Excesso de telas é um dos factores que afastam crianças dos livros. Autor do livro Faça-os ler – Para não criar cretinos digitais, o neurocientista francês Michel Desmurget enfatiza que “a leitura é uma espécie de herança que os pais passam para os filhos”.
“Não há solução milagrosa para perpetuar esse legado”, comenta ele. “Primeiro, promover a leitura. Uma criança tem mais probabilidade de se tornar um ávido leitor se for incentivada a ler, visitar bibliotecas, discutir sua leitura, for informada sobre a importância da leitura e ver seus pais lendo”, argumenta.
Outro ponto é demonstrar que a leitura é um prazer, mais do que uma obrigação. “Se ler for entendido como uma tarefa ou, pior, uma dor, a criança abandonará o hábito na primeira oportunidade”, acredita.
Para isso, ele sugere que pais estimulem os pequenos desde muito cedo, com leituras compartilhadas. Já a terceira dica de Desmurget é aquela que parece mais difícil nos tempos actuais: limitar o tempo de tela.
“Mesmo que uma criança goste de ler, ela não vai ler se seu tempo for consumido por videogames, séries e desenhos animados”, justifica.
Nesse ponto, ele faz um alerta: não cometer “o erro comum” de negociar o tempo de tela como pagamento após um determinado momento de leitura. “Isso fará com que ler pareça uma tarefa e as telas, o paraíso”, analisa.
Exemplo de casa
Os dados mostram que essa dificuldade é a ponta do iceberg de um país onde obras literárias não fazem parte do dia-a-dia.
Para criar o hábito, o exemplo é essencial. “Se o pai, a mãe ou o cuidador tem o hábito da leitura, pega um livro, se diverte com ele, comenta determinado trecho, já é extremamente importante.
Isso vai definindo e criando um lastro de exemplo a ser seguido”, defende o psicólogo Cristiano Nabuco, PhD em tratamento de dependências tecnológicas.