Com 150 anos de existência, assinalados no passado dia 1 do mês em curso, a Biblioteca Municipal de Luanda possui um acervo estimado em 39 mil volumes e periódicos dos séculos XIX, XX e XXI, a que se juntam Códices do Século XIV ao XVIII, estando já alguns disponíveis em suporte informático
Retratar a Centenária biblioteca é revisitar a história, as letras, as vivências e os saberes de uma época secular, numa viagem interminável, cheia de pesquisas e descobertas que se estendem à contemporaneidade.
Eram, precisamente, 13 horas e 13 minutos,quando começou a nossa visita à Centenária Biblioteca, no edifício Sede do Governo da Província de Luanda, na parte baixa da cidade.
O contacto com o interior da estrutura iniciou-se na sala principal, rés-do-chão, com uma pré-visita guiada ao recinto em meio a explicações sobre o funcionamento, a história e os projectos em torno da modernização desta importante biblioteca, visando responder à demanda dos usuários em todas as suas áreas intervenção.
No espaço, devidamente organizado, um conjunto de 94 de armários seculares, perfilados no rés-do chão e no primeiro piso, repletos de volumes e periódicos dos séculos XIX, XX e XXI, chamam a atenção do usuário pela organização e um silêncio absoluto para a concentração numa leitura tranquila. A atracção para a leitura ou pesquisa neste recinto reflectese também na própria estrutura física pela sua antiguidade e resistência às intempéries.
Juntam-se ao cenário, os Códices do Século XIV ao XVIII, que também têm sido uma grande preferência nos trabalhos de pesquisas de académicos angolanos e estrangeiros, com maior destaque para os brasileiros, portugueses, alemães, russos, franceses, espanhóis, docentes e estudantes locais.
Para se ter acesso aos volumes, ao interessado é exigida uma identificação para o registo e depois de cumprida esta formalidade, lhe são cedido os volumes requeridos, ao contrário do Cyber Café, cujo acesso é possível por meio de um pagamento simbólico de 100 kwanzas por hora.
Percorremos os 150 anos desta biblioteca em aproximadamente 40 minutos em companhia da anfitriã, Aldemira de Vasconcelos. Quanto podemos observar durante a nossa caminhada no tempo, apercebemo-nos que esta que é uma das mais antigas Biblioteca Pública da África Subsariana, em Luanda, não tem apenas obras desta circunscrição, mas também de outros pontos do país e do estrangeiro.
Tecnicamente, está dividida em duas importantes áreas: a Técnica, que se dedica ao atendimento, gestão e estatística relacionada ao acervo, e a Administrativa, esta última dedicada ao expediente e a catalogação de livros.
Acervo com 39 mil volumes
Com uma capacidade de 35 usuários, e nove funcionários, a Biblioteca Municipal de Luanda, possui um acervo estimado em 39 mil volumes e periódicos dos séculos XIX, XX e XXI, a que se juntam Códices do Século XIV ao XVIII, estando já alguns disponíveis em suporte informático.
Mas, devido à complexidade do trabalho e a antiguidade do acervo, associada à quantidade de volumes ainda por organizar, a sua procura ainda é feita aleatoriamente, e, por incrível que pareça, não se consegue facilmente determinar o livro, o periódico ou o Códice mais antigo desta biblioteca secular.
Em conversa com a responsável Aldemira de Vasconcelos, apercebemo-nos de alguns nomes de alguns dos mais antigos da época, mas sem determinar as datas por razões já referenciadas. Trata-se do Jornal “O Planalto”, “O Mercantil”, “O Comércio” e “A Província de Luanda”.
Já em relação às mais recentes, constam na sua maioria obras científicas. Além dos já referenciados volumes, a biblioteca dispõe também de enciclopédias antigas em inglês, francês, alemão, russo e espanhol, e ultimamente vai adquirindo livros infantis para colmatar a carência que se existia neste domínio.
Quanto pudemos observar, não existem obras a retratar apenas Luanda, mas também de outros pontos do país e do estrangeiro. Ainda no que ao acervo diz respeito, a biblioteca tem também disponível a História de Krisone, uma obra que só existe em quatro colecções em todo o mundo.
Para reforçar o espólio, a coordenação da biblioteca está a tentar agora um projecto em obras em braile (sistema de escrita táctil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão) para poder facilitar esta franja da sociedade, não obstante a dificuldade em adquirir no nosso país.
“Estamos a tentar agora um projecto em obras em braile para poder facilitar esta franja da sociedade. O projecto está em curso, são livros muito difíceis de adquirir aqui no nosso país, mas, estamos a tentar de várias formas”, avançou.
Ausência de usuários após época pandémica
Antes da pandemia da Covid – 19, a biblioteca recebia, em média diária, 500 pessoas, entre estudantes, professores universitários, pesquisadores, entre outros.
Actualmente, este fluxo diminuiu consideravelmente, passando a oscilar entre 80 e 100 usuários por mês. Não obstante estes factores, a responsável da biblioteca, Aldemira de Vasconcelos, manifestouse confiante quanto ao aumento do número de frequentadores nos próximos dias, face à divulgação de que está a ser alvo a referida instituição.
“Temos esperança de que o número de usuários venha a disparar nos próximos dias, principalmente agora que se está a divulgar com maior acuidade a biblioteca”, disse.
Já no que a visitas se refere, Vasconcelos adiantou que a instituição tem recebido alunos do I e II ciclos, uma vez que a Biblioteca Municipal, sempre foi infanto-juvenil.
“Não tínhamos obras infantis e por registar-se maior procura desses volumes, estamos a adquirí-las para dar resposta a este público que ultimamente vindo com regularidade”. No quadro desta iniciativa, foram já adquiridas 200 obras de autores angolanos e estrangeiros.
Modernização dos serviços
Indagada quanto aos passos a dar no processo de modernização dos serviços da biblioteca, Aldemira referiu que as atenções estão concentradas na recuperação do acervo danificado, para que possam estar disponíveis a todos os interessados que acorrem ao recinto.
Recordou que para a concretização deste importante processo de recuperação do acervo danificado, a biblioteca contará com o auxílio de técnicos do Arquivo Nacional de Angola (ANA).
Assegurou que a instituição está a dar passos significativos no processo de modernização dos seus serviços, com a digitalização de todo o acervo e melhoria da estrutura interna, cuja intervenção garante, hoje, uma imagem acolhedora, que nos leva a uma excelente viagem ao universo das lestas na época até à contemporaneidade.
Quanto podemos ainda constatar, a biblioteca foi sendo submetida ao longo dos últimos anos, a várias reformas de modo responder à demanda de usuários em vários aspectos.
Organização do acervo
Questionada sobre a disposição dos volumes antigos, Vasconcelos referiu que estes estão dispostos aleatoriamente, uma vez que a biblioteca ainda não está a trabalhar no sistema CDU nem CDI.
“Já tínhamos 30 mil livros registados e outros ainda estão por registar. Ficaria complicado trocar tudo de lugar, uma vez que as nossas estantes são da época da inauguração, e remontam a 1873.
Alterar a ordem fica muito complicado”, disse. Localizada no edifício Sede do Governo Provincial de Luanda é uma das mais antigas Biblioteca Públicas da África Subsaariana, fundada a 1 de Dezembro de 1873.
Este edifício começou a ser construído em 1890, segundo projecto de Artur Gomes da Silva, tendo a obra sido concluída em 1911. O edifício apresenta fachada de expressão classicizante, com frontão central e vãos de arco circular.