Carnaval da dipanda: Homenagens e consciencializações centralizam os desfiles dos “gigantes” no Entrudo

Os treze grupos da Classe A, considerada a “classe de honra”, que entraram em cena ontem no desfile final, trouxeram à pista temas pertinentes e reflexivos, com uma série de homenagens e mensagens de conscientização a dominarem as abordagens temáticas dos grupos 

Ao abrir o desfile, por volta das 17 horas, o grupo União Twabixila, proveniente do município dos Mulenvos, trouxe à pista da Avenida Dr. António Agostinho Neto, uma canção cuja temática apela ao respeito aos mais velhos, especial mente aos idosos.

Intitulada “Saiko Ngana a Di kota” (em português, ‘aqui há um mais velho’), o grupo que tem como comandante Beneditino Seque, rei Zito Ngola e rainha Maria Beatriz, procurou enaltecer o contributo dos mais velhos na preservação e valorização dos hábitos e costumes que fazem a cultura de um povo.

No estilo dizanda, o grupo, fundado a 18 de Janeiro de 2004, desfilou ao som da canção escrita e interpretada por Milda Abel.

Logo a seguir entrou em cena o grupo União Operário Kaboko meu, fundado a 02 de Janeiro de 1952. O conjunto, que tem como comandante Manuel Júnior, rei Eugénio Lázaro e rainha Yuma Teixeira, apresentou a canção intitulada “Dipanda (Independência)”, de autoria e interpretada por Joaquim Júnior, com a dança Kazukuta.

O grupo União Amazonas do Prenda, do município da Maianga, homenageou, em seu desfile, os reis e autoridades tradicionais de Angola.

Com uma canção intitulada “Homenagem aos reis de Angola”, no estilo semba, o conjunto, funda do a 27 de Fevereiro de 1997, destacou o papel das autoridades culturais e tradicionais dos diferentes reinos que compõem o mosaico cultural de Angola.

Escrita por Domingos Boloy e Zca Bangão, a canção enalteceu o papel dos reis na valorização e preservação dos hábitos e costumes que fazem a cultura dos povos, bem como as suas intervenções na resolução de conflitos e suas que afligem as populações dos seus reinados.

A canção, com 20 minutos de duração, foi interpretada por Zeca Bangão e Man Sala, e incorpora os ritmos frenéticos e contagiantes do semba, produzidos à base de instrumentos tradicionais de per cussão.

Na pista, o conjunto fez-se apresentar com foliões em torno de 300 elementos, incluindo a falange de apoio. De realçar que o grupo tem como comandante Hamilton Manuel, rei Kibeixa Otávio e rainha Maria Manuela.

União 10 de dezembro condiciona do devido a “falhas” técnicas

O grupo União 10 de Dezembro, que seria a terceira agremiação a se apresentar à pista, viu-se “obrigado” a ceder a sua posição ao grupo a seguir devido a problemas técnicos que o grupo apresentava relacionado com a alegoria.

Ao que se constatou, o cenário da alegoria do conjunto proveniente do município da Maianga não estava devidamente completo até a altura de este se apresentar, situação que levou a organização a alterar a ordem do desfile, tendo colocado o conjunto a se apresentar na oitava posição.

No entanto, depois de ultrapassada a situação, o grupo se fez presente à pista com uma canção que apela à valorização das línguas nacionais, escrita por Bernardo Vidal e interpretada por Guilhermina, no estilo Semba.

Também um dos mais antigos grupos carnavalescos da capital, o conjunto foi fundado a 10 de De zembro de 1978, no mesmo ano em que se realizou o primeiro carnaval popular de Luanda.

União recreativo do kilamba homenageou ‘kota’ kituxe

Numa apresentação electrizante, o grupo União Recreativo do Kilamba, proveniente do município do Rangel, prestou uma singela homenagem ao artista e instrumentista António Kituxe, popularmente conhecido por “cota Kituxi”, pelo seu imensurável contributo em prol da promoção e valorização dos instrumentos musicais tradicionais que são comumente usados na produção dos ritmos carnavalescos.

Com uma performance irreverente, o agrupamento do Rangel fez jus ao seu título de “campeão”, demonstrando que veio à pista para defender o seu lugar e conquistar mais um troféu para a sua galeria.

O grupo, fundado a 27 de Julho de 2015, trouxe na presente edição uma canção de tributo ao Kota Kituxe e os seus acompanhantes, escrita por Don Caetano, URK e Xico te Produções.

União kiela apelou ao humanismo nos serviços públicos

União Kiela, fundado a 1 de Janei ro de 1947, foi o penúltimo grupo a se apresentar. Os comandados de Maravilha dos Santos levaram à pista uma canção no estilo semba que traz como tema “Dipanda Cin quenta”, com o propósito de enaltecer e destacar os benefícios da inde pendência nacional.

Escrita por Zezinho Noy, a canção visou também apelar ao humanismo na actuação dos servidores públicos, especialmente nos sectores da saúde, educação, serviços sociais e administrações públicas.

O conjunto, que na edição passada terminou em segundo lugar, advertiu, na sua canção, especialmente aos profissionais de saúde, para a melhoria da humanização no atendimento dos utentes, recitando a frase “a vida vale mais do que tudo, haja sensibilidade, senhor enfermeiro”.

União mundo da ilha fechou o desfile com “semba no pé”

A missão de encerrar os desfiles coube ao histórico e experiente grupo União Mundo da Ilha, que soube tratar do assunto com mestria e euforia. Numa altura em que já passavam das 20h30, e com as bancadas aparentemente já cansadas, o grupo fundado a 8 de Dezembro de 1960 conseguiu contornar a situação e prender a atenção do público e do júri ao se fazer ao palco do carnaval 2025, com uma canção no estilo semba intitulada “aniversário da Independência”, escrita por Tonicha Miranda que também a interpretou.

O conjunto, que ainda se está a recompor da perda do seu antigo comandante António Cardoso “Maninho”, falecido em Dezembro de 2024, teve a difícil missão de convencer e impressionar o júri após passagens de outros grupos que também souberam “carimbar” os seus nomes na pista da nova mar ginal da Praia do Bispo.

A agremiação, que é a mais titulada da história do carnaval da cidade capital, com 14 prémios, tem actualmente no seu comando Salo mão Manuel, rei Guilherme Ventura e Rainha Rosa Venâncio.

O desfile da Classe-A ficou ainda marcado com a ausência do grupo União Povo da Quiçama, que seria o convidado de honra e teria a missão de abrir os desfiles da classe de honra.

 

POR: Augusto nunes e Bernardo Pires

Exit mobile version