As sessões, com entradas grátis, estão previstas para Sábado e Domingo, na Fábrica de Sabão do Cazenga, em Luanda, às 15 horas, com a exibição de um vídeo sobre a História da Dança ministrada pela coreógrafa e directora artística da CDC Angola, Ana Clara Guerra Marques
POR: Augusto Nunes
“Um programa diferente com uma dança diferente”, este é o mote do espectáculo da Companhia de Dança Contemporânea de Angola (CDCA), a realizar-se dias 27 e 28 do mês em curso na Fábrica de Sabão, do Cazenga, em parceria com a Alliance Française de Luanda. Os shows, inseridos nas celebrações do 29 de Abril, Dia Mundial da Dança, a assinalar-se na próxima Segunda-feira, incluem um excerto da obra “Mpemba Nyi Mukundu”, inspirada num conto da oratura cokwe, cuja mensagem faz-se transportar para a actualidade através da utilização de novas tecnologias, e um dueto de dança inclusiva seguida de sessão de aprendizagem de um fragmento de uma peça.
O espectáculo prossegue Domingo no mesmo recinto, com um bailarino, coreógrafo e professor de danças urbanas, o francês, Yugson, criador do Projecto “Hawks Method”. O assessor da Companhia de Dança Contemporânea de Angola, Jorge António, numa mensagem da agremiação dirigida a todos os profissionais da área, por ocasião do Dia Mundial da Dança, referiu que numa data em que se celebra o nascimento do coreógrafo Jean- Georges Noverre; a CDC Angola desafia a sociedade para uma reflexão mais alargada, para a qual convoca os propósitos deste teórico francês, ao exigir para a dança um estatuto profissional quando, há quase 300 anos, defendeu a necessidade de um suporte teórico e técnico para os professores, coreógrafos e bailarinos. Jorge António admite que, embora esta questão seja alvo das suas insistências propõem-se, desta vez, realçar um aspecto que esteve subjacente às reformas que Noverre estabeleceu.
O também investigador realçou que, ao reivindicar a criação de obras exclusivamente dançadas e com uma linha narrativa autónoma, Noverre pretendia desviar a dança do papel meramente subsidiário e de artifício que possuía nos grandes espectáculos de ópera. Segundo o assessor, isso remete- nos para um conjunto de questões como o significado de arte e de entretenimento, a diferença entre profissionais e “fazedores” ou o conceito de liberdade criativa. Já a coreógrafa e directora artística da CDC Angola, Ana Clara Guerra Marques, realçou que em Angola a dança está cada vez mais em mãos de quem não estudou, não dançou, não sabe coreografar e nunca viu uma peça de dança, mas, que se auto-denomina “professor (a)”, “coreógrafo(a)”, “director (a) artístico (a)”, “bailarino (a)”, designações que no seu entender são largamente multiplicadas e repetidas pelos meios de comunicação, dando a impressão, errada, de que existe uma comunidade de dança activa e culta em Angola. “O solo é fértil. Tudo cresce! E enquanto a diversificação da economia não chega (Lollll), as ervas daninhas continuam a tomar conta dos campos! ”, ressaltou. A coreógrafa disse que continua a escrever também para que um dia a história não esteja vazia neste capítulo, e para que as novas gerações e as futuras, venham a saber que houve alguém que não alinhava na mediocridade, defendia a dança como arte, lutando para que as profissões a ela ligadas fossem dignificadas.