Carnaval da Dipanda já mexe Luanda

A poucas semanas da realização do desfile competitivo do Carnaval comemorativo do 50.º aniversário da Independência Nacional, dirigentes e bailarinos de distintas agremiações carnavalescas de Luanda limam arestas, reforçando os ensaios e todo o aparato técnico nas suas circunscrições

Em cada hall da localidade, escolhida pelos seus responsáveis para a articulação preparatória dos foliões, é visível a enorme satisfação e dedicação dos bailarinos, assim como de algumas anciãs, por sinal antigas bailarinas, entregues aos exercícios finais, à volta das suas danças típicas, como o Semba, a Cabecinha, a Dizanda, a Kazukuta, a Varina, a Sambalaje, entre outras.

Apesar das tarefas e responsabilidades que cada um dos integrantes das agremiações visitadas está envolvido, a decisão é apenas uma: trabalhar para vencer a competição e balancear a actividade desenvolvida para descobrir as falhas registadas durante a sua preparação.

Neste contexto, a nossa visita às sedes de grupos carnavalescos da cidade capital iniciou-se na pitoresca Ilha de Luanda, município da Ingombota, no reduto do União Mundo da Ilha, grupo que detém o maior número de títulos na história do Carnaval de Luanda.

Curiosamente, nesta localidade, ao aproximarmo-nos da sede, na parte frontal, deparamo-nos com algumas anciãs trajadas à bessangana e os jovens a pescador, sentados na calçada, aguardando pela chegada dos demais membros do grupo para iniciarem os ensaios.

Enquanto aguardavam pelos outros, as mamãs, para não se manterem paradas, procuravam exercitar-se exibindo alguns toques típicos da sua dança Semba, esquematizada ao som da música vinda da aparelhagem oficial no interior da sede, para apresentála na presente edição do entrudo.

Já no salão desta agremiação, para quem o deleite do Carnaval corre por gosto, o rufar do batuque, associado a instrumentos musicais típicos do carnaval ali executados, aproximavam cada vez mais os transeuntes, os motociclistas e alguns automobilistas que por lá passavam.

O entoar das suas canções levava muitos deles a render-se à repentina exibição no salão da agremiação, tornando-se assim um verdadeiro chamariz para muitos aproximarem-se cada vez mais e juntarem-se aos bailarinos.

Uns, que por sinal já se tornaram habituais frequentadores daquele espaço carnavalesco, sobretudo pela dança contagiante, preferiam mesmo ocupar o tempo que lhes restava, após a jornada laboral, com a apreciação dos ensaios deste grupo que mais títulos acumulou no Carnaval luandense.

Neste local, nem mesmo o ruído produzido pelos automóveis na via adjacente interferia na música e nas atenções do público e dos bailarinos desde magnífico grupo carnavalesco.

Aproveitando o ambiente destes, fizemo-nos à corte e abordamos Samuel Manuel, o comandante desta formação carnavalesca, que de forma harmoniosa, entusiasmada e decidiu suspender, por uns instantes, a atividade, para colocar-se à nossa disposição.

Questionado sobre os preparativos do grupo, assim como as novidades desta formação em termos de exibição nesta edição de 2025, que celebra os 50 Anos de Independência Nacional, Samuel referiu que, apesar de a agremiação estar a trabalhar a meio gás, esforços estão a ser empreendidos para a sua vitória no Entrudo, prometendo assim surpreender e emocionar os foliões na Nova Marginal.

“Estamos a trabalhar a meio gás, mas isso não nos impede e não desencoraja. Pelo contrário, incentiva-nos e fortifica-nos ainda mais. Temos muita força anímica e, como deve saber, perdemos agora o nosso presidente.

Não está sendo fácil, mas estamos a lutar para manter o grupo ativo na marginal. Garanto-vos”, sublinhou Samuel Manuel. Apesar de a referida direcção não ter ainda concluído a maior parte do seu trabalho relacionado aos preparativos, devido à chegada tardia de alguns recursos, sobretudo patrocínios para o reforço das suas acções, o comandante realçou que tudo está a ser feito ao detalhe, para que se tenha desfile mais competitivo e organizado, como o previsto.

“Muitos ainda vão-se emocionar com o espetáculo que o União Mundo da Ilha vai apresentar. Vamos levar emoções e muitos não se vão conter, até mesmo eu, como comandante do grupo.

Estamos há sensivelmente um ano sem o nosso presidente e estamos a preparar um Carnaval de levar emoções e delírios à Marginal”, realçou.

Samuel Manuel recordou que, apesar de alguns avanços na preparação do referido grupo, a partida prematura do seu líder, António Custódio “Ti Mano”, está também, em parte, a refletir-se em alguns aspectos internos da agremiação, uma vez que, este, está a trabalhar apenas com a sua direcção.

Mas garante que o grupo e a sua direcção estão a trabalhar incansavelmente para a vitória do Entrudo, prometendo igualmente surpreender e emocionar os folhões, uma vez que as suas acções, ao nível de preparação, assim evidenciam.

União Operário Kabocomeu afina preparativos

Prosseguindo a nossa ronda no município do Sambizanga, chegamos até a sede do União Operário Kabocomeu, o emblemático grupo de Kazukuta.

A dança arrasta multidões, pela sua perspicácia, exige dos seus executantes maior perfeição e entrega, e ressaltamos, à primeira vista, no hall da agremiação, um ambiente de preparação aconchegante, envolvendo os bailarinos, apoiados por uma falange voluntária, criada por vizinhos, filhos de bailarinos e dirigentes para partilhar a força anímica.

Nesse espaço reservado aos exercícios finais, abordamos Manuel Filho, o vocalista e coordenador do grupo. Visivelmente satisfeito com a prestação dos seus bailarinos aos ensaios, assim como da claque, que incansavelmente partilha as suas emoções e energias positivas, em apoio ao grupo, adiantou que a formação está em boa forma e com muita força para brindar os foliões.

O vocalista manifestou-se ainda preocupado com a falta de patrocínio para conclusão dos trabalhos, os quais, no seu entender, são os mais críticos e indispensáveis ao nível do Carnaval. Trata-se do carro alegórico e de outros acessórios a ele indispensáveis, como os adereços e a indumentária.

“Estamos à procura de mais patrocínios para reforçarmos as nossas acções preparatórias, e infelizmente, não está a ser fácil”, lamentou o filho.

O também comandante recordou que, muito ainda, há por fazer, mas, a falta de verbas, continua a condicionar a conclusão das acções em torno da sua preparação.

O grupo, que este ano desfilará em quinto lugar na Classe A adultos, tem ainda suspendido temporariamente a confecção da indumentária e outros artigos, prevendo retomar tão logo esteja a situação financeira resolvida.

Manuel Filho referiu, igualmente, que a agremiação não tem dinheiro suficiente para pagar 50 ou 80% porcento dos funileiros, empenhados na preparação da maior parte dos artigos relacionados com o referido grupo.

“A APROCAL já avançou com algum valor, mas este ainda é suficiente para cobrir as nossas necessidades neste domínio. Falta-nos quase tudo, o carro alegórico, a ornamentação mesmo, assim como também a confecção da indumentária do rei e da rainha.

Em fim, falta-nos ainda muita coisa”, lamentou. Não obstante os fatores já referenciados, o dirigente admite que há muita força e vontade demonstrada pelas anciãs, conselheiras e pelos seus bailarinos em cada sessão de ensaios, em dançar o carnaval comemorativo dos 50 Anos de Independência de Angola.

Indagado quanto à restruturação do grupo Kabocomeu, no desfile que se avizinha, referiu que estará dividido em 6 alas, e para o apoio, terão uma enorme falange, com mais de quinhentos elementos.

“Este ano, o União Operário Kabocomeu vai aparecer na marginal, com uma moldura humana de mais de duas mil pessoas”, acreditem, enfatizou o comandante.

União Recreativo Kilamba aguarda por apoios dos perceiros

Já no município do Rangel, local onde está situada a sede do União Recreativo Kilamba, grupo vencedor das duas últimas edições do Entrudo, o presidente Poly Rocha admitiu que, apesar de a sua agremiação não estar bem, também não está mal, uma vez que as acções em torno da sua preparação para o desfile vão a bom ritmo e situam-se entre os 65% porcento.

Porém, acredita ainda na possibilidade de, nesta semana, poderem vir a entrar em actividade na ordem dos 70 ou 75% e prosseguir além.

O responsável salientou que a sua agremiação continua a aguardar por apoios dos seus parceiros, a quem apelou a necessidade de agilizar o processo, de modo a concluir os trabalhos.

“Ainda continuamos à espera dos apoios dos nossos parceiros, a quem também faço já, agora, um apelo muito importante.” Como sabe, um carnaval preparado muito próximo da data, às vezes, os apoios vêm muito em cima do joelho e isso, de certa forma, inibe a nossa capacidade de produção, devido ao pouco tempo que nos dispusemos”, disse.

Poly garantiu que o União Recreativo Kilamba, que este ano desfilará em décimo primeiro lugar, está num bom caminho e já tem a sua canção produzida e tempo suficiente para fazer alguns arranjos, caso seja necessário. “Já começamos a ensaiar com a nossa música e já estamos bem dentro dela.”

Continuamos sempre a dar o nosso máximo e os nossos bailarinos também estão todos muito bem preparados e com uma boa emoção”, realçou Poly, acrescentando que, quando chega a época de Carnaval, toda a gente procura dar força e o seu calor aos bailarinos.

Grupo Twabixila pretende melhor prestação no desfile

Seguindo a nossa reportagem, no município dos Munlevos, a Base Central, do grupo União Twabixila, o cenário e as preocupações não foram diferentes das de outras agremiações. Apesar das dificuldades e alguma limitação em termos de intervenção, algo vai-se fazendo no sentido de melhorar a prestação no desfile central.

No campo arenoso daquela circunscrição a nordeste de Luanda, os bailarinos da referida formação carnavalesca, apesar das dificuldades de ordem financeira e logística, os dançarinos do União Twabixila, não se deixavam render às crises, e dando mostras da sua capacidade física e resistência, desafiavam o sol abrasador e o calor insidia sobre o local, aprimorando as suas técnicas de dança favorita, a exibir, no caso, a Dizanda.

Este gênero de dança, que coreograficamente apresenta-se como uma marcha acelerada, rodopiada, seguido de ligeiras flexões, para a competitividade na Nova Marginal, já conquistou inúmeros fãs ao seu redor, e muitos deles decidiram integrar a falange de apoio, e curiosamente, já somam até o momento elementos, um número que, segundo o coordenador, tem vindo a subir devido à adesão dos munícipes.

A presidente da agremiação, Teresa José Francisco, abordada pela nova reportagem quanto às ações em torno da preparação do grupo, adiantou que está tudo muito bem encaminhado e quase na reta final, pese embora, se tenha registado, um certo atraso no que aos recursos financeiros diz respeito.

“Já fizemos quase tudo, falta-nos apenas resgatar as roupas em posse das modistas, não há dinheiro.” Porém, tentamos negociar com elas, no sentido de aguardarem mais um pouco, mas, sem sucesso. Vamos esperar até que a situação financeira se resolva, para resgatarmos as roupas”, disse.

A presidente reconheceu o esforço enorme que tem sido feito cada ano, no domínio financeiro, para manter em atividade os seus dois grupos carnavalescos, nas categorias infantil e adultos, e por incrível que pareça, o União Twabixila, adultos, congrega mais 400 elementos, ao passo que o infantil, aproximadamente 300.

Quanto podemos saber da responsável, Teresa Francisco, a parte mais difícil desta ação preparatória reside na falta de matéria, como espelhos, para a ornamentação das suas vestes, visto que pela tipicidade desta dança, as bailarinas devem por norma usar escudetes. “Tudo está difícil e, neste momento, estamos preocupados com o corpo, que é o espelho.”

Já procuramos em todos os armazéns, não encontramos. Estamos a tentar contactar os funileiros para ver se conseguimos, porque Disanda é festa”, disse.

O União Twabixila vai, este ano, homenagear o grande atleta angolano, José Armando Sayovo, pelo seu contributo em prol do desenvolvimento do atletismo para deficientes visuais, e pelo que tudo indica, já lá base esteve em companhia dos dirigentes e integrantes da referida formação carnavalesca.

Exit mobile version