Manuelito, como era chamado no mundo artístico, foi um instrumentista que dominava viola-baixo, tendo passado em vários conjuntos como os Kissanguela, do qual foi fundador, os Águias Reais e com última morada no agrupamento.
Os Kiezos. Hildebrando de Jesus, guitarrista e director artístico dos Kiezos, descreve este momento como de pro- funda consternação, de dor e tristeza, por se tratar de um amigo muito próximo, apesar de colega de trabalho, com quem cresceu no Marçal e tiveram a oportunidade de tocar nos Águias Reais e no Kissanguela, a viajar muitas vezes para animar grandes eventos culturais.
“Já estive na casa do óbito para obter novas informações sobre o dia em que será feito o funeral. É um momento muito triste e doloroso, perdemos um amigo, companheiro de guerrilha, estou sem palavras para falar tudo o que ele significou para mim. Foi um homem de trato fácil…”, disse consternado.
O músico lamenta o facto de os artistas considerados da “velha guarda” merecerem pouca atenção por parte das entidades de direito e não só, mas que apenas no momento de agonia preocuparem-se com tudo e todos.
O multi-instrumentalista Raúl Tolingas, do conjunto Kissanguela, disse também estar triste com a notícia do passamento físico de Manuelito, que aconteceu numa altura em que ninguém esperava.
Apesar de o malogrado padecer de algumas patologias, como problemas cardíacos, não esperavam por tal acontecimento. Disse que Manuelito era um elemento imprescindível, um dos cantores do conjunto que animava o agrupamento nas várias actividades em que participavam.
Descreve-o como um óptimo ser humano, que trabalhou durante muitos anos no campo musical, assim como o seu pai, que foi um homem ligado à cultura. Disse ainda que, pela idade que tinha, 73 anos, muitos o tinham como conselheiro.
“Semanas antes tivemos informação de que havia melhorias, mas infelizmente aconteceu isso. Desde que entrou à UTI não mais saiu, apesar de os médicos dizerem que havia melhorias. Estávamos a pensar que seria uma coisa passageira. Tinha também hérnia discal, mas os problemas cardíacos o levaram várias vezes a ser internado, disse desolado.
Quem também ficou surpreendido com a notícia é o guitarrista Teddy Nsingui, que teve conhecimento do passamento físico do artista através do nosso contacto, ontem. Mostrou-se profundamente surpreso com o facto, apesar de saber que o seu estado de saúde era um pouco fragilizado.
“Sabia que ele estava internado numa clínica há cerca de um mês, pela conversa que tive com alguém que me disse que o seu estado de saúde era preocupante. Ele ficou em coma durante um tempo… a perda de uma vida humana é sempre algo que nos abala, que nos deixa uma marca triste. Ao se tratar de um colega, amigo, é muito, muito mais ainda difícil.
Sinto-me profundamente desolado”, disse Teddy. Sobre o seu colega colega companheiro de várias jornadas de trabalho, disse ter tido os contactos de trabalho desde os primeiros momentos que pisou o solo pátrio, nos anos 70, aquando da criação do conjunto Inter-Palanca com Matadidi Má- rio, no agrupamento Kissanguela.
Tiveram o primeiro local de ensaio no referido agrupamento, com a oportunidade de usar os equipamentos do conjunto num evento, em 1976, disse, mas foi no agrupamento Os Kiezos onde trabalhou até aos seus últimos dias de vida.
Artista inspirador
Também consternado, Dom Caetano disse que Manuelito faz parte daqueles artistas que seguiu durante a sua formação como músico. Conheceu o malogrado nos “Águias e Viagens”, em 1972. Lembra que era viola-baixo dos Águias Reais, que depois seguiu o seu percurso com a constituição do Kissanguela, em 1976.
“Qualquer notícia desta natureza apanha sempre as pessoas em contrapé, e o sentimento não deixa de ser nostálgico. Porque, afinal de contas, ele também faz parte daqueles músicos que muito fizeram pela nossa cultura”, sublinhou.
Ao falar do conjunto Kissanguela, recorda que era um grupo político de marca especial para a Presidência da República naquela altura, pois se fazia sempre acompanhar nas deslocações do Primeiro Presidente de Angola, Dr. Agostinho Neto, a Guiné Conacri e outras paragens de África.
Depois passou a lhe ver muitos anos mais tarde no conjunto Os Kiezos, onde até aos seus últimos dias foi um trabalhador por excelência. “ Kiezos acolheu-o de forma grata e satisfatória, com algum aconselhamento de Manuel… havia algumas mudanças no grupo, porque era aquilo que ele percorria.
Infelizmente, nos últimos tempos, esteve a sofrer de uma patologia que o incomodou, com algumas baixas hospitalares, e agora este último internamento no hospital Girassol onde não pôde mais sair”, lamentou.
O músico
Manuel Claudino da Silva nasceu em Luanda, bairro Zangado, no dia 2 de Julho de 1952. Era baixista e é considerado um dos fundadores do agrupamento musical “Kissanguela”, uma das formações mais representativas da canção revolucionária.
O malogrado gravou o seu nome na história da Música Popular Angolana, tendo-se notabilizado como baixista no conjunto “Águias- reais”, em 1970, a convite do cantor e compositor Carlos Lamartine.