Desde Setembro de 2021, Raúl de Jesús Torres Guerrero actua como deputado migrante do Congresso da Cidade do México. Ele falou à Sputnik sobre o impacto das novas políticas migratórias do governo de Donald Trump na vida dos habitantes da capital que vivem no exterior
O novo cargo electivo, uma proposta da bancada do partido governamental Morena aprovada alguns meses antes das eleições de meio mandato, foi criado como forma de representar os residentes da capital que vivem no exterior, os quais são responsáveis por eleger o seu legislador.
Segundo Torres Guerrero, a sua função consiste em canalizar “a voz da diáspora” da Cidade do México, estimada em mais de 1 milhão de pessoas, de um total de quase 9 milhões de habitantes da populosa capital do país latino-americano.
Segundo ele, há alguns anos moradores da capital mexicana deixaram de ver os EUA como uma boa opção para se mudar ou, pelo menos, como a principal opção, como foi durante muitos anos, quando os EUA eram vistos como o “melhor lugar para se qualificar profissionalmente ou buscar maior prosperidade económica”.
O deputado justificou a mudança com o facto de que a qualidade de vida nos Estados Unidos tem caído, ao mesmo tempo que o custo de vida sobe.
Embora o tema da migração para os Estados Unidos seja, há décadas, uma questão central na vida social e económica do México (as remessas são um dos pilares financeiros do país, e os fluxos migratórios foram fundamentais para moldar a história de ambas as nações), a chegada do actual presidente, Donald Trump, trouxe uma nova atenção ao tema, tanto no debate público quanto na implementação de políticas em ambos os lados da fronteira.
Tanto no seu primeiro mandato como no início do segundo, Trump endureceu as suas posições em relação à migração ilegal, com ênfase especial nos cidadãos provenientes da América Central, Venezuela e México que cruzam a fronteira para entrar ilegalmente nos Estados Unidos.
Guerrero afirmou que as recentes acções do governo Trump em relação à migração ilegal não afectam de maneira tão directa os moradores da Cidade do México que vivem nos EUA — ao menos por enquanto.
“A grande maioria dos chilangos [gentílico informal para os habitantes da Cidade do México] que estão em território estrangeiro se encontram em situação regular, inclusive os trabalhadores da zona Sul da cidade, que vão aos EUA temporariamente com visto especial para realizar tarefas agrícolas. Então, essas acções da Casa Branca, pelo menos até agora, focadas no combate à migração ilegal, não os afectaram directamente nem colocaram as suas vidas em risco por lá”, afirma o legislador.
No entanto, Torres Guerrero admite que o medo causado pela nova política migratória de Washington e a incerteza provocada pela guerra tarifária lançada por Trump aumentou a demanda de donos de negócios que estão legalmente nos EUA por informação a respeito.
“É importante lembrar que muitos deixaram o México em busca de mais oportunidades, mas também de estabilidade económica, estabilidade nas suas vidas. As políticas migratórias e comerciais de Trump — representam o fim de tudo isso: a ausência de estado de direito, de segurança.
É um golpe duro na classe média e média-alta mexicana. O que está a acontecer é que os EUA deixam de ser uma prioridade para as novas gerações, deixam de ser o país para onde se olha para estudar, fazer um mestrado ou até mesmo para viajar como turista. É uma grande transformação”.