O colóquio integrou as celebrações dos 449 anos da fundação de Luanda pelo governador português Paulo Dias de Novais, alinhada às comemorações dos 50 anos de independência nacional.
O escritor Hélder Simbad, um dos convidados do painel, destacou a complexidade da capital angolana. “Luanda representa um cruzamento de narrativas que incluem ancestralidade, colonização, independência e contemporaneidade.
É uma cidade em constante transformação, tal como a vida”, afirmou. Simbad também reflectiu sobre a diferença entre a Luanda do passado e a actual, mencionando o surgimento de grandes estruturas, como a Centralidade do Kilamba, e as demolições de edifícios históricos.
O escritor defendeu a preservação de construções antigas como forma de valorizar a história da cidade. “Edifícios como a Fortaleza de São Miguel são exemplos que não podem desaparecer, pois carregam nossa memória coletiva.”
Outro ponto alto do evento foi a análise do poema “Kinaxixi”, de Agostinho Neto, fundador da nação angolana. Domingas Monte, membro da UEA, destacou como o poema captura a memória da Luanda dos anos 1950, contrastando com as transformações ctuais.
“O tempo na cidade não é linear. A memória urbana de Neto é subjectiva e colectiva, revelando as mudanças entre o antigo e o novo, do Kinaxixi histórico às novas centralidades”, explicou.
Literatura como Patrimônio Cultural
O escritor António Quino também enfatizou a ligação intrínseca entre Luanda e a literatura. Segundo ele, a capital é um caldeirão de vivências culturais, desde os bairros mais simples até as áreas mais modernas.
“A literatura é a forma mais fiel de revisitar a história de Luanda. Ela vai além das fontes históricas tradicionais, permitindo uma experiência criativa que conecta lugares e pessoas”, destacou.
Quino também reflectiu sobre o impacto dos desafios sociais e econômicos na criatividade literária. “Quanto mais complexa a realidade, maior é a riqueza para a literatura.
Luanda, com todas as suas contradições, inspira e fortalece a produção artística.” No entanto, o escritor alertou para a necessidade de preservar os arquivos históricos e documentais, apontando lacunas que podem comprometer a memória coletiva.
Literatura e Juventude
O administrador do município da Maianga, Orlando Paca, destacou que as actividades culturais, incluindo o colóquio “Escrever Luanda”, estão alinhadas às comemorações dos 50 anos de independência nacional.
Ele ressaltou o papel da literatura na formação da juventude e no fortalecimento das comunidades. “Queremos que a literatura seja mais presente na vida dos jovens, incentivando a leitura, a escrita e o diálogo crítico.
Estamos comprometidos em criar projectos sustentáveis que promovam a cultura e a literatura, mesmo após o fim do nosso mandato”, garantiu Paca.
O evento, que contou com uma adesão significativa, reforçou a importância de Luanda como fonte de inspiração literária e patrimônio cultural, destacando o papel da literatura na preservação da memória e na construção de um futuro culturalmente rico.