Entre 29 e 30 de Novembro, dirigentes africanos e da União Europeia vão debater sobre o futuro das relações UE-África, com especial incidência sobre a problemática do investimento na juventude.
POR: Iracelma Kaliengue
A juventude é uma das principais prioridades para África e para a UE, uma vez que 60 % da população africana tem menos de 25 anos. Os demais assuntos em agenda na cimeira que reúne as duas organizações são a paz e a segurança, a governação, a democracia incluida, os direitos humanos, a migração e a mobilidade, o investimento e o comércio, o desenvolvimento de competências
e a criação de emprego.
Sobre o fórum, Vadim João, especialista angolano em relações internacionais, afirmou que a cimeira tem lugar no momento oportuno pelo facto de se verificar alguma desatenção em relação à situação “desumana “que a Líbia atravessa.
O especialista considerou que “a comunidade europeia está a ignorar a venda de escravos na Líbia. É uma situação que não choca, por serem africanos e negros os que são vendidos como mercadoria. O contrário teria chocado o mundo” afirmou. O académico apontou ainda que as autoridades, particularmente as africanas, mostram-se indiferentes à esta situação.
E sabe- se de quem é a responsabilidade, sublinhou. Assinalou, entretanto, que a cimeira tratará de um assunto que já começou a ser abordado em Outubro do ano corrente por 36 jovens de várias nacionalidades. “O que significa que a cimeira está centrada nas problemáticas reais da juventude, como, por exemplo, o emprego, a formação e o desenvolvimento económico juvenil”.
Declarou ainda que o principal desafio foi já alcançado dado que, pela primeira vez, um país africano acolhe uma cimeira da organização criada há 10 anos. O especialista aponta a questão da emigração como uma prioridade, porque muitos jovens africanos partem para a Europa em busca de melhores condições de vida e a situação contribui para a fuga crescente de cérebros dos países africanos.
“É bom que sejam abordados aspectos ligados à política externa dos países africanos, como é o caso da resolução de conflitos em países como o Mali, Congo, Quénia e outros, com vista a uma resolução real e prática” Acentuou ainda que os apoios fornecidos pela União Europeia para estancar a onda de emigrantes africanos não têm produzido efeitos imediatos e positivos, justificando: “há mais de 10 anos que acontecem reuniões visando resolver conflitos em África e, até ao momento, não foram apresentados quaisquer resultados concretos das medidas adoptadas pelas diversas cimeiras já organizadas”
O académico acredita que o que continente precisa não é de ofertas em dinheiro, mas sim de investimento a nível empresarial no plano industrial. “África ainda não se desenvolveu do ponto de vista industrial, por isso é necessário apostar forte na industrialização e num acompanhamento para a transferência de experiência nesse sector”.
Sobre as ajudas dispensadas aos emigrantes, Vadim João considera- as descartáveis pelo facto de não produzirem efeitos duradouros. O especialista referiu que os apoios oferecidos a emigrantes e refugiados remontam à década de 80 e 90 e que, até aos dias de hoje, não são visíveis resultados significativos que justifiquem tais práticas, porque, em sua opinião, a maior parte dos emigrantes, que chegam a morrer no caminho, não se deslocam em busca de dinheiro, procurando sobretudo nos países europeus estabilidade política, educação e melhores condições de vida.
Segundo ele, é impossível tratar da questão de democratização sem olhar-se primeiro para a democratização dos 54 países que constituem o continente africano. “Para dizer que não adianta continuar com a realização de cimeiras quando os resultados não são visíveis na prática”, rematou.