Engenheiro de recursos naturais e ambiente chama a atenção quanto à importância do plantio de árvore e os problemas económicos, de saúde, bem como as enchentes, que podem ser evitados. Ainda é gritante a necessidade de termos mais espaços verdes
POR: Romão Brandão
Assinalou-se ontem, 21 de Março, o Dia Internacional da Floresta e, para este dia, a reflexão gira em volta da importância do tempo de vida útil deste bem natural para a sociedade. Em Angola, embora de forma tímida, este dia foi recordado, até porque o Ministério da Agricultura e Florestas, por meio do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF), realiza hoje uma palestra sobre “o papel da floresta no desenvolvimento sustentável do país” e, em seguida, a plantação de 500 árvores no polígono florestal de Luanda, no Benfica, arredores da Comuna do Ramiro. A consciência ambiental devia ser maior, segundo Marcelino Francisco, formado em engenharia de recursos naturais e ambiente, que falava em torno desta importante data internacional, também para fazer face ao facto de termos uma das maiores florestas do mundo, a do Mayombe.
Para além doutros problemas sociais, a falta de árvore também traz problemas económicos, de acordo com o especialista. Por exemplo, “hoje andamos de carro até para pequenas distâncias, e se não houver árvore, pior ainda, mas numa zona arborizada, pouparíamos combustível e garantiríamos mais tempo de vida útil do carro”. Por outra, a falta de árvore afecta a nossa saúde. Problemas de saúde do campo respiratório podem ser evitados, disse, com a plantação de uma árvore, uma vez que ela retém parte da poeira, gera oxigénio e absolve o monóxido de carbono produzidos pelas viaturas ou geradores.
É fundamental que haja comprometimento em resolver os problemas ambientais que registamos em Angola e, para o engenheiro, tem havido muito pouco comprometimento, principalmente por parte dos órgãos de Estado. O exemplo que apresenta para sustentar a sua afirmação é a requalificação da via que sai do Hospital Maria Pia à Clínica Multiperfil, onde existe apenas duas zonas arborizadas, que são no largo perto do Antigo Controlo e no largo perto da conhecida Paragem das Mulheres. “Neste projecto não houve muito interesse de arborização”, sustenta.
Desertificação causa doenças e mortes
O entrevistado dirige um projecto denominado UPUA (Uma Pessoa, Uma Árvore), que surge para suprir a necessidade de arborização no país, uma vez que Marcelino leu num artigo que Angola, na região Austral, é o país menos verde. Para além disso, o desafio de plantar árvores surge também devido ao aumento de doenças no país, e de mortes causadas pelas chuvas, que acredita ser resultado da desertificação. Nós, hoje, “em função das construções exageradas, do aumento do uso do betão, temos muitas ilhas de calor. Por isso, a plantação de árvores aumenta o nível de vida. Sugerimos que plantem nos quintais das suas casas, nos largos, e nas ruas (neste particular, que seja num sítio que têm a certeza de que não será arrancada) ”, explica.
Disse ainda que as árvores mantêm os níveis dos lençóis freáticos, por exemplo, “quando chove, a chuva bate nas folhas e ameniza o impacto com o solo”. Neste processo, a água não causa tanto estrago, se encontrar arborização suficiente, para além da própria árvore acabar absorver parte da água. O jovem está a terminar um livro que fala sobre arborização urbana, também para ensinar onde, quando e como plantar; em que momento e como podar as árvores, uma vez que, como tudo, esta acção de revitalização do meio ambiente, bem como qual a quantidade de árvore a colocar em determinadas zonas, obedecem a regras.
Licença de abate e exploração muito permissível
Quanto à questão da exploração ilegal de madeira e a Lei aprovada recentemente, segundo Marcelino, embora tenha sido tarde (a aprovação da Lei), é bem-vinda. O entrevistado já trabalhou no Instituto de Desenvolvimento Florestal do Zaire e conta que, durante a sua colaboração, foi verificando que a licença de abate e exploração era muito permissível, pois priorizava mais os madeireiros que o próprio meio ambiente. Não havia fiscalização, disse, por falta de quadros, nem controlo na poda de árvores. “Eles chegavam e podavam tudo”, denuncia. Devia ser obrigatório, na sua opinião, que as empresas de exploração tivessem uma estufa, com árvores do mesmo tipo daquelas que abatem, para poder proceder ao replantio. Se condicionassem a passagem de licenças respeitando este factor, muita coisa irá melhorar. Por outra, defende também a existência de um período de defeso, em que se dá uma pausa na poda de árvores, por parte das empresas interessadas, da mesma forma que há o mesmo período, por exemplo, nas pescas, que não se vai ao mar pescar determinados tipo de peixes. Por exemplo, sugere, que seja no período de chuvas intensas.