistema educacional, para si, reflecte a desvalorização da arte, o que resulta em alunos despreparados para os desafios da carreira profissional.
Também, a falta de conhecimento etnocoreográfico, especialmente entre os grupos de dança tradicional, tem contribuído para a distorção das manifestações culturais originais, colocando em risco a preservação do património cultural angolano.
Outro ponto crítico destacado por Ana Clara é a ausência de espaços adequados para a prática da dança. A mestre recorda o despejo da CDC Angola de sua sede como um exemplo claro da precariedade enfrentada pelos artistas.
A falta de mecanismos eficazes para implementar a Lei do Mecenato e outras políticas de incentivo à criação artística agrava ainda mais a situação, prejudicando a continuidade dos projectos culturais no país.
Desafios com a construção de novos espaços
A construção do Palácio da Música e do Teatro e Casa do Artista, prevista para 2026, gera tanto expectativas quanto preocupações. Ana Clara Guerra Marques questiona o planeamento e a funcionalidade dessas estruturas, especialmente em relação ao acesso dos artistas e do público, os custos de manutenção e a sustentabilidade do projecto a longo prazo.
A inclusão ou não da dança no nome do “Palácio da Música e do Teatro” também é um ponto de crítica. “Excluirmos a dança do nome dessas estruturas é uma marginalização inaceitável da arte.
A dança deve ser tratada com o devido respeito, como parte essencial da nossa identidade cultural. O Estado tem a responsabilidade de criar políticas que promovam a formação, a criação artística e a preservação do património cultural”, afirmou Ana Clara.
A mestre em dança alerta ainda que a falta de apoio à dança não afecta apenas os artistas, mas também o próprio processo de preservação cultural e transformação social. A dança é, para ela, muito mais do que uma forma de entretenimento; é um vector de transformação e identidade.
Sem políticas públicas consistentes e apoio institucional, disse, o país corre o risco de perder a riqueza cultural que a dança representa. “Sem apoio, estamos a perder a nossa identidade cultural e a possibilidade de desenvolver uma produção artística de qualidade”, concluiu Ana Clara, chamando atenção para a urgência em criar as condições necessárias para o desenvolvimento da dança e a valorização da arte no país.
Semba e Kizomba conquistam cidadãos esntrangeiros
Aevolução da dança em Angola ao longo das últimas décadas tem sido marcada por avanços significativos, mas também por desafios. O coreógrafo e professor de dança Inocêncio de Oliveira aborda as transformações que a arte da dança atravessou desde a independência nacional.
De acordo com o mesmo, antes da independência, a dança em Angola estava restrita a poucos núcleos e era praticada de maneira tímida, especialmente na exAcadémica de Dança.
Após a independência, passado décadas, o também coreógrafo e pesquisador destacou o início dos ensinos de dança nas escolas, a partir da sétima e oitava classes, como um passo importante para a massificação da arte.
Após a independência, houve uma maior abertura, especialmente na formação na área da dança, que se tornou uma realidade, com cursos médios que começaram há cerca de 20 anos.
Inocêncio também falou sobre os avanços significativos que a dança angolana conquistou nas últimas décadas, mesmo a nível internacional, mas lembrou que, em tempos passados, o país viveu momentos mais prósperos em relação à produção de grupos de dança, especialmente no campo das danças populares e recreativas.
Sobre a questão da continuidade de grupos de dança, Inocêncio observou que muitos desapareceram ao longo do tempo devido a diferentes factores, como as dinâmicas sociais do país e a falta de uma gestão sólida nos próprios grupos.
O Ballet Tradicional Kilandukilu, que este ano comemora 41 anos de existência, é um dos exemplos citados por Inocêncio como modelo de longevidade e sustentabilidade. Além deste, o Grupo Yaka e a CDC Angola também são mencionados como grupos resilientes.
“Os grupos com projectos bem estruturados, apesar das dificuldades, conseguem se manter activos”, disse. “Há uma grande esperança de que, em breve, seja possível oferecer ensino superior de dança em Angola”, afirmou, enfatizando que a formação, apesar de ser uma conquista, ainda enfrenta desafios.
Profissionalização e o papel da internacionalização
Em relação à profissionalização, Inocêncio destacou a importância de se abrir novas actividades para que os grupos se tornem mais sustentáveis e se mantenham vivos. “Alguns grupos não se abrem para outras possibilidades, o que impede seu crescimento e os leva ao colapso”, disse.
No entanto, o coreógrafo observou uma tendência positiva entre os novos grupos de dança. Aponta que muitos estão focados na profissionalização e na internacionalização das danças angolanas, como o Semba e a Kizomba, que têm feito sucesso fora do país.
Um dos maiores desafios para os grupos de dança em Angola é a falta de espaços adequados para ensaios e apresentações. Inocêncio enfatizou que a solução passa por projectos bem estruturados, capazes de superar essa limitação.
“Se trabalharmos com programas bem elaborados, podemos encontrar alternativas e garantir a continuidade dos nossos projectos”, pontuou. O futuro da dança em Angola, segundo o coreógrafo, está intimamente ligado à profissionalização e à inclusão da dança nos currículos escolares.
Deste modo, deseja que, em breve, a formação superior em dança seja uma realidade no país e que a disciplina de dança seja incorporada no ensino fundamental, utilizando a arte como ferramenta pedagógica para a preservação e valorização da cultura.
Sobre os projectos como o Palácio da Música e do Teatro e a Casa do Artista, Inocêncio demonstrou optimismo, mas enfatizou a necessidade de que esses espaços não se limitem a Luanda. “Espero que esses projectos se expandam para outras partes do país, beneficiando todos os trabalhadores da cultura e das artes”, concluiu.
Expansão da dança e os desafios estruturais
A dança em Angola tem-se expandido de forma constante, com o surgimento semanal de novos grupos em diversas províncias do país. Em locais como Luanda, Cazenga e Viana, por exemplo, até quatro novos grupos são criados a cada semana, segundo Adriano de Freitas, presidente da Associação dos Grupos de Dança de Angola.
Contudo, o cenário da dança no país ainda é marcado pela informalidade e por desafios estruturais que dificultam o desenvolvimento profissional da área. Adriano de Freitas, jovem que se destaca nesta área, observa que os novos grupos, muitas vezes compostos por apenas uma a três pessoas, se reúnem para praticar diferentes estilos de dança, que variam desde as danças clássicas e folclóricas até as modernas e recreativas.
No entanto, esses grupos carecem de formação técnica adequada. “Muitos aprendem de forma empírica, sem acesso a cursos ou capacitação. Isso reforça a necessidade de parcerias com centros de formação profissional, como o INEFOP, para oferecer cursos voltados para danças tradicionais como Kizomba, Semba e Tchianda, que já foram reconhecidas como patrimónios imateriais nacionais”, explica Adriano.
Adriano observa que o Centro de Formação Artística (CEART), que poderia se tornar uma referência na formação de dançarinos, enfrenta dificuldades devido à falta de candidatos e à infraestrutura precária.
Outro obstáculo significativo para o crescimento do sector é a ausência de um mercado artístico funcional. “Muitos grupos dependem de eventos sociais, como casamentos e recepções, para se sustentar.
Isso limita a possibilidade de consolidar uma carreira artística estável. Os grupos precisam de actividades regulares, como espectáculos, campeonatos e eventos culturais, mas para que isso aconteça é necessário um maior investimento no sector e uma sensibilidade política para apoiar a arte”, enfatizou.
Desaparecimento de grupos históricos
Adriano também destaca o desaparecimento de grupos tradicionais que marcaram a história da dança em Angola. Entre os exemplos mencionados, estão o Yaka, o Balé Nacional e o Socadense, que, segundo o presidente da Associação, não conseguiram resistir à falta de liderança, à transparência na gestão de recursos e ao apoio estrutural adequado.
“Hoje, o que vemos são fusões improvisadas entre dançarinos de diferentes grupos, que se unem para apresentações pontuais. Esse modelo não consegue sustentar a arte a longo prazo”.
Propostas para fortalecer o sector
Adriano de Freitas sugere que a criação de cursos de formação estruturados e a padronização dos conteúdos artísticos são essenciais para consolidar o sector da dança em Angola. Propõe ainda que associações e federações de dança colaborem com centros de formação para criar planos curriculares que atendam às necessidades específicas da classe artística.
Além disso, Adriano defende a construção de espaços culturais nos municípios, uma demanda que, segundo ele, muitas vezes é ignorada nos planos de intervenção urbana. “Luanda tem terra suficiente para erguer salas de espectáculos em cada distrito.
É triste ver que projectos culturais quase nunca são prioridade nas obras públicas”, lamenta. Por fim, reforça a importância de Angola criar um Conselho Nacional da Dança, seguindo o modelo do Conselho Internacional da Dança da UNESCO.
“Essa iniciativa permitiria que nossos grupos participassem de competições internacionais e mostrassem ao mundo a força da dança angolana, especialmente a Kizomba, que já é nosso cartão-de-visita global”, conclui.