Depois de ter sido substituído na liderança do ANC, o partido quer agora que Zuma se afaste também da presidência. Comité partidário reúne-se para decidir se ordena formalmente a demissão
O Grupo Nacional de Trabalho (NWC na sigla original) do partido sul-africano Congresso Nacional Africano (ANC) reuniu-se ontem, Segunda- feira, 5, para decidir sobre o possível afastamento de Jacob Zuma da presidência do país. A reunião acontece um dia depois de outro encontro onde membros séniores do partido terão pedido a Zuma que se afastasse, pedido esse que o Presidente terá recusado.
Zuma, que em Dezembro foi substituído na liderança do partido por Cyril Ramaphosa e que enfrenta acusações na Justiça por corrupção, pode agora ser afastado do cargo de Presidente antes do fim do mandato, em 2019. Isto porque, como explica o Guardian, as regras do ANC ditam que todos os ocupantes de cargos públicos só podem permanecer no posto se o partido assim o quiser.
De acordo com o jornal online sul-africano News24, o NWC pode decidir convocar uma reunião do Comité Nacional Executivo do partido, já que este é o único órgão que pode formalmente exigir a Zuma que se demita. Contudo, o próprio Zuma terá de dar o último passo e apresentar a demissão. Caso recuse, o mais provável é que venha a ser afastado pelo Parlamento — há uma moção de censura a ser votada no dia 22 de Fevereiro, apresentada pelo partido da Oposição Lutadores pela Liberdade Económica (EFF no original), que pode agora contar com o apoio dos parlamentares do ANC.
Os relatos dos media sul-africanos sobre a reunião de Domingo com seis membros séniores do partido dão conta de que Zuma terá recusado aceder aos pedidos dos colegas para que abandonasse o cargo. Julius Malema, ex-membro do ANC e actual líder dos EFF, avançou que Zuma justificou a decisão por “não ter feito nada de mal ao país”. Apesar de já não ser membro do partido, Malema costuma ser uma fonte bem informada sobre o que se passa nos corredores do ANC — em Dezembro foi das primeiras pessoas a anunciar que Ramaphosa tinha vencido a corrida à liderança do partido, como relembra a Reuters.
Desde que o novo líder foi eleito que Zuma perdeu influência dentro do partido. Ramaphosa é visto como um reformista que quer afastar o Presidente devido às suspeitas de corrupção que pendem sobre ele, o que tem provocado uma cisão interna. Na Sexta-feira, o tesoureirogeral do partido, Paul Mashatile, foi claro: “Deve haver uma mudança da guarda. Não é possível existirem dois centros de poder. A melhor maneira [de resolver isto] é através da saída do Presidente.”
Zuma, explica a BBC, enfrenta actualmente acusações de corrupção, fraude, extorsão, branqueamento de capitais e evasão fiscal. Em causa estão centenas de pagamentos que Zuma terá recebido em troca de um acordo de armamento nos anos 1990. Há ainda a possibilidade de ser aberto um inquérito num outro caso que envolve Zuma e a sua relação com a família Gupta, que poderá ter influenciado o Presidente para conseguir favores.
O ANC continua a ser o partido mais popular na África do Sul pós-apartheid. No entanto, os sucessivos escândalos de corrupção, a par de problemas económicos, têm levado a uma descida da popularidade do partido. Nas eleições municipais de 2016, por exemplo, o ANC perdeu o controlo de importantes cidades como Pretória e Port Elizabeth