Sensibilizar o público, essencialmente os citadinos, ao uso dos hábitos e costumes tradicionais, veiculados através de expressão artística e cultural, tem sido a principal meta do projecto “Estórias do Imbondeiro”, desenvolvido pelo Centro de Ciência de Luanda (CCL)
Já na 4.ª edição, através dos cinco contos de autores angolanos que narram os vários aspectos tradicionais, o evento permitiu a imersão do público à cultura nacional. Realizado no passado sábado, 31 de Agosto, contou com a presença de mais de 200 cidadãos, entre crianças, adolescentes e adultos.
Segundo o director-geral do Centro de Ciências de Luanda, Diogo Morais, a actividade é baseada na leitura, comentários, interpretação de estórias curtas, adivinhas, provérbios, poesia e outros momentos que têm permitido ao público ‘mergulhar’ nas raízes da cultura tradicional angolana, transmitida através das diferentes manifestações culturais e artísticas propostas.
Deste modo, disse, pretendem preservar a cultura nacional, dando abertura ao conhecimento, uma vez que surgem para dar resposta a esta necessidade, sobretudo atender as crianças sem conhecimento da cultura e da tradição oral.
“O grande motivo de alegria é que conseguimos juntar aqui varias gerações. Conseguimos também criar um intercâmbio de gerações. Por isso, o nosso público é diversificado. Temos crianças, jovens, pais, mães, avôs, entre outros, todos num sítio só, debaixo do nosso Imbondeiro”, disse o resresponsável com satisfação.
Selecção dos contos
A presente iniciativa tem a parceria do professor e escritor José Luís Mendonça, cujas estórias contadas são baseadas em suas selecções e sugestões. José Luís Mendonça avançou que o projecto é uma iniciativa do CCL, tendo sido convidado a contar estórias sobre a tradição nacional.
O escritor avançou que os contos têm sido curtos, por formas a ajudar na percepção do público, principalmente das crianças, mas considera curioso o facto de cada obra apresentar lição de moral para a vida.
“Tem estórias de seis a oito grandes escritores, que são contos muito interessante, e cada uma tem uma lição de moral para a vida. Apesar de serem todas anónimas, a pessoa que as criou tem uma grande imaginação, porque se vê que há coisas difíceis de acreditar, mas a vida é mesmo assim; são literaturas que podem ser apresentadas em qualquer parte do mundo”, sublinhou.
Contos em destaque
O “Estórias no Imbondeiro” é realizado no último sábado de cada mês. Nesta edição, o programa levou ao público cinco novas estórias, nomeadamente “Ombela: a Origem das Chuvas”, do escritor angolano Ondjaki, uma recriação com base na tradição Ovimbundu, pois “Dizem os mais-velhos que a chuva nasceu da lágrima de Ombela, uma deusa que estava triste.
A segunda estória, “O Homem e o Monstro”, recolhida em Malanje, fala de um chefe de família que visita os sogros, mas é interpelado no caminho por um monstro que o obrigava a repartir tudo o que recebera dos parentes.
Seguiu-se a ‘‘Águia e o Candimba (coelho)’’, outro conto da tradição ovimbundu, recriada pelo escritor Raúl David, cujo enredo anda à volta de um machado emprestado pelo coelho à águia e, na falta de devolução por esta, só o cágado resolverá a disputa. Do livro “Kilandukilu” (divertimento, em quimbundu), recolha do escritor angolano Óscar Ribas, contou-se a estória ‘‘O Sapo e o Elefante’’, que narra a disputa da senhora Maria, que tanto o sapo como o elefante pretendiam para esposa.
No final, o sapo leva a melhor sobre o elefante, através da astúcia. “O Leão e a Toupeira eram amigos”, assim começa a última estória, uma fábula da literatura oral de Icolo e Bengo. Esta fábula ensina a comunidade a reflectir antes de tomar uma decisão, como enfrentar as dificuldades e como ficar longe da tristeza