A 1ª edição da “Feira de Artesanato de Luanda”, que encerrou no passado Sábado, 30 de Setembro, juntou mais de 60 artesãos na Praça da Independência, que se mostraram satisfeitos com a iniciativa. Expectantes, apelam à organização a continuidade do evento, que permitiu a proximidade com os consumidores, assim como a divulgação de seus trabalhos
O evento foi realizado pela Mbaxi Eventos, em parceria com a Associação Nacional dos Artesãos de Angola (ANAA), e participaram artesãos residentes em Viana, no Distrito Urbano do Benfica, Rangel e de outros pontos da cidade de Luanda, que apresentaram esculturas, peças de crochet, bonecas de pano africano, acessórios para homens e mulheres feitos com missanga, roupa africana, sandálias de cabedal, entre outras.
Neste trabalho há mais de 50 anos, o artesão João André levou à feira esculturas de animais que compõem a fauna, como o elefante, rinoceronte, a Palanca Negra Gigante e girafas.
Outras peças abstratas fazem parte da sua arte, assim como aquelas que representam o símbolo da cultura nacional, como o Mapa de Angola, o Pensador, o Imbondeiro, feitos com madeira.
O artista enalteceu a iniciativa que movimentou artesãos de vários pontos da cidade capital para a apresentação das suas obras. Apesar de comercializar as suas obras no mercado do Benfica, considera o espaço insuficiente para dinamizar a divulgação dos seus rabalhos.
“Estou satisfeito pelo facto de se ter concretizado a realização do evento, que dará vasão a outras realizações.
Mas, gostaria que houvesse mais clientes para adquirir algumas peças expostas. Por isso, acreditamos que nas próximas edições teremos um evento mais participativo” augurou.
Nostálgico, lembra que no tempo colonial as peças eram produzidas através das solicitações feitas pelo governo português. Um processo feito através da colaboração que Portugal tinha com outros países, o que dinamizava o processo de venda.
“Enviavam os valores e o governo português mandava as obras para fora. Agora não.
As peças levam muito tempo para serem vendidas porque os clientes são poucos. Apesar disso, continuo a sobreviver deste trabalho”, contou.
Carlos José, que trabalha como artesão há mais de 40 anos, destacou, entre as obras expostas, a escultura da mulher zungueira e outra peça que realça o amor de uma mãe para com o seu filho, que comercializa no Mercado do Benfica, no Museu da Escravatura. Satisfeito com a realização da feira, disse que permitiu maior divulgação das suas obras, com a presença de um público eclético.
Entre os visitantes destaca -se a presença de alunos do Primeiro Ciclo, que puderam ter maior conhecimento do trabalho que realizam. “É isso que nós sempre solicitamos, a realização de uma feira que pudesse nos levar a outros lugares, mostrar que de facto existimos, que fazemos este trabalho.
Queremos mais eventos para atrair mais turistas e visitantes. É a primeira feira, certamente estaremos presentes noutras que virem surgir”, congratulou.
Ainda neste evento, a artesã Sónia Martins destacou-se com a apresentação de peças feitas com linha de crochet, como roupas para bebé, fatos de banho, enfeites para cozinha, bases para prato, feito por ela e suas funcionárias. Trabalha há cinco anos motivada pelos seus clientes que muito admiram o seu trabalho.
Mas lamenta o facto de poucas terem como preferência peças feitas com este material, que, a seu ver, é por falta de conhecimento. Através desta feira, ela está expectante que o seu trabalho merecera maior atenção dos cidadãos devido à sua exposição.
Para isso, apela à organização que prossiga com esta iniciativa, que beneficia não só os artistas, mas também dota o público com conhecimento sobre aquilo que representa o artesanato no país.
A organização
Com esta realização, Miguel Vinda, secretário-geral e porta-voz da ANAA, refere que a intenção foi dar maior valor e visibilidade aos fazedores desta arte. Com várias realizações durante o ano, pretendem potenciar os associados, dando-lhes a possibilidade do pagamento da Segurança Social, por formas a garantir as suas reformas.
Da Mbaxi Eventos, o membro da entidade organizadora e porta-voz, Cláudio Patrício, avançou que o objectivo é promover, divulgar e fazer da feira um ponto de negócio para os homens de artesanato.
De igual modo, permitir o intercâmbio entre os artistas, uma vez que muitos sobrevivem desta arte, mas as suas obras são pouco comercializadas. “Nós pensamos é tirar o artesanato do silêncio em que se encontra ou do marasmo.
O artesanato não tem sido tido nem achado nos últimos anos. Estivemos a fazer um levantamento, sobretudo das artes como o artesanato e concluímos que não tem visibilidade nenhuma”, constatou.
Esperançoso, observa que com a realização da 1ª edição da feira “foi alcançado o nosso pensamento, que era de divulgar e promover o artesanato”.
“Porque entendemos que nós, os nacionais, temos pouca cultura de consumir o nosso artesanato.
Quem compra maior parte do nosso artesanato são os visitantes, no caso os turistas que vêm em missão de serviço. Nós queremos criar a cultura de nós, os angolanos, comprarmos o nosso material de artesanato”, perspectivou.