O lar de acolhimento de crianças Kuzola, em Luanda, está com escassez de profissionais específicos para crianças com necessidades especiais, um total de 99 nesta condição. Para além disso, debate-se ainda com a questão da superlotação, pois agora são acolhidas 315 crianças.
Crianças com cegueira, hidrocefalia, paralisia, entre outros problemas que as colocam num grupo de necessidades especiais, são abandonadas e acolhidas no Lar Kuzola. Segundo a chefe do departamento pedagógico do referido lar, Elisa Sampaio, todas as 99 crianças foram ali parar por situações de desprezo e abandono por parte dos progenitores ou da família destes. Só pelo facto de estar no lar, fora do seio familiar, todas as crianças são especiais, segundo a responsável. Esforçam-se para que cada criança seja assistida com especialista de acordo com a sua necessidade, mas tem sido difícil. O lar conta com aqueles que estão dispostos a ajudar, que são os técnicos da psiquiatria de Luanda, um enfermeiro e uma psicóloga. “O número é bastante ínfimo para a quantidade de crianças.
Gostaríamos de ter também fisioterapeutas e muitos outros especialistas, mas não temos”, sublinhou, tendo acrescentado que se têm desdobrado com o pouco que têm. Por outro lado, com a superlotação, uma vez que o lar foi construído para albergar 250, o Kuzola têm de se adaptar ao número de 315 crianças, para cuidar e manter a qualidade de vida das mesmas. Estão com todo tipo de carências, desde alimentos, materiais didácticos e vestuários, pelo que as doações as têm ajudado a gerir o centro.
O número de acolhidos não é constante, muda de acordo com a entrada e saída destes, mas nos últimos tempos apenas tem vindo a aumentar, tendo ali crianças provenientes, não só de Luanda e doutras províncias, também de países vizinhos, como Congo. “É claro que com a crise, também as famílias estão muito mais vulneráveis, e, quando isso acontece, a criança fica muito mais vulnerável. O nível de abandono e de negligência aumentou, o desemprego tem levado muitos pais a percorrer longas distâncias à procura de sustento, e as crianças ficam entregues à sua sorte”, disse. Houve uma baixa na frequência dos parceiros ao Lar Kuzola, também resultado da crise, mas não deixaram de dar o pouco que conseguem para os pequeninos daquele centro de acolhimento.
Igreja Pentecostal solidariza-se com a causa
A Igreja Pentecostal Hospital da Fé Reino da Liberdade fez, recentemente, uma doação de duas toneladas de bens diversos àquele lar que acolhe mais de 300 crianças. Segundo Eliseu Agostinho, líder da referida Igreja, que falava durante o acto de entrega dos produtos, após uma visita guiada, é necessário que haja mais amor ao próximo. “Isto é um acto de amor, que representa o Senhor Jesus. É impressionante ver o amor e carinho que o Lar Kuzola tem para com as crianças, estas que são a esperança e o reflexo de Cristo. Cristo demonstra amor pelas crianças, nós devemos fazer o mesmo”, defende.
É a primeira vez que a Igreja em questão doa ao Lar Kuzola e, depois dos relatos que ouviu da responsável que acompanhou a visita, mostrou o seu desagrado quanto ao facto de existirem muitos pais que optam por abandonar os filhos, vendê-los ou se desfazer deles por alguma deficiência. “São muitas crianças. O abandono de criança é um acto feio e criminoso, pelo que a Igreja considera um acto desumano. As crianças devem crescer no seio da família, não acontecendo isso, elas ficam vulneráveis. As famílias devem evitar o máximo que as crianças cresçam desamparadas”, reforçou o líder religioso. Para a chefe do departamento pedagógico do Kuzola, este tipo de gestos (doações), por parte das igrejas e não só, são sempre bem-vindos, ajudam a manter as crianças e garantir a dieta equilibrada. “As orações que fazem acabam sempre por tocar uma ou outra entidade e estas procuram-nos para ajudar as crianças”, confidenciou.