A actriz brasileira Leticia Colin vive o personagem Vanessa na novela “Todas as Flores”, que estreia hoje às 22h20, na Globo, posição 10. Em entrevista disse sentir-se feliz por poder “discutir” temas importantes em torno do drama, como o do capacitismo e o da pessoa com deficiência, por observar que precisamos ainda melhorar, gerar acessibilidade e desmistificar os preconceitos
Como está a sua expectativa para a exibição de “Todas as Flores” na Globo, que já teve algumas visualizações por parte do público no streaming?
Estou felicíssima. Eu mesma estou com vontade de rever a novela. Estou muito feliz com a possibilidade de mais gente assistir.
Fizemos uma empreitada de sucesso no streaming e agora estamos a chegar para fazer companhia para essas pessoas. Eu celebro muito!
Que traços ou aspectos da trajectória de Vanessa mais te marcaram?
Eu acho que a Vanessa é um manual do que não fazer, de tudo que a ambição pode construir, e ela mostra o quanto tudo isso é danoso.
A Vanessa foi criada para se casar com um homem rico, ter poder. Ela quer status, acha que é melhor que todo mundo.
E isso também rende situações muito engraçadas; as pessoas se divertiram muito com ela.
Eu tentei criar a Vanessa desse jeito aproveitando o texto do João Emanuel Carneiro, que tem a característica de trazer vilãs engraçadas, patéticas, que cruzam as fronteiras éticas e morais.
Este é um exercício interessante de ser feito na ficção.
É a possibilidade de vivenciar essas facetas com uma personagem, de visitar lugares que, no mundo real, ainda bem, a gente não visita ou tenta evitar.
Acredita que o personagem merecerá a atenção de quem vai assistir à novela?
Acho que as pessoas vão embarcar nas armações da Vanessa. Ela é totalmente manipuladora, egoísta, tem sede de poder.
E é muito estilosa, gosta da imagem, da estética. Também é aquela figura sedutora, que vive sexualmente livremente tudo que deseja, o que é muito encantador. Tem um monte de coisas interessantes na Vanessa!
Vanessa é uma vilã clássica, sarcástica. Por que acha que ela pode conquistar este lugar no imaginário dos espectadores?
Fiquei muito feliz pela maneira como a Vanessa foi abraçada pelo público. Acho que o humor tem essa característica: ele nos faz se conectar.
O humor nos desarma, acolhe, relaxa. Por mais errática que ela fosse, o humor que ela trazia criava conexão.
A nossa brincadeira na novela é encantar também. Eu adoro ser encantada quando assisto a uma produção, adoro entrar na magia do personagem – ele é a nossa capacidade humana de viver coisas que nós não vivemos na nossa vida.
As pessoas experimentam a realidade da Vanessa em um ambiente seguro, dentro de uma obra dramatúrgica, protegidas pela fantasia.
Enquanto intérprete da personagem, quais foram os seus nortes no processo de construção da sua personalidade repleta de nuances?
Para compor essa personagem, pesquisei muitas coisas, dentre elas as vilãs antológicas da nossa dramaturgia, como Odete Roitman, Carminha, Nazaré.
Também os desenhos animados, género de que sou grande fã.
Assistimos a um filme animado e os personagens têm sempre uma vulnerabilidade e uma narrativa que explicam por quê eles se tornaram aquelas pessoas. Minhas referências vão de “Rei Leão” a “Up: Altas Aventuras”, “Pequena Sereia” na nova releitura.
Tem ainda o personagem Hannibal, uma referência do Anthony Hopkins muito impactante para mim em actuação; o Ed Harris e os personagens que ele faz; Norman Bates, personagem do filme “Psicose”.
E o filme “Mamãezinha Querida”, com a Bette Davis, que é uma actriz que eu estudo há um tempo e que me inspira muito.
Quais foram as contribuições de “Todas as Flores” para a sua carreira? Para muita gente eu virei a Vanessa – mais uma forma de me chamarem.
As pessoas sabem que eu não sou a personagem, mas carinhosamente me reconhecem por esse trabalho; eu gosto que elas me chamem assim.
A gente passa a fazer parte da rotina das pessoas e criamos memória juntos.
Entramos na vida delas como um momento e uma experiência boa. Senti que o meu trabalho chegou neste lugar.
Muita gente me conheceu por “Todas as Flores” e, a partir disso, foi saber dos meus outros trabalhos. Isso é maravilhoso!
Fico muito feliz e grata pela oportunidade de encarar a empreitada que é fazer uma novela com essa densidade.
Também fico muito feliz de termos discutido temas importantes, como o do capacitismo e o da pessoa com deficiência, visto o quanto ainda precisamos melhorar, gerar acessibilidade, desmistificar os preconceitos.
Além, claro, de a novela trazer o Rio de Janeiro, a Gamboa, o samba, um lugar fundador da nossa cultura. Pudemos nos reconhecer como uma resistência cultural da nossa música, do nosso povo…