Agentes culturais olham para o carnaval praticado, actualmente, em Benguela e chegam à conclusão de que este transformou-se em ‘parente pobre’ de um governo completamente despreocupado.
Saudosista como são, lembram que, na década de 70 e 80, Lobito já teve um dos melhores carnavais e só perdia para o Brasil.
Os agentes sustentam a tese com o facto de os grupos se terem queixado no atraso na disponibilidade financeira por parte do Gabinete da Cultura, ao que se junta à falta de patrocínio de empresas como algumas cervejeiras de então que, num passado recente, assumiam o ónus da responsabilidade.
Uma outra questão que incomoda agentes como investigador cultural, Joaquim Grilo, prende-se com o facto de se ter levado o carnaval ao recinto do Estádio Nacional de Ombaka, um local distante das pessoas, originando, segundo argumenta, fraca participação dos cidadãos no carnaval.
Este e outros factores tem concorrido para que históricos como Bravos da Vitória, da Catumbela, e Água e luz, do Lobito, se afastem da maior manifestação cultural.
Há três anos consecutivos que os Bravos Vitória não participam do carnaval, por alegada desorganização, soube este jornal de um dos membros do grupo com mais títulos, somando 28 na sua galeria.
O agente cultural, Adérito Chiuca, diz que, actualmente, o governo apoia pouco os grupos, reprovando aquilo a que chama de ritmos exageradamente modernos, havendo até grupos que dançam ao som de música de um dj, desvirtuando completamente a essencialidade do entrudo.
“Não se fazem as danças típicas (semba, tchipuete…) nos conheçamos. Começamos a preparar o carnaval um mês antes e as pessoas não aprendem a dançar, mas desfilam.
Temos de rever este modelo” reprova “Voltemos a ter um carnaval competitivo, carnaval está no bairro e não na cidade, na cidade só desfilam.
Precisamos de resgatar o carnaval dos bairros”, acentua
O agente cultural reprova a introdução de traços carnavalescos que não reflectem a idiossincrasia angolana e, em muitos casos, transmitindo a ideia de atraso cultural.
Tal cenário deve-se, fundamentalmente, à ‘morte’ de grupos carnavalescos infantis. “(…) Por exemplo, o Lobito já teve o melhor carnaval do mundo, mas sem nudez e as escolas desempenhavam grande papel.
O Magistério, comandante kassanji, a Goa tinham grupos”, quando abordado por uma rádio, em uma mesa redonda.