Economista muito solicitado, lidera a Associação Industrial de Angola (AIA) e defende que, antes de Angola entrar para o Livre Comércio em África e na SADC, devia primeiro olhar para os países vizinhos, nomeadamente, a Zâmbia e a República Democrática do Congo
POR: Borges Figueira
Líderes africanos ratificaram ontem, no Rwanda, a criação da Zona de Comércio Livre, abrindo assim a possibilidade da expansão do comércio. Reagindo à eventual pertinência da criação desta Zona, o economista José Severino começou por dizer que “primeiro temos de participar activamente no mercado da RDC, bem como da Zâmbia. Temos que ser capazes de fazer isso, pois, se não formos capazes, vão nos passar o “certificado” de incompetência, porque temos fronteiras longas e não temos impedimentos naturais como secas nem vales, muito menos rios que nos possam separar”, argumentou.
José Severino acrescenta ainda que os dois países são mercados muito grandes, referindo que o Congo e a Zâmbia possuem cerca de 100 milhões de habitantes, número que quadruplica a população angolana. Afirmou que, quer o Congo, quer a Zâmbia, têm condições para pagar os bens que serão levado de Angola, entretanto, não entende o que tem faltado para que se accione os mecanismos legais no sentido de formalizar a actividade. “Estamos à espera pela realização de feiras, mas até agora, dois anos depois, não se diz nada. São coisas que nos preocupam muito”, lamentou.
No seu entender, só depois de termos uma presença activa na RDC e na Zâmbia é que o país estará em condições de entrar Zona de Livre Comercia (ZLCS) da SADC, constituída por 15 países da região austral do continente. Explica que, uma possível entrada na ZLCS é um processo que, em princípio, deve demorar dois anos. “Se começarmos agora, só no final de 2019 estaremos em condições de entrar”, referiu.
O líder associativo referiu ainda que foram feitos muitos investimentos nas estradas, no entanto, desapareceram e devem agora ser recuperadas, o que considera um balão de ensaios que não resultou. E não é tudo: José Severino aponta ainda outros constrangimentos, designadamente o fornecimento de energia que ainda é débil, afirmando mesmo que as maiores indústrias ainda têm uma série de problemas, pois grande parte delas é abastecida por fontes alternativas.
“Temos um ambiente de negócios que não tem grande impacto com o investimento estrangeiro, uma vez que a lei anterior (ainda em vigor) impõe limites ao investidor estrangeiro. Por exemplo, quem viesse investir em Angola tinha que ter um parceiro angolano e com o mínimo de 35% das acções, situação agravada pelas infraestrutura quase inexistentes”, lembra. Remata que “a nossa agriculta ainda funciona como se tivéssemos no século XIX, e se agricultura não funcionar ainda, tudo será muito complexo, o certo é que não podemos entrar”, concluiu.