O Ocidente está muito preocupado com o golpe militar que ocorreu na semana passada no Níger, temendo que o país possa mudar de aliado.
O golpe militar no Níger provocou receios de que o país, um importante aliado do Ocidente na luta contra grupos jihadistas na África Ocidental, possa virar-se para a Rússia.
A deposição do presidente eleito democraticamente, Mohammed Bazoum, foi amplamente condenada pela União Europeia, Estados Unidos e África.
O International Crisis Group diz que, embora o Níger seja primordial para os esforços de segurança ocidentais na região, é muito cedo para dizer se pode recorrer à Rússia ou ao Grupo Wagner.
“Sabemos que o grupo Wagner está interessado em desenvolver a sua capacidade na África Ocidental. Prevemos também que dentro do novo regime militar, caso se mantenham no poder, procurem outros aliados e podem ser tentados a estabelecer relações com a Rússia. É possível que haja uma mudança de aliança e que a Rússia possa desenvolver a sua capacidade através do grupo Wagner na região. Mas agora é uma espécie de bandeira vermelha que é muito conveniente usar para estar numa posição mais forte quando se negoceia”, afirma Jean-Herve Jezequel, director do Projecto Sahel no grupo de reflexão International Crisis Group, a Euronews.
Também há preocupações sobre o impacto potencial do golpe na importação de urânio para manter em actividade as centrais nucleares europeias.
Como 7º maior produtor mundial de urânio, o Níger abastece a União Europeia (EU) com quase 25% das suas reservas e a França com cerca de 10%.
Mas Jezequel diz que o impacto não é crítico: “A França costumava ser muito mais dependente do urânio nigerino no passado do que é hoje. Tem havido uma diversificação do acesso ao urânio no mundo, incluindo o Canadá e o Cazaquistão. Portanto, é um mercado diferente do que era há 20 ou 30 anos. (…) Ainda é um interesse importante, mas não é central, vital para a França como costumava ser”.
E ainda não é definitivo que os miitares vão permanecer no poder, realça o director do Projeto Sahel: “Ainda existe a possibilidade de o presidente Bazoum voltar. Será extremamente difícil, não é o cenário mais provável, mas ainda é o cenário em que muitos actores estão a trabalhar. Muitos actores da comunidade internacional, inclusive a Rússia, estão a pressionar para o regresso do presidente eleito. Mas se essa pressão externa não estiver ligada com uma pressão interna… receio que não dê certo”.