Há dez anos, isto em Agosto de 2014, o jovem arquitecto vagueava pelo perímetro da praia Morena, em companhia de amigos e um irmão, quando, de repente, lhe surgiu a ideia “genial” – como ele próprio considera de fazer algum desenho na areia do mar.
Na altura, a ideia que lhe “inundou” o cérebro foi a de um jacaré. Pronto, fê-lo. Socorre-se da sua criatividade, com suporte de corante, água e areia, decide então arquitectar um jacaré, a parcos metros de distância da água do mar.
Quem por lá passava e dava pelo desenho se convencia, efectivamente, de que um animal aquático e predador, por sinal, tinha deixado o seu habitat natural, o rio, para dar um passeio pela mítica praia Morena, lugar que inspirou e continua a inspirar artistas.
Naquele exacto momento, cria-se um pânico geral, acabando, inclusive, por chamar à atenção de agentes bombeiros, que se achavam algures pela praia. Crianças e adultos sentiram-se amedrontados pelo jacaré inanimado aí exposto.
Entretanto, o escultor tranquiliza a assistência e banhistas, e garante que tudo não passava de um desenho. As pessoas não quiseram acreditar, tal era a perfeição aparente.
Daí para frente, o jovem Fernando Arte decidiu transformar aquela zona da praia Morena, precisamente frente ao Palácio do Governador, o palco preferencial para brindar banhistas com verdadeiras obras de arte arenosas de encher os olhos de turistas e não só.
Assim sendo, para além de nimais, com destaque para tartarugas, palanca negra gigante e o famoso jacaré, este último por via do qual toda a «odisseia» começa, passou a esculpir algumas personalidades mundiais e locais.
De Luís Nunes, governador de Benguela, ao finado músico Nagrelha, passando por Buda, desembocando em faróis, para citar apenas estes.
Ou seja, cada inspiração que se lhe invadisse a alma ia dar à praia(areia). “Agora já tem tido bom feedback. As pessoas gostam tanto, sabem que sempre tem arte na praia Morena.
Vêm para ver qual é a novidade da semana”, sinaliza o artista, que tem em Deus a sua principal fonte de inspiração, não fosse Este o primeiro artista a «existir no mundo».
Paragem obrigatória para turistas
Até o Rei do Bailundo, Tchongola Tchongonga, já se maravilhou com a obra de arte do jovem. Posto ao corrente da criatividade do jovem, certa vez, o soberano do Bailundo resolveu ir dar uma volta à praia Morena e ficou pasmado com o que os seus olhos, protegidos pelas pálpebras, viam.
O jovem pintor, que também é humorista, guitarrista e professor de dança, transformou aquele recinto da praia Morena num lugar preferencial para muitos turistas, de tal modo que não se vai à Morena sem passar por ela.
O desenho na areia detalha, em rigor, a criatividade, o engenho de um escultor de mãocheia, que tem, neste momento, um projecto de construção de um centro de formação condicionado a recursos financeiros, para ensinar outros jovens.
“Nós queremos formar também pessoas, para não ser único na praia Morena ou em Benguela, digamos assim, e que apareça mais ajuda, para ver se tenha um atelier.
A arte tem um tempo e, quando não há apoio, a tendência é de procurar outras coisas e automaticamente, a arte morre”, considera.
Ele diz que, a nível do país, o único lugar onde é feito uma arte mais ou menos semelhante àquela é na Ilha de Luanda, capital do país, cujo arquitecto deve a si a técnica de trabalhar a areia do mar e transformá-la em algo sólido para esculpir.
Geralmente, para fazer os desenhos, ele leva pouco mais de 4 horas de trabalho e o desenho, caso ninguém o destrua, é capaz de ficar, no máximo, uma semana intacto.
Por lá passa muita a gente a admirar. O arquitecto e urbanista, Fernando João, proveniente da província do Namíbe, que esteve em Benguela a passeio, decidiu, num final-de-semana, dar um passeio pela praia Morena, até porque do pouco que sabia sobre aquele recinto balneário tinham sido os livros a ensiná-lo. Posto lá, num dia de sol abrasador, deu de cara com os desenhos.
Dá por aquilo que qualifica por «preciosidade» e, desta feita, confunde o articulista, que mantinha uma conversa com o autor que serviriam de mote para esta «pobre» reportagem.
Deu um aperto de mão a admirar a sua capacidade. Este, como a única coisa que sabe fazer – e também não tão bem- é jornalismo, diz-lhe que não era quem ele julgava, e, acto contínuo, apresentou-lhe ao verdadeiro arquitecto.
“Oh, fogo, meu, estás de parabéns. Isto aqui é incrível”, admirou-se o mamibense, seguido de um convite ao jovem: “Não queres também fazer o mesmo trabalho no Namíbe?” – perguntou .
O jovem não tinha respondido, quando dispara logo com um outro pedido, desta vez, mais aceitável rapidamente – diga-se : “Dê-me só o teu número, por favor.
Epá, meu, já agora, vamos só fazer uma fotografia. Com o repórter também”, implorou. Pronto, os presentes sujeitaram-se a uma ‘pic’, que, certamente, entrou para a galeria da posteridade. “Epá, de facto, estou muito maravilhado.
Vocês aqui, em Benguela, têm muita coisa boa. Esta arte é uma maravilha. Nunca tinha vindo à praia Morena”, confessa.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela