A legendária banda musical do Lobito foi lembrada por via de uma homenagem vivida no ambiente vibrante com os seus temas que marcaram a época colonial
Por: Norberto Sateco
O clássico ‘Muzongue da Tradição’ trouxe como homenageado na última edição de Fevereiro ao palco do Recreativo do Kilamba, neste Domingo (25), um dos mais emblemáticos conjuntos da música popular urbana, que se destacou com maior notoriedade no interior de Angola, concretamente na província de Benguela.
Tra-ta-se do conjunto musical ‘Os Bongos do Lobito’, uma banda fundada em 1971 nos arredores daquela cidade portuária, concretamente no mítico bairro da Canata. As suas canções em língua nacional Umbundo retratavam a vivência dos povos ovimbundo e também algumas delas com carácter revolucionário, que conseguiram arrancar os aplausos do público e reavivar a memória daqueles que vivenciaram os tempos idos.
“É um grande prazer voltar a ouvir cantar esta banda. É algo nostálgico e sobretudo aconchegante”, afirmou o conceituado artista Dom Caetano, a quem coube a responsabilidade de apresentar o acto.
Estevão Costa, membro da organização do “Muzongué da Tradição”, em declarações à imprensa considerou que a iniciativa em convidar grupos fora da cidade Luanda visa essencialmente nacionalizar este projecto, tornando-o mais inclusivo em termos de culturais e rítmicos, que perfazem o mosaico cultural angolano.
Zeca Moreno, membro fundador da banda, ao falar para este jornal manifestou ser oportuna a homenagem, na medida em que pensa ser um sinal para que a banda volte aos palcos ‘em grande’, depois de ter sido desfeita em 1974, precisamente a 25 de Abril.
“Fizemos digressão para muitas outras províncias, e nós éramos uma espécie de baluarte, portabandeira da música do Sul de Angola”, recordou o cantor, tendo na ocasião revelado que uma das particularidades que distinguia o grupo dos demais era o estilo musical kazucuta, cantado em língua nacional Umbumdu, embora também tocassem semba e kilapanga. “Apesar do curto tempo de vida, a banda deu grandes alegrias na parte Centro e Sul de Angola, como também do Norte”, relembrou Carlos Lamartine, um dos músicos que testemunhou o aludido tributo.
Momentos Entre os seus vários sucessos entoados na tarde de ontem, um dos que mais mexeu com o público a ponto de leva-los ao “delírio”, foi o conhecido ‘Kassukuta’, tema que valeu ao grupo em 1971 uma distinção no Festival do Lobito, tendo por isso sido responsável pela projecção e ascensão do grupo, quer a nível nacional como internacional.
O encontro ficou igualmente marcado pelo reconhecimento feito ao grupo União Recreativo Kilamba, vencedor da presente edição do Carnaval de Luanda, um emblema com apenas três anos de existência no entrudo luandense e que vai dando cartas. Com casa cheia, outro momento registado na memória dos presentes foi da participação de duas bandas consideradas ‘gigantes’ da música popular urbana, os Kiezos e Jovens do Prenda.
“Foi um duelo renhido algo característico sempre que nós partilhamos o mesmo palco. Desde a era colonial. Cantamos as melhores do nosso repertório, embora a idade já não permita fazer muito durante duas horas de palco”, ressaltou o veterano Augusto Chacaya. Refira-se que os músicos Dom Caetano e Toni do Fumo Filho também abrilhantaram o badalado concerto, realizado no então salão Maria das Crequenhas, no distrito urbano do Rangel.