O compositor e educador brasileiro André Vargas esteve, em aproximadamente 50 dias no país, sobretudo nas cidades de Luanda, Huambo e Cabinda, falou da experiência vivida no “Talk” (conversa) e “Mostra”, que decorreu no passado Sábado, 09, no Auditório do Instituto Guimarães Rosa, em Luanda
O evento visou, entre outros aspectos, partilhar um pouco daquilo que foram as suas sete semanas na Residência Artística “Angola AIR”, com a curadoria do artista angolano, Marcos Jinguba e participação do anfitrião Hugo Lorenzetti, director daquela instituição.
Entre perguntantes e respostas, com alguma curiosidade à mistura, o artista não escondeu a sua satisfação em partilhar o trabalho com o público, que tencionava saber ao pormenor como está o mesmo a desdobrar-se em termos de investigação para as próximas actividades no Brasil e em Angola.
O artista disse encontrar em Angola camadas de si, para aprofundar pensamentos que anteriormente existiam em si no Brasil, tendo a oportunidade de poder se encontrar.
Emocionado, falou igualmente dos trabalhos que foi realizando durante a sua estadia de aproximadamente 50 dias no país, sobretudo nas cidades de Luanda, Huambo e Cabinda, uma experiência que considera relevante para a sua formação na produção artística, como ponto de viragem do seu trabalho, conforme o almejado.
André Vargas referiu que foi na cidade de Cabinda onde sentiu uma forte energia de conexão com os seus ancestrais, ao observar o reencontro do rio com o mar, o que no seu entender, fê-lo recordar a travessia dos escravos africanos pelo oceano Atlântico.
“Foi interessante conversar com as pessoas e falar um pouco mais sobre a minha perspectiva no domínio artístico, como o meu trabalho se desdobra e as questões da cultura angolana com as quais ela se dá conta”, disse o artista.
Vargas realçou igualmente que foi muito importante conversar com o público de Luanda, para que haja uma delação.
Não obstante ser descendente de angolanos, reconhece que há necessidade de acautelar para perceber o outro a partir dos seus olhos.
A trabalhar na retomada da sua ancestralidade como forma de entender as bases das culturas linguísticas, religiosas, históricas e estéticas da brasilidade em que se insere, tem a cultura popular como a maior indicação desse fundamento.
A paixão por Cabinda
Vargas admitiu que foi nesta província mais a Norte do país onde descobriu as suas descendências e, felizmente, saber o nome do negro de quem é proveniente.
Os subúrbios, os interiores e os demais lugares de memória pessoal e colectiva que contornam essa ancestralidade apresentam-se como ponto de partida empírico das suas postulações conceptuais.
Percurso artístico
Nascido em Cabo Frio, Região dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro, em 1986, Vargas é graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Publicou dois livros de poesias infantis, como “ Roupa de Camaleão”, em (2018), pela Zit Editora, e “Caraminholas – Poesias do fundo da Cachola”, em 2012, pela Editora Multifoco.
Filho de uma família de músicos, a sonoridade, a palavra escrita e escutada permeiam as suas obras sempre atravessadas pela sua condição de homem negro. Trabalha com diversas linguagens e materiais, como performance, pintura e objectos.
Educador de espaços de cultura desde 2013.
André Vargas tem uma produção que ilustra a educação num sentido amplo, contestando as práticas coloniais e evocando a sua ancestralidade.