Apesar dos preços e a qualidade das festas serem diferenciadas, com vista a alcançar a grande maioria dos convivas, ainda assim, a poucos dias para a realização das tradicionais festas de réveillon, os promotores de eventos queixam-se da fraca afluência dos cidadãos na compra dos ingressos. Já o GPL mantém o normativo que proíbe a realização de festas e espectáculos em zonas residenciais e em locais públicos, enquanto a Polícia tem mais de 100 mil efectivos garantidos para assegurar toda a quadra festiva
Areclamação vem dos próprios promotores de eventos culturais que dizem que, devido as dificuldades financeiras, a maioria dos cidadãos não estão a aderir às tradicionais festas de Réveillon que serão realizadas um pouco por Luanda.
Como prova, referem que, a poucos dias da realização dos eventos, muitos promotores não têm ainda sequer 50 por cento dos ingressos vendidos, embora tenham apostado em promoções há já um mês.
Apesar dos preços e a qualidade das festas serem diferenciada, com vista a alcançar a grande maioria dos conv iva s, ainda assim, os promotores de eventos queixam-se da pouca afluência dos cidadãos na compra dos ingressos, cujos valores oscilam entre os 10 e os 300 mil kwanzas.
É que, dizem os “homens das festas”, diferente dos anos anteriores, em 2023, face ao momento financeiro actual que as famílias enfrentam, muitos cidadãos estão a perspectivar passar a transição de ano em casa, igrejas, em ambientes familiares e noutros eventos mais restritos e que não exigem grandes esforços financeiros.
No entender dos promotores de eventos, a situação vai gerar impacto negativo nas contas e nos seus bolsos, com a antevisão de recolha de receitas abaixo daquilo que é habitual nesta fase derradeira do ano.
Chinho Devasso, promotor de uma das mais antigas festas, “Réveillon das Saudades”, no município de Viana, disse que, diferente dos anos anteriores, este ano as coisas andam cada vez mais complicadas porque houve uma redução dos convivas na compra dos ingressos.
A título de exemplo, disse que a edição deste ano do “Réveillon das Saudades” está a ser realizada para um grupo de 3.500 pessoas, mas que, ainda assim, só esta semana conseguiu-se vender uma fasquia perto dos 50 por cento, quando, noutra altura, num período como este, já teriam tudo vendido.
“A redução é muita. Numa altura como esta já teríamos quase todos os ingressos vendidos. Mas infelizmente nota-se que as coisas estão mesmo apertadas”, lamentou.
Nunca tivemos um ano assim”
Já Santos Rosário, detentor da marca RS-Eventos, considerou 2023 como sendo dos anos mais difíceis para realizar uma festa de Reveillon. Segundo o promotor, a poucos dias de realizar o seu tradicional “Reveillon dos Kotas”, no bairro Golf-2, ainda não tem sequer 30 por cento das vendas fechadas, o que poderá forçar o adiamento do evento que considerou ser uma tradição naquela zona do município do Kilamba Kiaxi.
“Está mesmo duro. Nunca tivemos um ano assim, tão difícil. Mas entendemos que as pessoas também não têm dinheiro. Mas vamos aguardar no que vai dar”, explicou.
“Cada promotor é um promotor”
Por seu turno, Euzio Coelho, membro do grupo “Drenosos”, promotor do “Réveillon White Edition”, na Ilha de Luanda, refere que, apesar da crise financeira das famílias, ainda assim, continuam a ter as tradicionais festas como um compromisso firmado, dadas as responsabilidades assumidas com o público e parceiros fiéis ao evento.
Conforme referiu, até ao momento já têm cerca de 80 por cento dos ingressos vendidos, pelo que, para si, representa um momento de orgulho a julgar pelas dificuldade que as famílias estão a passar, o que leva ao corte de várias despesas, sendo que as festas não são excepções. “Cada promotor é um promotor.
Apesar de as coisas estarem apertadas nós já temos o nosso público fiel. E é com eles que sempre contamos”, apontou.
“O que conta é a estratégia de comunicação”
Já Joel Carlos, promotor da festa de “Reveillon Viva La Vida”, no Benfica, disse que, apesar dos tempos de crise, o que mais conta, em todo este processo, é a estratégia de comunicação do promotor de evento. Conforme referiu, regra geral, as pessoas aderem às festas de réveillon quando a entidade promotora do evento é de confiança e garante segurança.
No seu entender, a olhar para este prisma, as pessoas sentem-se convidadas a fazerem parte da festa, independentemente do valor que é cobrado.
A olhar para o seu evento, disse que, até ao momento, a grande parte dos ingressos já foram vendidos e os quartos ocupados, tendo em conta que é uma festa de passagem de ano à beira mar.
“Nós produzimos essa festa de Reveillon há cinco anos. E os clientes já confiam nos nossos serviços. Ficamos descansados porque, apesar das dificuldades, as pessoas que aderem aos nossos eventos têm confiança do trabalho que prestamos”, assegurou.
“É importante o nome e a marca”
Alexandre Júnior, promotor do “Réveillon do Mawete, no município do Cazenga, corrobora a ideia de que, mais do que olhar para o dinheiro, os clientes se focam no nome e na marca sempre que vão para uma festa de réveillon.
E, frisou, para a imposição da marca e do nome é preciso que haja um “trabalho duro” baseado na confiança e no respeito pelos clientes. Conforme explicou, quando os clientes confiam na marca fazem de tudo para estarem presentes no evento por ser o réveillon uma festa única que é realizada apenas uma vez ao ano. “Por exemplo, mesmo com as dificuldades, nós já temos 350 ingressos vendidos para uma festa de 500 pessoas.
A acreditamos que até Sábado teremos tudo despachado. Então, é aquilo que digo sempre, o nome e a marca é conta para a angariação da clientela”, frisou.
Proibição do GPL “trava” farras desorientadas
A queixa dos promotores de eventos acontecem no mesmo ano que entrou em vigor o normativo do Governo Provincial de Luanda (GPL), que proíbe festas e espectáculos em zonas residenciais e locais públicos.
A medida está a ser vista como uma acção que vai travar a realização de festas de réveillon desorientadas, como vinha sendo realizada há anos na capital do país.
Entretanto, em Junho deste ano, o GPL proibiu a realização de eventos culturais e recreativos, espectáculos, bailes, festas e actividades religiosas em zonas residenciais e locais públicos.
Na altura, o GPL informou que a decisão foi tomada na sequência de várias denúncias e reclamações feitas pelos munícipes. Segundo o GPL, a poluição sonora provocada por eventos culturais e recreativos realizados em zonas residenciais “perturbam o silêncio, o bem-estar e as normas de boa convivência social” e colocam em causa a saúde pública.
Na nota, o GPL sustentava que estes eventos violam o artigo 22º, do decreto presidencial 111/11, de 19 de Maio, que regula a realização de espectáculos e divertimentos públicos.
O GPL avisa que “o não cumprimento das medidas acima indicadas implicará o cancelamento da actividade, para além da aplicação de outras sanções previstas no regulamento de espectáculos e divertimentos públicos”. Por outro lado, apenas o Governo Provincial de Luanda e as administrações municipais têm a competência de emitir licenças de autorização para a realização de festas a nível da província.
Polícia refirma garantia da tranquilidade
Por outro lado, mais de 100 mil efectivos da Polícia Nacional estão mobilizados durante a quadra festiva no país e deverão pautar a sua actuação pela pedagogia e respeito pelos cidadãos, conforme anunciou, recentemente, o director nacional de Segurança Pública e Operações da PNA, Orlando Bernardo, no âmbito da cerimónia de apresentação das forças para o asseguramento da quadra festiva Segundo Orlando Bernardo, mais de 106 mil efectivos da Polícia Nacional foram mobilizados para assegurar esse período festivo a nível das 18 províncias, numa operação denominada “Nkembo” (festa ou alegria na língua Kikongo).