Há condições para que Angola deixe de importar produtos agrícolas como a batata rena e doce, milho e produtos hortícolas, tal como acontece com os ovos, sendo, contudo, necessário criar instrumentos para que o escoamento dos produtos nacionais seja um facto, afirma o presidente da Unaca, Albano Lussati
POR: Borges Figueira
O presidente da Confederação das Associações de Camponeses e Cooperativas Agro-Pecuárias de Angola (Unaca), Albano Lussati, considera que a actual produção nacional de batatas rena e doce, milho, e produtos hortícolas, satisfaz as necessidades do mercado interno, razão pela qual o Estado pode proibir a sua importação, tal como acontece com os ovos. Segundo o presidente da Unaca, “o país produz muita batata, milho e muita horticultura, o grande problema é o seu escoamento, sendo que hoje encontramos a ser vendidos nas lojas alguns destes produtos importados e eu tenho dito sempre que estamos a adulterar aquilo em que queremos apostar, que é consumir o produto nacional, cuja oferta se encontra num nível mais ou menos equilibrado, pelo que não é correcto continuar a importar a cebola, a batata doce e rena”.
Em declarações a OPAÍS, Albano Lussati adiantou que produtos importados como a cebola, bana na e outros, são conservados com produtos químicos que muitas vezes provocam danos irreparáveis à saúde humana. Já o produto nacional vai da lavra para a mesa ou da lavra para o consumidor, pelo que o que importa é criar condições para que os comerciantes vão ao encontro do produtor. “O que se verifica hoje não é que não há produto no país, mas sim que ao consumidor interessa ver uma batata bem forrada numa boa embalagem, em despeito do facto de que nem tudo o que brilhe seja ouro. Ora, a nossa batata, que não vem num saco bonitinho, é um produto genuíno que nos dá saúde e, por outro lado, valoriza o próprio camponês ou agricultor e permite que o Estado poupe divisas que poderão ser utilizadas para a importação de outros equipamentos necessários para incentivar a produção nacional”, disse.
“Por outro lado, neste momento regista-se muita produção de milho, batata, horticultura, bem como fruticultura, sendo agora necessário criar mecanismos próprios para a comercialização, porque, muita das vezes, nós andamos mal. Já se fez chegar o ATM aos camponeses, há agora que assegurar a mobilização de meios para o escoamento da produção’, afirmou. Questionado sobre a capacidade do país para produzir produtos em larga escala com vista à substituição das importações, Albano Lussati afirmou que o grande dilema reside nos mecanismos de escoamento dos produtos do campo para as grandes superfícies. E dá como exemplo o facto de Angola ter deixado de importar ovos, não faltando por isso ovos na mesa do consumidor, o mesmo acontecendo com o limão nacional, que tem maior valor nutricional que o importado. Há uma produção em larga escala de produtos diversos, só que, infelizmente, são comercializados na sua maioria no mercado informal em condições impróprias de higiene que põem em risco a vida dos consumidores, como é o caso dos produtos que são vendidos na Praça do Sábado, na comuna da Funda, em Luanda.
Albano Lussati reconhece que o arroz é um dos produtos que se deve continuar a importar, uma vez que a produção local ainda não satisfaz as necessidades do mercado, as fazendas que apostaram na produção deste tipo de cereal ainda não atingiram os níveis desejados. Durante o ano agrícola 2017/2018 investiu-se muito na produção de milho nas regiões do Huambo, Bié e Cuanza-Sul, refere o presidente da Unaca, sendo agora necessário que se criem condições de silagem com vista à conservação desta produção – “se continuarmos neste ritmo vamos ter que cortar a importação deste cereal dentro de dois a quatro anos”, observa. Segundo Albano Lussati, a campanha agrícola 2017/2018 começou de forma satisfatória com a chegada ao país de centenas de toneladas de fertilizante para fazer face a escassez que se registava no mercado nacional. Trata-se de vários tipos de adubos que ajudam bastante no desenvolvimento das culturas e, por outro lado, para a presente campanha agrícola os camponeses beneficiaram de equipamento técnico aceitável.
A Unaca
A Unaca – Confederação das Associações de Camponeses e Cooperativas Agro-Pecuárias de Angola, fundada em Fevereiro de 1990, reúne actualmente 993.501 membros. Controla 8662 associações de camponeses com 718.325 membros, sendo 341.985 homens e 376. 340 mulheres e possui 2.115 cooperativas agrícolas com 275.206 membros, sendo 137.996 homens e 137.210 mulheres. A UNACA tem parceria com o Ministério da Agricultura, a OCPLP – Organização Cooperativista dos Países de Língua Portuguesa, Via Campesina, PROPAC – Plataforma Sub-Regional das Organizações Camponesas da Africa Central, ANAP – Associação Nacional de Pequenos Agricultores de Cuba, OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras e CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social. As parecerias visam fundamentalmente a troca de experiências e a cooperação na área da formação de lideres e quadros cooperativos, bem como nas técnicas de produção agrícola e transferência de tecnologias.