A imolação do tunisino Bouazizi, em Dezembro de 2010, isto é, há 13 anos, por reivindicar as péssimas condições de vida na Tunísia foi o rastilho para que se instalasse em quase todo o magrebe a chamada ‘Primavera Árabe’, cujos resultados ainda se fazem sentir em muitos países.
A ânsia por uma mudança repentina de governos, partidos e até líderes religiosos originou mudanças políticas em alguns deles, ao passo que outros foram mergulhados num caos com efeitos que acabaram por devastar ainda mais estes Estados. Naquela fase, por mais que muitos desmintam, houve quem quisesse que aqueles ventos soprassem entre nós, o que provocou um agigantar de muitos movimentos da sociedade civil, havendo entre estes supostos líderes que se quisessem martirizar para que os projectos vincassem.
A experiência de um país acabado de sair de uma guerra civil, que apenas esta semana comemorou 21 anos desde que se assinaram os acordos de paz, fez com que muitas mentes não alinhassem nestes objectivos, preferindo-se salvaguardar os valores democráticos e a imperiosidade de que qualquer que venha a ser a mudança política se observe com base no sufrágio universal. Embora prevaleça este bom senso, na defesa dos valores democráticos e da própria democracia, quando se lê determinados comentários, sobretudo provenientes de certos movimentos que se dizem cívicos e seus líderes, fica-se com a impressão de que, além das vias normais, houvesse quem ainda equacione outras na busca de uma pretensa alternância política.
Não há dúvidas de que a situação económica e social dos angolanos se tenha degradado em mui- tos lares e que o poder de compra destes reduzi- do significativamente, o que dá, sim, direito a que os populares se manifestem, pacificamente, reflectindo ou agitando tampas e panelas se entenderem. Trata-se de um processo normal de reivindicação, como ocorre noutras partes do mundo, uma situação que deve levar o Executivo a reflectir sobre os passos que vão sendo dados, assim como as soluções para o efeito.
Por outro lado, apesar do estado em que nos encontramos, não se pode normalizar nem relativizar quem o faça à margem dos preceitos legais e democraticamente estabelecidos, ofenda ou injurie as pessoas que se manifestem contrárias, cabendo a estes o direito de poderem defender o bom nome. Um direito que ninguém lhes pode coarctar como muitos supostos defensores do templo acreditam. É que estes tempos de agitação social não deixam de ser perigosos, na medida em que muitos procuram apenas pelo rastilho para atearem fogo. Por isso, a prudência ainda deve ser o melhor remédio, sobretudo para as autoridades que podem vir a ser confrontadas com novos movimentos que podem não ser tão isolados.
E a Polícia e os órgãos de defesa e segurança, cujos efectivos são vítimas de provocações e acabam por cometer determinados excessos, são os que mais se devem manter calmos, independentemente da situação em que forem confrontados ou se encontrarem. A forma como se posicionam alguns movimentos cívicos, apadrinhados e acariciados até nas redes sociais por figuras políticas de proa, poderá indiciar igualmente que existam alguns que pretendem transferir o com- bate político para estes grupos de pressão, em casa ou nas ruas, como alguém vaticinou em finais do ano passado depois das eleições gerais de 2022.