A BP apresentou as suas perspectivas para o sector, salientando-se que a procura por petróleo aumenta nos próximos vinte anos para depois estagnar, o sector do gás, e também das energias renováveis, expandem-se e o grau de crescimento da produção norte-americana é incerto.
POR: Luís Faria
A procura por combustíveis líquidos vai continuar a crescer até 2040, ao ritmo de cerca de 13 milhões de barris por dia, projecta a BP no seu relatório anual sobre o mercado energético, sempre um dos mais aguardados no sector e a que OPAÍS teve acesso. A procura deverá crescer até 2035, quando atingirá o seu pico, estabilizando a partir daí ou mesmo diminuindo ligeiramente. Em 2040, o horizonte limite do estudo, a procura mundial atingirá 109 milhões de barris diários. O impulso ao crescimento da procura vem dos países emergentes e do alargamento dos respectivos mercados, designadamente dos dois mais populosos, a China e a Índia, com a novidade de, nas previsões deste ano, a Índia ultrapassar a China como principal motor da procura.
Os países da OCDE confirmarão a tendência para o declínio das respectivas procuras por energia nas contas globais. A oferta irá crescer a um ritmo mais moderado de 11 milhões de barris por dia, reflectindo o nível excessivo da partida, em 2016. O aumento da oferta de combustíveis líquidos ficará a dever-se, nos próximos anos, ao aumento da produção norte-americana, que será responsável por dois terços do crescimento da oferta de combustíveis nos próximos 15 anos, mas, a partir de 2020, os analistas da BP antecipam que também os países produtores do Médio Oriente adoptarão uma estratégia de conquista de quotas de mercado, devendo a produção da OPEP registar um acréscimo de cerca de 6 milhões de barris por dia por volta de 2040.
O documento acentua existir um elevado grau de incerteza quanto à evolução da produção norte-americana, tanto quanto ao ritmo de crescimento como quanto à sua duração, estimando, no cenário mais favorável, que aquela aumentará até cinco milhões de barris diários nos próximos anos, com a produtividade a subir 40% nos próximos 10 anos. No entanto, os progressos, alertam os autores do documento, poderão ser ainda maiores. Os projectos de refinação planeados deverão ser suficientes para responder ao crescimento da oferta de produtos não refinados. No entanto, se países como a China ou a Índia excederam, tal como já aconteceu no passado, em capacidade de refinação da sua própria procura poderá dar lugar ao encerramento de muitas refinarias em mercados já maduros como a Europa, os países asiáticos da OCDE e algumas regiões da América do Norte.
Procura global abranda
Naquele que designa de ‘cenário evolutivo’, o relatório projecta que a procura global de energia aumentará em cerca de um terço até 2040, um claro abrandamento no ritmo de crescimento face ao observado nos últimos 25 anos. Em particular, a procura por parte do sector dos transportes registará um ritmo de evolução muito mais lento que no passado, devido aos ganhos de eficiência dos veículos construídos. A energia renovável será aquela que crescerá mais rapidamente, contribuindo com 40% para o incremento total das diferentes fontes. Por outro lado, o sector do gás natural registará um crescimento mais intenso que os do petróleo ou do carvão, o que fará com que o ‘bolo’ energético seja o mais diversificado de sempre.
O crescimento do gás natural assentará no constante aumento da procura internacional e na contínua expansão de gás natural liquefeito (LNG). No cenário ‘evolutivo’, refere o relatório, as emissões de carbono continuarão a aumentar, o que significa ‘ser necessário um conjunto de acções que cortem decisivamente com o passado’. O director-executivo da petrolífera, Bob Dudley, considerou recentemente em Londres, na abertura da Semana Internacional do Petróleo, que após ‘uma reestruturação muito dolorosa’ da indústria do petróleo e do gás na sequência da derrocada dos preços em 2014, o sector moveu-se para um patamar ‘mais normal, mas ainda cíclico’. ‘Todos nós começáramos a pensar que o petróleo a USD 100 era normal’, disse Dudley, que salientou que o negócio, na sequência da crise dos preços, ganhou em eficiência, com menos capital e menos mão-de-obra.
Junta-te a eles!
A Aramco, a poderosa petrolífera estatal da Arábia Saudita, está a ponderar exportar petróleo de xisto norte-americano para o mercado asiático, o maior em termos mundiais. Os responsáveis da petrolífera saudita, que prepara a sua abertura ao capital privado internacional, não responderam à notícia veiculada pela Bloomberg, mas também não a refutaram. Ao que parece os responsáveis sauditas fazem jus ao ditado, ‘quando não podes com eles, junta-te a eles!’. Os norte-americanos, a par do declínio das suas reservas, ilustrado no facto de o nevrálgico centro de armazenamento de petróleo de Cushing, Oklahoma, registar o seu nível mais baixo desde 2014, exportam cada vez mais petróleo, tirando partido do crescimento da procura mundial.
O que não preocupa os sauditas que, nas palavras do seu ministro dos Petróleos, Khalid Al-Falih, que acolheu bem o aumento da produção norte-americana, afirmando que a procura continuará a aumentar este ano e que a irá absorver. O problema coloca-se em 2019, a sauditas e aliados, entre os quais os russos que se mostram impacientes para pôr em marcha os seus novos planos de produção e refinação. Khalid Al-Falih reconhece que o actual corte de cerca de 1,8 milhões de barris por dia à produção definido pela OPEP e aliados deverá ser gradualmente diminuído ao longo de 2019, mas não sabe nem como nem precisamente quando. O ‘phase out’ (ou seja, como e quando sair da política de cortes) de que fala a BP e que deverá levar os países da coligação que integra a OPEP e outros dez países a orientar a estratégia para a reconquista mercado lá para 2020. Enquanto isso, o preço do petróleo, mais cêntimo menos cêntimo, mantém a recuperação. E, mais cêntimo, menos cêntimo, o Brent mantém-se perto de USD 67 por barril.