Amanhã às 17h, na União dos Escritores Angolanos, a Editora Acácias e o escritor Hélder Simbad farão o lançamento e autógrafo do livro “Dorsal Grito da Zunga”.
Em 43 poemas, em versos livres, num tom sarcástico, às vezes, erótico, Hélder Simbad recria e representa o mundo da venda informal (ambulante) fase à realidade socio-económica dos tempos actuais, com traços narrativos, os primeiros poemas descrevem o dia-a-dia das zungueiras de peixe ao acordar antes do dia, saúdam-se com sonos na ponta dos olhos, num tom de alguém sufocada pela correria do dia anterior (“– Drumiu bem, mana Belita?/– Ewáa…
um cabocado só! E mãe Cati?/ – É só orar, mia filha!”), para não voltarem a casa de bolsos vazios, elas vendem o produto no valor comprado (“– filho, estou a sardar tudo o que restou.”), no final das contas, a matemática do lar deixe-as de bolsos deslugrados (“– dez mil kwanzas da kixikila// o filho na escola precisa de 15 mil kwanzas”).
Diante deste todo conflito diário, com o pouco rendimento, há um motivo para sorrir e afogar as malambas da vida num copo ou numa taça (“quinhentos kwanzas dàgua do chefe //toca saxofone de Cuca”).
Algumas zungueiras de Hélder Simbad, apesar das controversas que a zunga lhes oferece, umas ainda têm a esperança dos académicos (“– Um dia vou deixar essa merda e serei doutora!”), há quem com a zunga forma filho, aliás, somos exemplos disso (“– O filho da Zungueira Maria licenciou-se/é possível, é possível!”), mas, na luta pela busca do pão, alcançar o padrão, por mais distante que esteja, é um grande desafio, por vezes, o padrão só quer mesmo saber o preço e mais nada (“– Esse wí é mau!
Me fez correr assim?!”). Portanto, as zungueiras de Agostinho Neto, de Fernando Pessoa e de Hélder Simbad suportam fiscais, frio, fome, sol, chuva, sono, cliente de maucarácter, cólicas, assédio sexual, inclusive a própria morte, factos que as torna rainhas (“coroada com banheira de bolinho”) ou com outro produto da kitanda.
Há uma certa luta entre as administrações distritais e as zungueiras, tanto que, nesses últimos meses, a prática de venda informal tem passado por grandes conflitos, mas, na real, a reclamação consiste em (“A zunga reivindica espaço”), este conflito já culminou com a morte de muitas zungueiras, cumprindo as orientações superiores, bem como há conflito interno entre as zungueiras, em alguns casos, chega mesmo à morte ou à praga (tala e outros males tradicionais), com isso, o sujeito poético do “Dorsal Grito da Zunga” adverte às suas colegas (“Não tenhas inveja da zunga alheia/cada um com sua sorte…).
De toda ciência possível de se conhecer, a zunga fornece conhecimento de Matemática e Contabilidade, bem como de Economia, o conhecimento mais eficaz é dos municípios, bairros, e ruas que as zungueiras têm, neste caso, a zungueira é (“mestre em geografia remota/com mapa no cérebro”).
Como podemos ver, cada pessoa poderá se identificar com um, dois, três ou mesmo com todos os poemas deste livro independentemente da sua estratificação social, financeira, académica e da faixa etária. Então, convida-se a comunicação académica e amantes de livro a se juntarem a nós, os zungueiros e zungueiras, representados nesta obra de Hélder Simbad.
Por: ESTEFÃNIO CASSULE*
*Professor e Estudante de Letras